Mostra invoca fantasma do racismo
19 de junho de 2005O Jardim Zoológico de Augsburg chocou a opinião pública alemã ao inaugurar recentemente uma mostra intitulada "African Village", apesar de uma onda de protestos. "Durante cinco dias", diz o anúncio, "o zoológico vai virar uma aldeia africana". "Ourives, cesteiros e cabelereiros agrupados em uma extraordinária estepe africana". "Informações sobre a diversificada cultura e a natureza africanas bem como dicas turísticas despertam vontade de viajar". Uma aldeia africana em pleno jardim zoológico.
Revival das mostras etnológicas
Animais selvagens, jaulas e africanos – lado a lado. A combinação remete a épocas sombrias, às mostras etnológicas do Império, onde se expunham seres humanos como peças exóticas. A época colonial já passou, o racismo institucionalizado durante o regime nazista culminou com o holocausto e foi longamente refletido desde o pós-guerra até hoje. Mas a perspectiva continua.
Isso foi o que denunciou a "Iniciativa de Pessoas Negras da Alemanha" (ISD, Initiative der Schwarzen Menschen in Deutschland): "A reprodução do olhar colonial, que representava negros como objetos exóticos e seres subumanos em unidade com o mundo animal, dificilmente pode ser compreendida como uma relação cultural igualitária", declarou Tahir Della, da ISD.
Prêmio Nobel indignada
A romancista sul-africana Nadine Gordimer, prêmio Nobel da Literatura de 1991, declarou ao diário berlinense Tagesspiegel que considera o evento "inacreditável". A iniciativa Ecoterra, denunciou a diretora do zoológico. Intelectuais e organizações de diversas partes do mundo reagiram com grande indignação.
Mas a cidade de Augsburg refutou as acusações. O prefeito Paul Wengert alegou que as associações africanas "sabidamente têm dificuldade" de serem levadas em consideração. E o zoológico, como ímã de público, seria "o lugar certo" para isso. Apesar de todas as denúncias, as autoridades locais se recusam a mudar o título ou transferir a exposição para outro lugar.
Protesto em vão
Um escritório de advocacia de Berlim tentou impedir a inauguração da exposição na Justiça, sem êxito. E por fim, apesar dos protestos, a African Village abriu as portas ao público, com artesanato africano, bolsas de couro, colares de contas, bichos de madeira e vinhos sul-africanos. No Zoológico de Augsburg.