Polícia contra críticos do G8
11 de maio de 2007O ministro alemão do Interior, Wolfgang Schäuble, ameaçou com detenção preventiva adversários da globalização que se mostrarem dispostos a promover protestos violentos contra a cúpula do G8, que acontece de 6 a 8 a junho em Heiligendamm, no noroeste do país.
A ameaça joga mais lenha na fogueira do debate sobre o tratamento dado pelas autoridades alemãs aos adversários da globalização, desencadeado após buscas policias realizadas na cena militante de esquerda na última quarta-feira.
Em entrevista ao jornal Neue Presse, Schäuble advertiu sobre o risco de ataques terroristas na Alemanha durante o encontro. "Quando alguns dos líderes políticos mais importantes do mundo se encontram, existe um maior perigo. Tomaremos todas as providências imagináveis para garantir a sua segurança", avisou.
O ministro lembrou que, durante o encontro do G8 [grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia] em Gleneagles (Escócia) em 2005, ocorreram os "terríveis ataques em Londres".
O fato de que até agora não tenham ocorrido ataques terroristas a grandes eventos na Alemanha, como a Jornada Mundial da Juventude e a Copa do Mundo de 2006, "não é nenhuma garantia de que somos imunes a isso", argumentou Schäuble.
Segundo o ministro, as leis estaduais alemãs permitem deter preventivamente, por até duas semanas, manifestantes que sinalizarem disposição para atos de violência. "Isso não vale só para hooligans como também para os que promovem o caos", avisou.
Polícia exagerou?
O ministro também justificou as buscas policiais realizadas na cena de extrema esquerda. Na última quarta-feira, 900 agentes vasculharam 40 pontos de encontro de adversários do G8 em seis estados alemães (veja link abaixo).
A operação continua sendo criticada pela oposição e por organizações não governamentais. As medidas de "segurança preventiva" defendidas por Schäuble são vistas pelo Partido de Esquerda como "criminalização preventiva dos adversários do G8".
A ação da polícia foi completamente "exagerada, desproporcional e, em alguns pontos, ilegal", disse Sven Giegold, um dos fundadores da rede antiglobalização Attac, ao jornal Süddeutsche Zeitung. A polícia investigou também projetos que não tinham nada a ver com os protestos contra o G8, disse.
O presidente do Sindicato dos Policiais Alemães, Konrad Freiberg, manifestou-se contra uma criminalização dos adversários da globalização. "Não deve ser passada essa impressão", disse à emissora de rádio Deutschlandradio Kultur.
A porta-voz da bancada do Partido Liberal no Bundestag, Gisela Piltz, disse nesta sexta-feira (11/05) à rádio HR-Info, que "se as pessoas atingidas planejavam ações violentas, o Estado naturalmente tinha que reagir. Mas quando vejo 900 agentes de segurança completamente equipados e armados partindo para as buscas, me parece que isso é um exagero", acrescentou.
"Espionagem e intimidação"
Alguns organizadores de protestos mostram-se indignados. "As autoridades quiseram nos espionar e intimidar", disse Christoph Kleine, do Block G8, responsável pela organização de bloqueios às estradas de acesso a Heiligendamm.
"Isso foi um ataque para desacreditar nosso protesto político", disse Anna Poddig, do grupo Convergence Center, que organiza uma manifestação para o dia 2 de junho em Rostock. As autoridades estão querendo passar à população a impressão de que só criminosos e terroristas participam dos protestos, disse.
O perito para assuntos de segurança do Partido Verde, Wolfang Wieland, recomendou que a polícia distinga entre militantes pacíficos e aqueles tendencialmente violentos. "As buscas geraram uma falsa solidariedade entre os grupos", afirmou em entrevista à rádio Südwestfunk.
Tiro saiu pela culatra
"Atiramos no mato e agora vemos quem se movimenta por lá". Assim descreveu um dos investigadores ao site Spiegel Online a operação policial contra a extrema esquerda.
Mas o tiro parece ter saído pela culatra. A extrema esquerda já vê um renascimento do movimento de protestos, unindo veteranos comunistas e "guerrilheiros por prazer" ao núcleo dos manifestantes profissionais, como avaliou o jornal conservador Die Welt.
O presidente do Sindicato dos Policiais Alemães teme uma escalada dos confrontos e adverte para o perigo de uma ressurreição do fantasma da extinta organização terrorista Fração do Exército Vermelho (RAF).
A presença de ex-terroristas nas manifestações de 1º de Maio já teria sido o primeiro sinal disso. "Ainda veremos ataques de extremistas de esquerda em que eles estabelecerão um vínculo com a RAF", prevê Freiberg. (gh)