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Mulheres fortes representam Alemanha em Veneza

lk27 de agosto de 2003

Longa-metragem de Margarethe von Trotta, que resgata episódio histórico de resistência ao nazismo, é o único filme alemão a participar da concorrência no Festival de Veneza deste ano.

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Margarethe von Trotta está praticamente "voltando para casa", com a apresentação de seu novo longa-metragem no Festival de Cinema de Veneza. Foi lá que a diretora alemã, agora com 61 anos, conquistou um Leão de Ouro, em 1981, com Os anos de chumbo (Die bleierne Zeit).

Rosenstrasse

, para o qual a cineasta precisou de quase dez anos — por causa de dificuldades no financiamento —, resgata, como outras obras suas, um episódio histórico e é um filme sobre mulheres fortes. "Quero investigar a história alemã do século 20 nos meus filmes", declarou von Trotta recentemente. E o faz servindo-se de sua enorme curiosidade pelas pessoas e suas histórias.

Resistência feminina

Dá nome ao filme que agora concorre em Veneza uma rua no bairro Mitte de Berlim — a Rosenstrasse —, onde mulheres arianas se juntaram para protestar contra a deportação dos maridos judeus para os campos de concentração. O punhado inicial logo engrossou-se por meio da adesão de centenas de outras mulheres, judias e não judias. O pedido ainda hesitante de uma delas — "Quero meu marido de volta!" — vai se transformando num coro cada vez forte — "Queremos nossos maridos de volta!".

Margarethe von Trotta
A diretora em açãoFoto: www.goethe.de/uk/ mon/

Por fim ocorre o inesperado: os maridos são soltos. A Gestapo chega a buscar de volta alguns dos homens que já haviam sido transportados para Auschwitz. Entre os historiadores, não existe consenso sobre se os judeus foram libertados em função da pressão das mulheres, ou se sua deportação não havia sido prevista e eles tinham sido detidos apenas para realizar trabalhos na própria capital.

Um detalhe que para a cineasta não tem a menor importância: "O filme trata de mulheres que têm coragem de protestar, apesar do medo que sentem". É a história de pessoas que amam incondicionalmente e dispostas a fazer de tudo por este amor.

Filme difícil

Composto de inúmeros flash backs e narrados sob diferentes perspectivas, não é um filme fácil e, com 135 minutos de duração, também um tanto longo. Agora a cineasta está até contente que tenha demorado tanto para poder produzi-lo. Dez anos atrás, pouco depois da queda do Muro, as pessoas queriam mesmo esquecer a história, diz ela. Foi a época em que o cinema alemão se sobressaiu com inúmeras comédias, lembra. Agora que os tempos andam mais difíceis, o pessoal se dedica de novo a coisas mais sérias.

Rosenstrasse

foi rodado em parte na rua montada nos estúdios de Babelsberg que já serviu de cenário a O Pianista, de Roman Polanski. Só que o orçamento das duas produções é incomparável. O Pianista custou 36 milhões de euros, Rosenstrasse precisou se contentar com seis milhões. "Impossível conseguir que tudo saia perfeito", suspira von Trotta.

Diante destas perspectivas, não é de se contar com um novo Leão de Ouro, prêmio que o cinema alemão conquistou pela última vez em 1982, com O estado das coisas (Der Stand der Dinge), de Wim Wenders.