Museus sacodem o pó e vencem a crise
12 de maio de 2003Ir ao museu está de novo na moda. Com razão: as casas têm se movimentado, conseguindo revolucionar sua imagem. Longe vai o tempo em que visitar o museu significava adentrar um prédio com o charme de uma repartição da previdência social, passar por vigias mal humorados, até poder admirar objetos enigmáticos e empoeirados, guardados em salas sinistras. Museus desse tipo ainda existem, mas seu número diminui a cada dia.
A reviravolta é uma reação à tão decantada crise dos cofres públicos, que chegou para ficar um bom tempo. A área cultural cada vez mais parte do princípio de só quem se considerar como um prestador de serviços, de olho na clientela, sobreviverá. Nos últimos anos, os museus começaram por prolongar os horários de abertura, empregar pessoal mais bem treinado e reciclar velhas exposições, apresentando-as como novidades. Seguiram-se placas informativas mais dignas desse nome, ofertas interativas e a inauguração de cafés chiques e outros anexos.
A mais nova moda são os "eventos no museu": festas, jantares à luz de vela ou as "longas noites dos museus". Nestas, a entrada única dá direito não só a conhecer um sem número de instituições museológicas, como ao uso dos ônibus e e a participar de shows e eventos especiais, madrugada adentro. Trata-se uma forma eficiente de expandir barreiras de interesse e de literalmente "mostrar o caminho" do museu.
A sala de exposições como microcosmo
A Alemanha tem cerca de 5900 museus. Alguns tão veneráveis quanto o Museu Alemão, de Munique, que completou o centenário nesta segunda-feira (12). Apesar de todos os cortes e ameaças a sua existência, em 2002 eles bateram recorde, atraindo 111 milhões de pessoas.
A luta pela bilheteria tornou os organizadores mais criativos, incansáveis tanto na procura de novos conteúdos e formas para as mostras, assim como na de patrocinadores e parcerias inusitadas. As casas européias de mais recursos têm se encarregado de redefinir o conceito de exposição, ampliando sua abrangência e enriquecendo-o com elementos multimidiáticos e interdisciplinares, envolvendo praticamente os cinco sentidos.
Tróia – sonho e realidade
, de 2000-2001, por exemplo, ia bem além de uma excursão pela Ilíada de Homero e da apresentação de informações detalhadas e numerosos objetos, ilustrando aspectos históricos e arqueológicos da cidade legendária. A mostra penetrava nas fantasias em torno desse mito, da Antigüidade a nossos dias, expressas na arte e literatura. Além disso permitia ao visitante ainda explorar visualmente uma Tróia virtual, reconstituída em computador pela Universidade de Tübingen. Ou vivenciar a releitura do mito troiano no teatro moderno ou por Hollywood.Em cartaz em Graz, na Áustria, até o início de outubro, a mostra A Torre de Babel – Origem e multiplicidade da língua e da escrita é talvez ainda mais ambiciosa, enfrentando o risco de saturar o visitante com tantas impressões e informações. Tomando como ponto de partida o mito bíblico, ela ilustra centenas de aspectos de uma das mais complexas manifestações humanas: a linguagem. Para tal não poupa meios multimídia como instalações sonoras por satélite e até espectógrafos. Seu catálogo dá uma boa noção do grau de complexidade envolvido: ele ostenta nove quilos, distribuídos em quatro volumes.
Estratégias inteligentes
Confirmando a máxima de que "de graça, até injeção na testa", muitas vezes tem bastado oferecer um bônus aos freqüentadores em potencial para povoar as salas de exposições. Isso demonstram os "cafés da manhã no museu", aos domingos, quando o ingresso também dá direito a um desjejum ligeiro.
O jornal Kölner Stadt Anzeiger, de Colônia pôs em prática uma outra estratégia bem sucedida. Em seu suplemento de fim de semana apresenta uma das casas de exposições da cidade, oferecendo um cupom de entrada franca. O resultado tem sido casas cheias e clientes satisfeitos. Além de bem informados.