Mainz recebe Bush sob segurança máxima
20 de fevereiro de 2005Para quem viaja entre Bonn e Frankfurt, Mainz não passa de uma cinzenta estação ferroviária, ao redor da qual vivem 200 mil habitantes pacíficos, aficionados pelo carnaval e fãs do time de futebol local, que pela primeira vez disputa o Campeonato Alemão da Primeira Divisão. Para o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, no entanto, parece ser a cidade mais perigosa do mundo.
Apesar de Bush fazer apenas uma escala de 11 horas em Mainz, nesta quarta-feira (23/02), no caminho entre Bruxelas e Bratislava (na Eslováquia), há dias a capital do Estado da Renânia-Patinado vem sendo transformada em zona de segurança máxima. Os moradores locais e viajantes estão diante de uma dura prova de paciência.
Quatro auto-estradas entre Mainz, Wiesbaden e Frankfurt serão interditadas entre as 07:00 h e 11:00 h e entre 15:00 h e 19:00 horas em ambas as direções. Prevêem-se atrasos de até uma hora dos trens e metrôs. Nas escolas de Mainz e em três colégios de Wiesbaden não há aulas nesse dia. Cerca de 1200 moradores estão proibidos de usar os terraços e só podem sair ou entrar em casa sob controle policial.
Residências situadas em pontos estratégicos serão ocupadas por atiradores norte-americanos. Ao redor da catedral e do Museu Gutemberg (que eventualmente será visitado por Bush), foram removidos vasos de flores, lixeiros e caixas de correio, que poderiam servir de esconderijo para bombas. As garagens foram esvaziadas e lacradas. O presidente norte-americano, no entanto, passará a maior parte do tempo no castelo da cidade, onde se encontrará com o chanceler federal alemão Gerhard Schröder.
"Maior risco do mundo"
O Rio Reno ficará fechado ao transporte fluvial, o espaço aéreo sobre Mainz será interditado num raio de 60 quilômetros para a aviação civil durante a visita, caças-aéreos dos EUA estão de prontidão e milhares de policiais e agentes secretos alemães e norte-americanos formam o esquema de proteção ao "homem que corre o maior risco do mundo", como diz o secretário estadual de Segurança Pública, Karl Peter Bruch.
Visitas anteriores de Bush à Europa dão uma idéia do que sua comitiva presidencial de cerca de mil pessoas (a maioria agentes de segurança) precisa para se sentir segura: em Londres, há dois anos, foi escoltada por 14 mil policiais; em Berlim, há três anos, teve a proteção de dez mil policiais.
O centro de Mainz, onde em dias normais se pode, por exemplo, bater um papo na rua com o cardeal Karl Lehmann, presidente da Conferência dos Bispos Alemães, estará sitiado. Muitas lojas serão obrigadas a fechar suas portas, por ordem policial ou porque as ruas de acesso estarão bloqueadas. O banco estadual e outras empresas deram férias coletivas (pagas) aos seus funcionários para o dia 23 de fevereiro.
Até este domingo (20/02), mais de 40 mil moradores de Mainz já haviam ligado para a prefeitura, preocupados com a paranóia da segurança e querendo saber onde e como poderão ser locomover na próxima quarta-feira. A assessoria de comunicação do prefeito tenta tranqüilizá-los, dizendo que a visita de Bush traz publicidade para a cidade, o que reverteria em lucros para o turismo.
Combatendo ratos de esgoto
Junto com a polícia local, o serviço secreto norte-americano fez um raio x à base de vídeos e fotografias do centro urbano. Funcionários da área de planejamento da Casa Branca vistoriaram minuciosamente os hospitais da região e registraram todas as vias públicas por onde a comitiva deve passar ou pode fugir. Até as bocas de esgoto foram lacradas a solda. À exceção da UTI, a clínica universitária ficará fechada para pacientes normais e está reservada para uma eventual emergência envolvendo Bush.
Nas bases aéreas da região dos rios Reno e Meno, aviões cargueiros dos EUA desembarcaram entre 60 e 80 carros blindados, helicópteros da Marinha e montanhas de equipamentos de comunicação. Na última visita de Bush à Alemanha, só o departamento de comunicação da Casa Branca enviou 200 peritos a Berlim, para montar um esquema de rádio e telefone impossível de ser grampeado. Desta vez não deve ser diferente.
Além de Mainz, Bush ainda deve visitar a base aérea americana de Wiesbaden-Erbenheim, para um encontro com soldados que voltaram da guerra no Iraque. A primeira-dama Laura Bush, que deve desembarcar na Alemanha já no dia 22, tem visita agendada ao hospital militar norte-americano em Landstuhl, o maior do gênero dos EUA no exterior.
Protestos e "tolerância zero"
Todos os 11 presidentes dos EUA do pós-guerra vieram pelo menos um vez à Alemanha – no total, foram 18 visitas desde 1945. Bush pode ter escolhido Mainz por nostalgia, já que seu pai assinou o livro de ouro da cidade há 16 anos, discursou para três mil alemães e norte-americanos e até fez um passeio de barco com Helmut Kohl no Reno.
O filho será recebido pelo movimento pacifista alemão com cartazes do tipo "Not Welcome Mr. Bush". Em cerca de 40 cidades, haverá protestos contra o presidente dos EUA, organizados por movimentos de defesa dos direitos humanos, pela Attac (adversária da globalização), o PDS (Partido Democrático Socialista, ex-Partido Comunista da RDA) e o Partido Republicano, de extrema direita.
Só em Mainz são esperados cinco a seis mil manifestantes da esquerda. Caso algum deles invada a área de segurança para ser visto por Bush, a polícia promete agir pelo mesmo princípio aplicado em Berlim em 2003: "tolerância zero", para proteger o homem que se considera "um missionário da liberdade e da democracia no mundo".