Mulheres conquistam a política no México
2 de agosto de 2018Quando, em setembro, o Congresso eleito se reunir na Cidade do México, ele estará registrando um avanço histórico: nunca tantas mulheres ocuparam as duas câmaras do Legislativo. Elas são 49% no Senado e 49,2% da Câmara dos Deputados, respectivamente.
Além disso, pela primeira vez uma mulher será a prefeita da capital mexicana: Claudia Sheinbaum, do partido Morena, era a encarregada de meio ambiente do antigo prefeito, Andrés Manuel López Obrador, agora eleito presidente do país.
Dos sete candidatos que concorreram à prefeitura, cinco eram mulheres. "É um avanço em relação às chances de algum dia uma mulher encabeçar o governo", comenta Belén Sanz, representante da organização da ONU Mulheres.
Num país, contudo, que segue caracterizado pelo machismo e pela obsessão com a masculinidade, que registra uma alta quota de violência relacionada ao gênero, e onde, segundo uma estatística da ONU, 2.700 mulheres foram assassinadas em 2016, há várias explicações para essa dinâmica.
Já há bastante tempo se observa o incremento da presença feminina nos postos públicos, constata Kristin Wesemann, do programa regional Democracia e Partidos Políticos da Fundação Konrad Adenauer.
"As mulheres conquistam mais espaço em posições de influência social. Nos últimos anos, o processo só se acelerou. É uma tendência global, que talvez não devêssemos mais denominar de um 'fenômeno', mas sim encarar como uma constante normal."
Já nos anos 1990, diversos estados do México começaram a introduzir quotas para candidatas do sexo feminino. Desde o fim daquela década, a lei eleitoral nacional prevê que pelo menos 30% dos deputados sejam mulheres. "Essa quota foi elevada para 20% em 2008, e em 2014 finalmente ancorada num princípio de paridade", explica Belén Sanz.
Também em outros países da América Latina a parcela de mulheres no Poder Legislativo é notavelmente alta. Segundo dados da União Interparlamentar, em junho de 2018 seis dos dez países com a maior proporção de deputadas são latino-americanos: Cuba, Bolívia, Granada, Nicarágua, Costa Rica e, em nono lugar, México.
No Brasil, a "lei das cotas" prevê que "cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo", o que na prática resulta numa minoria feminina. Ainda assim, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2016 89,3% dos candidatos sem nenhum voto eram mulheres.
Uma maior participação feminina na vida pública promove a revisão dos estereótipos e dos papéis específicos de gênero. "As pessoas não se acostumam apenas a que as mulheres tenham uma carreira, exatamente como os homens, e que se submetam aos desafios correspondentes, mas também que se tracem novos modelos e vias profissionais para as mulheres", analisa Sanz.
Na América Latina, até mesmo os cargos máximos da política já foram ocupados por mulheres. Em 2014 chegou a haver quatro mulheres presidentes ao mesmo tempo: Dilma Rousseff no Brasil, Cristina Fernández na Argentina, Michelle Bachelet no Chile e Laura Chinchilla em Costa Rica.
Embora nenhuma delas esteja mais no poder, a forte presença feminina nos parlamentos é um sinal positivo. "Na América Latina, como em outras partes do mundo, cada vez mais mulheres se tornam ativas na política. O caminho ainda é certamente longo, mas os progressos são visíveis: paridade e igualdade são as nossas metas", explica Kristin Wesemann.
Especificamente no México, a violência contra o sexo feminino continua sendo um assunto premente: o país tem a terceira maior taxa de feminicídios da região, superado apenas por Honduras e El Salvador.
"Algumas das mulheres que agora se alcançam posições de liderança no México se engajam nessa problemática. Mas trata-se de um tema que precisa ser abordado tanto pelos homens quanto pelas mulheres", frisa a especialista da ONU. E Belén Sanz acrescenta: "A participação dos homens é indispensável, para se obter um progresso normativo."
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