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Mais "ni hao" e menos "bonjour" nas salas de aula alemãs

Kyle James (mr)9 de março de 2006

Inglês, francês e espanhol têm sido há algum tempo prioridade nas escolas alemãs. Agora há um novo integrante no grupo: a língua chinesa aparece nas grades de horários, à medida que a economia da China cresce.

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Pode ser complicado, mas cada vez mais alunos alemães querem aprender chinêsFoto: picture-alliance/ dpa

"¿Como estás?" é comumente ouvido nas salas de aula das escolas alemãs. Atualmente, no entanto, cada vez mais alunos optam por começar as classes com "ni hao ma?" e o número não pára de crescer.

O chinês ainda não representa uma ameaça ao ensino da língua espanhola, mas cerca de 80 escolas alemãs já oferecem o curso e outras já planejam adicionar a língua falada por 1,3 bilhão de pessoas à sua grade de horários.

"Muitos jovens que começaram a ter aulas de chinês alegam ter feito a opção para seu futuro trabalho", diz Li Rong, que ensina sua língua materna no Chinese Center de Hannover. "Eles esperam conseguir empregos mais facilmente por saberem falar chinês."

Exótico, e daí?

Pouco mais de uma década atrás, a língua chinesa era considerada por muitos exótica e interessante, mas pouco útil e era tida como inexplicável. Com as reformas da China, que se aceleraram em 1993, a língua tornou-se mais interessante.

China 100 Yuan Banknoten
A economia chinesa é a quarta maior do mundoFoto: AP

Agora, com uma economia que cresceu e ocupou, em 2005, o lugar de quarta maior do mundo – logo atrás da Alemanha –, e com um mercado de mais de um bilhão de consumidores, a China é uma superpotência em crescimento. O Banco Mundial estima que o país ocupará o lugar dos Estados Unidos como líder econômico no ano de 2020.

O chinês – língua falada por um quinto da população mundial – ganhou novo status no mundo todo, e as escolas alemãs começaram a reconhecer que o futuro econômico poderá ser escrito também em ideogramas.

"A idéia de que o chinês é uma língua importante tem ganhado força", diz Tim Glaser, diretor da Associação Econômica Teuto-Chinesa. "Há poucos anos, os alunos só tinham a possibilidade de aprender chinês em aulas particulares ou como atividade extracurricular. Mas agora as escolas já estão oferecendo o idioma como matéria regular."

Interesse é aqui

Em algumas escolas alemãs, como a escola Annette von Dros Hülshoff em Münster, no Estado da Renânia do Norte-Vestfália, alunos que se preparam para a vida universitária podem escolher o mandarim (dialeto principal da China) como matéria específica.

Chinesisch als Abiturfach
Cerca de 80 escolas alemães ensinam chinêsFoto: dpa

Há três anos, a escola foi a primeira a oferecer o programa e inicialmente os administradores ficaram preocupados com o nível de interesse por parte dos alunos. Por isso, ofereceram um pequeno curso introdutório para familiarizar os estudantes com a matéria e trabalharam em conjunto com outras escolas para ter certeza de que conseguiriam alunos suficientes para formar uma classe.

"Agora está tudo indo tão bem, só os nossos alunos já preenchem as vagas das classes, que agora são dadas em paralelo com o espanhol ouo francês", diz Bärbel Dahlhaus, vice-diretora da escola. "Nós acreditamos que muitas outras escolas da Renânia do Norte-Vestfália estão interessadas em adicionar o chinês aos seus currículos. Nós recebemos várias perguntas sobre o andamento do programa."

Bärbel afirma ainda que alunos com conhecimento de chinês terão melhores chances para competir no apertado mercado de trabalho alemão. "E eu acho que isso é hoje um motivo mais importante para os pais do que para os próprios alunos", ela diz.

Só uma tendência?

Ainda não foi feito um levantamento exato sobre o número de escolas que oferecem o ensino de chinês e sobre o crescimento desta tendência, especialmente porque o sistema educacional alemão é administrado pelo Estado e, enquanto algumas escolas oferecem o chinês como parte do currículo oficial, outras oferecem a matéria como uma atividade extraclasse. De acordo com a associação dos professores de língua chinesa, as estimativas falam de 80 a 150 escolas, segundo a embaixada chinesa em Berlim.

"Os números estão aumentando e, enquanto a China continuar tendo este desempenho econômico, continuarão crescendo", diz Rüdiger Breuer, do departamento de estudos do leste asiático na Universidade Ruhr, em Bochum. "Estou convencido de que assim que acontecer uma recessão econômica, os números cairão novamente."

Breuer aponta para o fenômeno japonês da década de 1980, quando o interesse pela língua japonesa aumentou enquanto a economia do país disparava. No entanto, quando o Japão iniciou sua fase de instabilidade, em 1990, o interesse diminuiu junto com a força de sua economia. A Rússia também esteve em voga nos anos 1990, em virtude da corrida espacial.

Alemanha no ranking

Chinesisches Neujahr in Paris; Mädchen schwinkt französische und chinesische Fahne
A França é o país europeu que mais ensina chinêsFoto: AP

Enquanto a Alemanha acorda para a importância de ensinar chinês para os investidores e economistas de amanhã, países vizinhos já estão atentos a esta mudança há algum tempo. A França está na frente, com cerca de 200 escolas que oferecem chinês. Na Inglaterra, a língua já é requerida em algumas escolas. Na Universidade de Brighton, no leste de Sussex, todos os alunos entre 13 e 18 anos são obrigados a estudar mandarim, juntamente ao latim, ao francês e ao espanhol.

O diretor de escola Richard Cairns decidiu aderir à nova língua no momento em que a China tomou o lugar do Reino Unido como quarta maior economia do mundo. "Uma de nossas mais importantes tarefas é preparar os alunos para o século 21", contou ao jornal alemão Welt am Sonntag.

Cerca de 300 escolas na Inglaterra oferecem programas de intercâmbio com a China e as previsões apontam que, em três anos, mais alunos procurarão a oferta em chinês do que em espanhol.

Wulff Rehfus, diretor de escola de Düsseldorf, diz perceber que a Alemanha precisa correr atrás do prejuízo e que são muito poucas as escolas que oferecem a oportunidade hoje. Ele espera que o quadro mude, e está fazendo sua parte, introduzindo o chinês em suas salas de aula a partir de outubro.

"Parece que a China superará a Europa num futuro próximo", diz Rehfus. "É uma boa idéia que os europeus aprendam chinês, mesmo que seja só por motivos econômicos. É bom saber algo sobre a mentalidade das pessoas e sobre sua cultura quando se faz negócio com elas."