Maduro convoca conferência de paz, mas oposição rejeita
27 de fevereiro de 2014Na esteira das manifestações que se espalharam por várias localidades da Venezuela, o presidente Nicolás Maduro procura agora se aproximar de diversos setores para tentar acalmar a onda de protestos contra o seu governo.
Na madrugada desta quinta-feira (27/02), Maduro anunciou a instalação de uma conferência nacional de paz, recebendo no palácio presidencial, em Caracas, representantes empresariais, artísticos, religiosos e da mídia, bem como políticos apoiadores do governo, a quem detalhou os principais pontos de discussão.
"Queremos convocar todo o país a um grande diálogo histórico, político, social, filosófico, de valores democráticos, de tolerância e respeito. Uma revolução está em curso na Venezuela e vai continuar seguindo por via democrática e constitucional. Somos gente de paz", afirmou Maduro.
Mas a aliança oposicionista Mesa da Unidade Democrática (MUD), tachada de farsa por Maduro, recusou-se a participar da reunião, alertando que ela seria somente um simulacro de diálogo para acabar com os protestos contra o governo.
Há quase duas semanas, o país petrolífero vem sendo sacudido por choques violentos entre as forças de segurança e manifestantes oposicionistas, que saíram às ruas para protestar contra a insegurança, a escassez de produtos básicos e o aumento da inflação. Os protestos provocaram ao menos 13 mortos, mais de cem feridos e centenas de detenções.
Segundo o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa, ao menos 62 jornalistas foram vítimas de repressão por parte de organismos de segurança do Estado, de civis armados e de manifestantes.
Pontos da agenda
No discurso de instalação da conferência nacional de paz, Maduro elevou para mais de 50 o número de mortos. "Há 50 mortos vinculados direta ou indiretamente aos protestos. Não esperemos uma circunstância de comoção nacional para falar frente a frente. Temos que agir cedo, por isso esta conferência de paz." Na última segunda-feira, ele havia atribuído a morte de 30 pessoas a "ataques de coração e de asma" causados pelas barricadas montadas pelos opositores.
Na reunião no palácio presidencial, o governante venezuelano disse que não seria dramática a ausência de alguns setores, sem mencionar a MUD, e salientou o respeito à Constituição como o primeiro ponto de reunião. Como segundo ponto, propôs ainda o não à violência e o fim dos protestos em 14 municípios do país.
Como terceiro ponto de sua agenda, Maduro mencionou a defesa do país diante do intervencionismo internacional e destacou um pronunciamento do secretário de Estado John Kerry, afirmando que os EUA estariam preparados para normalizar as relações com a Venezuela.
Acusações de tortura e apelos do papa
Nesta quarta-feira, os EUA disseram que estão tentando melhorar suas relações com o governo venezuelano, afirmando, no entanto, que não ficarão de braços cruzados diante das falsas acusações de Caracas de que Washington estaria fomentando a violência. "Temos enfatizado que estamos tentando melhorar a relação, gostaríamos de ver uma mudança", disse Kerry, um dia após Washington ter expulsado três diplomatas venezuelanos do país.
Maduro disse que os protestos em Caracas e outras cidades do país são parte de uma conspiração "fascista" com a intenção de derrubá-lo do poder e afirmou que não renunciará. "Eu não vou renunciar a meus deveres e obrigações constitucionais de proteger o povo", disse Maduro na noite desta quarta-feira.
A oposição, por sua vez, denunciou a brutalidade desproporcional na repressão dos protestos por parte das forças de segurança e que grupos armados partidários do governo estariam atacando violentamente as manifestações. Os opositores denunciaram ainda que alguns detidos foram torturados.
Em sua audiência semanal, o papa Francisco se uniu às vozes que pedem o fim dos protestos violentos e o diálogo entre as partes conflitantes na Venezuela. "Desejo de todo coração que se cessem o mais cedo possível a violência e as hostilidades e que todo o povo venezuelano, começando pelos responsáveis políticos e institucionais, ajam em prol da reconciliação", disse o papa a milhares de pessoas na Praça de São Pedro, no Vaticano.
CA/dpa/lusa/rtr