Maduro aposta na imagem de Chávez para confirmar favoritismo
12 de abril de 2013Aquele foi, provavelmente, o momento mais difícil da carreira política de Nicolás Maduro. Quando ele, no dia 5 de março de 2013, lutando contra as lágrimas, anunciou com voz embargada, à Venezuela e ao mundo, a morte de seu mentor, Hugo Chávez. No funeral, Maduro também se manteve à frente, acompanhado o corpo do líder em seu caminho através da capital venezuelana rumo às derradeiras homenagens, na Academia Militar.
A mensagem das fotos era clara. Maduro queria se mostrar o homem que esteve ao lado de Chávez, como sucessor legítimo e guardião de seu legado. Ou, como ele mesmo disse: "Eu sou o filho de Hugo Chávez, vou realizar seu maior sonho e criar uma pátria socialista".
Tudo isso pode ser mesmo desejo do fundador da Revolução Bolivariana. Ainda em vida, Chávez havia feito de Maduro seu vice-presidente. Antes da última etapa de seu tratamento contra o câncer, ele mesmo pediu que, caso não pudesse mais continuar no cargo, os venezuelanos fizessem de Maduro seu presidente.
E parece que o desejo de Chávez vai se tornar realidade. Pesquisas de opinião venezuelanas preveem para Maduro uma vitória folgada nas eleições presidenciais de domingo. Ele tem entre 10 e 20 pontos percentuais de vantagem, dependendo da sondagem, em relação ao líder da oposição, Henrique Capriles.
Tom áspero
O tom da campanha é áspero. Tal como o seu mestre, Chávez, Maduro argumenta ferozmente contra o adversário. Chama Capriles de "miserável", "fascista" e até mesmo fala de uma conspiração da oposição para assassiná-lo. Governo e oposição se acusam mutuamente de lançarem mão de truques sujos para tentar denegrir o oponente.
O governo tornou a eleição um referendo sobre o legado de Chávez. "Ele está bastante ciente de que Maduro não tem o carisma e a eloquência do 'comandante'", comenta o cientista político John Magdaleno. "Ele não está consolidado publicamente como um líder político, de modo que não tem escolha a não ser apostar na imagem de Chávez."
"Na verdade, o candidato não é Maduro e sim Chávez, novamente", complementa Günther Maihold, especialista em América Latina do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança. Ele diz que Maduro copia os métodos e o estilo de seu antigo chefe .
O adversário, Capriles, tenta preencher o vácuo de conteúdo. O principal tema de sua campanha é a alta taxa de criminalidade urbana, além da inflação galopante e da fraca infraestrutura.
Ao mesmo tempo, o candidato, de 40 anos, frisa que deseja continuar os programas sociais bem-sucedidos do chavismo. E ele tem boa razão para isso, pois a população quer continuidade, como lembra Heinz Dieterich, ex-assessor de Chávez. "O povo quer que os programas sociais sejam mantidos." Por isso, acredita que a maioria votará em Maduro.
De motorista de ônibus a presidente
Hoje com 50 anos, Maduro já foi motorista de ônibus e sindicalista antes de ingressar na política. Junto com a mulher, Cilia Flores, acompanhou a carreira de Hugo Chávez durante décadas.
Quando Chávez tentou, em 1992, chegar ao poder através de um golpe militar fracassado, Flores defendeu o militar, como advogada. Mais tarde, o casal lutou junto pela libertação de Chávez.
Junto com Chávez, o casal fundou o Movimento Quinta Republica. Em 1998, o movimento ganhou as eleições. Chávez se tornou presidente, Maduro, deputado e presidente do Parlamento. Em 2006, Chávez o nomeou ministro das Relações Exteriores e, em 2012, vice-presidente.
Tarefas difíceis
Caso Maduro se torne presidente, também terá que enfrentar os problemas da Venezuela: extrema violência urbana, corrupção e nepotismo em empresas estatais, alta inflação, declínio das receitas provenientes da venda do petróleo. Para Günther Maihold, o próximo presidente terá que tomar decisões difíceis. "O programa de economia dirigista, a mentalidade de subsídio, a política social, tudo isso já não é financeiramente viável", avalia.
Sem o padrinho Chávez, Maduro também terá que manter unido seu partido. "Maduro é, certamente, bastante indicado para isso", diz Günter Maihold, "Mas tenho minhas dúvidas se ele tem a estatura intelectual e política para desenvolver uma nova perspectiva para o chavismo", pondera. E também depois da eleição deste domingo (12/04), o país, com cerca de 30 milhões de habitantes, continuará profundamente dividido entre defensores ardorosos e inimigos ferrenhos do chavismo.