Quebra-cabeça de emoções
28 de junho de 2003Alemanha, 11 de setembro de 2001: os personagens principais acompanham pela tela da TV a catástrofe no World Trade Center e reagem, cada qual, de forma diferente. Uma jovem mãe tenta desesperadamente dar continuidade a festa de aniversário de seu filho. Enquanto isso, um paquistanês desperta a desconfiança de sua namorada grávida ao receber um grupo de amigos para uma confraternização em um restaurante.
Em um ponto diferente do país, um escritor é acometido de um súbito bloqueio de idéias antes de ser tomado por uma onda de inspiração. Um policial, que sempre diz ou faz coisas na hora errada, vê sua vida desmoronar. Em outra situação, uma apresentadora de TV, preocupada com seus problemas pessoais, mal consegue ler a notícia da tragédia americana.
Baseado na realidade
Setembro busca reportar o impacto dos atentados nos Estados Unidos, que influenciaram os acontecimentos mundiais, à realidade alemã. O cineasta Max Färberböck teve a idéia de fazer este filme poucos dias depois da catástrofe, quando se propôs a redigir um roteiro em apenas quatro semanas.
Para tanto, convidou os autores John von Düffel, Sarah Khan, Matthias Pacht e Moritz Rinke, entre outros, para que tratassem individualmente de cada um dos quatro enfoques que fazem parte do longa.
"Todas as histórias do filme são baseadas em fatos reais", garantiu o diretor, salientando que a mistura de emoções e desorientação apresentada no longa é proposital e reflete a perplexidade que a tragédia causou na humanidade.
Quebra-cabeça
"Desde o começo o filme foi considerado experimental", explicou Färberböck, que desta forma justifica o estilo nada convencional - e pouco comercial - de sua obra. Os episódios não são contados em seqüência, nem intercalados de forma lógica.
Como um quebra-cabeça, o filme é uma colagem de cenas fragmentadas mescladas com imagens originais dos atentados. A falta de compromisso com a harmonia e a ausência de movimentos suaves de câmera tem o intuito de repassar ao público as rupturas provocadas pelo acontecimento.
Elogios e críticas
O estilo não deixa de causar polêmica. As cenas entrecortadas por vezes parecem muito pequenas em relação à dimensão dos atentados, como se os autores tivessem se preocupado apenas com os detalhes, sem pensar no filme como um todo.
Apesar das críticas, Setembro é um filme ousado que conseguiu algo raro no cinema alemão: ser apresentado no festival de Cannes. Com um elenco de peso, o longa promete ser a sensação cultural do verão 2003 na Alemanha.