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Cinema

(ca)12 de janeiro de 2007

Estréia da comédia satírica sobre Hitler, na Alemanha, provoca confusas reações de público e elenco. Figuras como Lênin, Stálin e Hitler não devem ser tratadas de forma cômica, afirma historiador.

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A atriz Adriana Altaras, o diretor Dani Levy e o comediante Helge Schneider (d), na pré-estréia de 'Meu Führer' em Essen.Foto: AP

A discutida comédia satírica Meu Führer, do diretor suíço de origem judaica Dani Levy, radicado em Berlim, estreou na última quinta-feira (11/01) na Alemanha. Com o músico e comediante Helge Schneider no papel principal, a sátira ao ditador alemão vem provocando confusas reações no público, elenco e historiadores.

Em sua pré-estréia em Essen, na terça-feira, Helge Schneider admitiu que o longa não lhe agrada. "O filme trata somente da forma como Hitler deve ser visto, ou seja, como um fraco. Para mim, isto é profano demais", declarou Schneider, que não quis se pronunciar ao subir ao palco do tradicional cinema Lichtburg de Essen.

Procura por reconhecimento

Deutschland Presse Hitler Satire Der Bonker
Filme de animação sobre Hitler de Walter MoersFoto: picture-alliance/ dpa

Na comédia dirigida por Levy, o ator Ulrich Mühe interpreta o ator judeu Adolf Grünbaum, incumbido de preparar Hitler para um discurso de Ano Novo. Em diversas horas de aula, o ator desmascara o ditador como uma pessoa fraca, maltratada e desprezada pelo pai, que procura reconhecimento no povo alemão.

Várias personalidades da área cultural criticaram a proposta de Dani Levy de dirigir uma comédia sobre Hitler. Para Lea Rosh, criadora do Monumento do Holocausto em Berlim, o filme de Levy "suaviza o terror".

Outros, no entanto, não se opõem a um tratamento cômico da figura de Hitler. Thomas Pigor, que participou do filme de animação Adolf – Ich hock' in meinem Bonker (Adolf – Estou sozinho no meu Bunker) desenhado por Walter Moers, afirma que tal forma de tratamento é até mesmo positiva. "De certa forma, ela é necessária, porque desconstrói o mito Hitler, que ele mesmo construiu".

Reações negativas dos espectadores

Dani Levy
Dani Levy declarou que escrever um roteiro sobre Hitler foi uma forma de libertaçãoFoto: picture-alliance / dpa/dpaweb

Durante a apresentação do filme em Essen, alguns espectadores se pronunciaram negativamente quanto ao subtítulo do filme, escrito em letras garrafais: "A mais pura verdade sobre Hitler".

O filme não seria nem comédia nem sátira, afirmou um espectador de 54 anos.Uma outra pessoa de 38 anos presente na platéia afirmou ser a obra O Grande Ditador, dirigida e interpretada por Charles Chaplin em 1940, bem melhor e mais conseqüente.

Uma pesquisa da revista Stern, divulgada na última quarta-feira, constatou que a comédia de Levy desagrada à maioria dos alemães. Segundo a Stern, 56% dos entrevistados rejeitam a sátira de Hitler, enquanto 35% encaram o projeto de forma positiva. Nos novos Estados do Leste alemão, uma comédia sobre Hitler é observada de forma bem mais crítica do que no Oeste: 76% dos alemães do Leste se posicionaram contra o filme.

Lênin, Stalin e Hitler são questões científicas

Kinostarts - Mein Führer mit Helge Schneider
Helge Schneider no papel de HitlerFoto: picture-Alliance/dpa

Após a pré-estréia em Essen, o renomado historiador Hans-Ulrich Wehler apelou para que o tema Hitler seja deixado para a ciência. "O tratamento de figuras como Lênin, Stálin e Hitler está mais bem guardado pela ciência do que por uma comédia sátirica".

Wehler usou o argumento da (falta de ) compreensão por gerações posteriores para justificar um tratamento exclusivamente científico para o tema. "Os jovens não podem imaginar o que significa uma guerra de extermínio", admitiu Wehler.

O historiador explica que, com o passar dos anos, a representação pública de Hitler sofreu fortes mudanças. Cinco anos após o fim da Segunda Guerra, o inglês Alan Bullock publicou uma biografia, onde Hitler era retratado puramente como um político do poder.

Seguiram então as representações mais abrangentes de Joachim Fest e Ian Kershaw. Hitler começou a ser apresentado não mais como figura de horror, mas como uma pessoa multifacetada – uma abordagem que não houve na antiga Alemanha Oriental, explica Wehler.