Menos liberdade econômica?
26 de julho de 2003O estudo mais abrangente sobre o relacionamento entre políticas econômicas e prosperidade é elaborado anualmente pelo Instituto Fraser, do Canadá. O relatório Liberdade Econômica no Mundo examina em 123 países mais de 20 componentes de liberdade econômica, englobando desde a estrutura governamental e as políticas comerciais e financeiras até o sistema jurídico, mercado de trabalho e estabilidade monetária.
O resultado é ordenado em uma escala, que varia de zero (nenhuma liberdade econômica) até 10 (liberdade econômica total). Enquanto Hong Kong lidera o ranking com 8,6 e Singapura (8,5) e Estados Unidos (8,3) ocupam respectivamente o segundo e terceiro lugares, a Alemanha está 20º lugar com 7,3 pontos, no mesmo nível que o Chile e Ilhas Maurício.
Em 1970, quando foi publicado o primeiro estudo, a Alemanha ocupava um invejável sexto lugar. De lá para cá, nunca mais conseguiu tão boa classificação. Em 1991, ficou em décimo lugar, e, nove anos depois, em 2000, caiu para a 13ª colocação.
Exemplo perdido?
Quando a chamada Economia Social de Mercado (ESM) foi introduzida na Alemanha por seus idealizadores, Ludwig Erhardt e Alfred Müller-Armack, o mundo observou estupefato o milagre do crescimento econômico no país, na fase pós-guerra. O modelo alemão preconizava uma economia liberal consciente de suas responsabilidades sociais. Caberia ao Estado social, o outro componente do modelo, garantir a todos uma vida digna.
O que se observa nos dias de hoje, entretanto, é que tal conceito está cada vez mais distante da realidade alemã. A Economia Social de Mercado enfrenta novos desafios: aumento da taxa de desemprego, fases prolongadas de estagnação econômica, dificuldades ainda decorrentes da reunificação do país, intensificação da globalização e o atrelamento a uma União Européia com um número cada vez maior de países membros.
Força da economia informal
O crescente abuso dos benefícios sociais e o aumento da economia informal na Alemanha são aspectos que também não podem ser desconsiderados. Especialistas estimam que, em 2003, o faturamento da economia informal, que abrange várias atividades semi-legais ou ilegais, chegará ao recorde de 380 bilhões de euros. Isto representa 16,5% do PIB alemão.
Tal expectativa aponta que o atual sistema vigente na Alemanha está chegando ao seu limite, especialmente no âmbito dos benefícios sociais. Em outras palavras, reformas são inevitáveis e precisam ser implementadas o quanto antes.
Disposição para mudanças?
Uma pesquisa da Federação Alemã dos Bancos revelou que existe maior disposição para se deixar muita coisa por conta do mercado e a assumir mais responsabilidades, antes atribuídas ao Estado. Cerca de 41% dos alemães defendem maior competitividade, enquanto 37% exigem maior segurança social. A maioria, 60%, acredita que é tarefa individual, e não do Estado, garantir o bem-estar social.
O que se percebe na prática, porém, é que a cada tentativa de favorecer a iniciativa individual e diminuir o paternalismo estatal, a população levanta a voz, reclama, e não aceita mudanças.