Mudanças climáticas ameaçam a vida nos oceanos
2 de fevereiro de 2013O Futurando desta semana mostra uma reportagem sobre o aumento da poluição sonora nos oceanos e mares causada pelo homem. Pesquisadores tentam desenvolver novas tecnologias para minimizar o problema, no entanto, esse é apenas um dos fatores que colocam em risco a vida aquática. Entre eles, há outros dois que são imperceptíveis à maioria das pessoas, mas que também representam uma grande ameaça: a acidificação e o aquecimento dos oceanos, ambos caudados pela emissão excessiva de dióxido de carbono (CO2).
Assim como a pesca predatória, o descarte de lixo, os vazamentos de produtos químicos, entre outros, o aumento na acidez e elevação da temperatura da água também resulta da ação humana. Mas nesse caso, de forma indireta, porque esses fenômenos ocorrem devido às mudanças climáticas – em parte pelo acúmulo de CO2 na atmosfera.
Aquecimento
A industrialização trouxe muitos benefícios para humanidade, mas também problemas, entre eles, a emissão de gases poluentes. Estes retêm o calor irradiado pela superfície da terra, potencializando o aquecimento global e, consequentemente, da água dos oceanos. Na realidade, esse processo é natural e mantém a face da terra aquecida, no entanto, o excesso desses gases aumenta o calor retido e desequilibra o meio ambiente.
O principal gás gerado é o CO2. Na era glacial sua concentração na atmosfera era de aproximadamente 200 ppm (partes por milhão), antes da Revolução Industrial era de 285 ppm e, hoje em dia, chega a 390 ppm em algumas regiões do planeta.
O oceano absorve por volta de 93% do aquecimento global, amenizando os efeitos em terra firme. Mesmo assim a temperatura no mar aumentou 0,4 ºC desde 1950.
Isso causa um fenômeno chamado de estratificação – as camadas superiores de água não afundam e não se misturam com as inferiores – e assim não há uma circulação de nutrientes, afetando a vida marinha como um todo.
Acidificação
Os mares e oceanos colaboram com o meio ambiente emitindo oxigênio e absorvendo cerca de 30% dos gases de efeito estufa no mundo. Por um lado, isso é um processo normal, já que o acúmulo de dióxido de carbono na água retarda o processo de aquecimento, mas o excesso de CO2 deixa a água muito ácida. E é isso que está acontecendo devido ao aumento da emissão desse gás na atividade industrial, na geração de energia, queimadas, etc. Nesse processo, o CO2 se dissolve na água, diminuindo o pH. A acidez impede que pequenos organismos se reproduzam e assim começa a afetar toda a cadeia alimentar aquática. Antes da era industrial o pH médio era de 8,2 e hoje é de 8,1. Uma diferença pequena, mas que já pode ser sentida por algumas formas de vida.
Além disso, o professor de biologia marinha, Jason Hall-Spencer, da Universidade de Plymouth no Reino Unido, identificou mais um agente potencializador da acidificação nos oceanos. Ele afirma que os gases vulcânicos subaquáticos também têm grande influência no aumento da acidez da água. Nos locais mais próximos à erupção do gás, o pH da água pode chegar a 7,4.
Nesse ritmo, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), estima que as águas dos oceanos poderão estar 150% mais ácidas em 2100. Mas as cadeias alimentares sofreriam grandes impactos antes disso. A começar pelo recife de coral, que é um dos ecossistemas biologicamente mais ricos e produtivos do planeta. De acordo com a Unesco, 75% dos recifes estão ameaçados pelas mudanças climáticas, incluindo a acidez e o aquecimento da água. E se não houver nenhuma ação corretiva, quase todos estarão em risco até 2050.
Os estudos mostram que tanto a diminuição no pH dos oceanos quanto a elevação da temperatura da água são fatores que alteram lentamente o mundo aquático e apesar de não atingirem grandes espécies diretamente, em princípio, toda a vida marinha está ameaçada. Isso porque cada organismo vivo faz parte da cadeia alimentar, por consequência, pequenos e grandes peixes morreriam, assim como os mamíferos aquáticos também.
Apesar das muitas pesquisas, as conclusões apontam para a mesma direção: é necessário diminuir a emissão de gases poluentes. Esse tema tem sido debatido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Criado em 1997, muitos países industrializados ratificaram o Protocolo de Kyoto, que entre outras determinações, visava à redução de emissão de CO2. Mas ainda há muita discussão a respeito, pois países como os EUA, um dos maiores poluidores do planeta, não assinaram o documento. Já na Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – realizada em 2012, prefeitos das principais cidades do mundo se comprometeram a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 1,3 bilhão de toneladas até 2030.