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Merkel: pequena vitória após grande derrota

(fs)20 de setembro de 2005

Enquanto partidos costuram alianças em que todas as combinações são possíveis, candidata da CDU/CSU é reeleita líder da bancada no Parlamento alemão. Em votação estratégica, 98,6% dos conservadores dizem "sim" a Merkel.

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Merkel, com apoio do partido confirmado: sem sorrisosFoto: AP

Uma vitória previsível, e indiscutivelmente pequena diante da grande decepção nas eleições, mas que tem importância no jogo de cena democrata-cristão para elevar a candidata Angela Merkel à condição de chanceler federal da Alemanha: na tarde desta terça-feira (20/09), 98,6% dos recém-eleitos parlamentares da coalizão CDU/CSU reelegeram Angie – apelido dado a Merkel durante a campanha para amenizar sua imagem linha-dura – como líder da bancada da aliança conservadora.

A "Margaret Thatcher da Alemanha" é considerada por muitos analistas políticos a grande derrotada nas urnas, depois de conquistar apenas 35,2% dos votos para a CDU/CSU. Da maioria absoluta de março, Merkel viu-se cinco pontos percentuais distante dos 50% necessários para ser elevada à chefia de governo, mesmo contabilizados os 9,8% de votos dados ao Partido Liberal Democrata (FDP), que prega idéias neoliberais e é aliado de primeira hora da CDU/CSU.

Klaus Wowereit Weltkongress Metropolis 2005 in Berlin
Klaus Wowereit, prefeito de BerlimFoto: AP

Entretanto, a sede do atual chanceler federal Gerhard Schröder por poder já gerou desconforto até mesmo dentro de seu partido – o que é claramente positivo para Merkel. O social-democrata Klaus Wowereit, prefeito de Berlim, afirmou que uma grande coalizão entre CDU/CSU e SPD é possível, mesmo que Schröder não seja elevado à condição de premiê. "Entre certas condições, é possível, mas estas condições ainda não estão criadas", disse Wowereit.

Se a líder da CDU/CSU tem o apoio de seus correligionários, o mesmo pode-se dizer dos social-democratas. A exemplo do que ocorreu com Angela Merkel, o voto de confiança da bancada do SPD em Franz Müntefering, que permanecerá líder do partido, depois de receber 95% dos votos dos parlamentares eleitos no domingo.

Fôlego para buscar aliados

O voto de confiança do partido dá a Merkel oxigênio para o duro processo de costura de alianças para um futuro governo. Embora em política tudo seja possível, buscar consenso entre os diferentes partidos será árduo: fala-se na "união Jamaica", uma combinação de CDU/CSU (os conservadores, simbolizados pelo negro), os verdes e os liberais (amarelo), cores que coincidem com as da bandeira desse país.

Levando em conta os partidos brasileiros, seria o mesmo que PV, PFL e PL, no Brasil. Na análise das políticas praticadas pelas legendas na Alemanha, a coalizão também não faz qualquer sentido: enquanto a CDU/CSU quer reabrir usinas atômicas, a principal liderança dos verdes, Joschka Fischer, baseou a carreira na luta contra as plantas nucleares.

Symbolbild Jamaika Koalition
Alemanha e Jamaica: estranha uniãoFoto: Fotomontage/AP Graphics/DW

Mesmo que em teoria seja a hipótese mais razoável, a grande coalizão entre os dois maiores grupos políticos do país (CDU/CSU e SPD) ainda não evoluiu. Apesar de na prática ter perdido a eleição, o chanceler Gerhard Schröder (SPD) encarou os 34,2% de votos que seu partido recebeu (um ponto percentual a menos que a CDU/CSU de Merkel) como um sinal de que os alemães querem mantê-lo no poder. E já avisou: com Angie, ele não conversa.

Outras alianças, como a que juntaria SPD, verdes e liberais (apelidada de semáforo: vermelho, verde e amarelo), sofrem da mesma esquizofrenia ideológica como a que une os dois partidos minoritários à coalizão CDU/CSU. Com o Partido de Esquerda, legenda que mais cresceu na Alemanha em relação a 2002, formado por remanescentes do regime comunista da Alemanha Oriental e dissidentes radicais do SPD, ninguém quer conversa.

Novela sem fim

Com as alianças em busca da maioria no governo ainda em fase embrionária – até o momento, ninguém arrisca fazer um prognóstico definitivo sobre elas –, basicamente todas as opções continuam abertas. E é difícil prever um final para a complicada novela política da Alemanha.

Embora o mercado financeiro e os empresários estejam pedindo uma solução rápida do problema – especialmente para acalmar investidores internacionais e evitar que a cotação de commodities como o petróleo seja influenciada –, é difícil de acreditar que um novo chefe de governo seja nomeado antes da primeira sessão do novo parlamento, marcada para 18 de outubro. De acordo com a Constituição alemã, o chanceler federal é nomeado nesta primeira reunião, que tradicionalmente acontece 30 dias após as eleições.

Bildgalerie Nach den Wahlen Schröder
Schröder: do que ele ri?Foto: AP

Na prática, de acordo com as leis alemãs, tanto Schröder quanto Merkel podem chegar à chefia do governo alemão pelos próximos quatro anos. "Não é verdade que o grupo mais forte no Parlamento vá necessariamente indicar o chanceler", alertou o jurista Christoph Degenhart à rede de televisão ARD. E há um precedente histórico a ser analisado. Entre 1969 e 1974, única vez em que um chefe de governo sem maioria no Parlamento governou a Alemanha, o social-democrata Willy Brand tornou-se chanceler federal ao fazer um acordo com o FDP.

Possibilidades legais

A figura do presidente, Horst Köhler, tido como uma "rainha da Inglaterra" por muitos por causa do fraco papel que desempenha nas decisões governamentais, também ganha importância neste momento de indefinição. Se um acordo não tiver sido costurado pelos partidos dentro dos próximos 30 dias, cabe a ele escolher um dos candidatos e indicá-lo para a chancelaria federal. E Köhler não precisa escolher o candidato do partido mais forte – neste caso, tanto Merkel quanto Schröder continuam no páreo.

Para chegar ao poder, entretanto, o escolhido precisa angariar 307 votos no Parlamento. Se o primeiro candidato não conseguir atingir a maioria, uma segunda rodada pode ocorrer, possivelmente com o adversário tentando conquistar mais de 50% do Parlamento. Por fim, pode ocorrer uma terceira votação, em que Schröder e Merkel concorrerão e em que prevalecerá a maioria simples.