Aids: cura próxima?
4 de agosto de 2008A aids atinge atualmente cerca de 33,2 milhões de pessoas, a maioria em países da África subsaariana. Na Alemanha, há cerca de 59 mil infectados, segundo o Instituto Robert Koch, e o número de infecções está crescendo, sobretudo entre a população feminina e infantil.
Mas, desde a identificação da doença há 27 anos, muitos avanços foram feitos e atualmente três milhões de pessoas recebem tratamento – fato que seria impensável há quatro ou cinco anos devido ao alto custo da terapia.
Hoje em dia, medicamentos genéricos possibilitam um tratamento a um custo de 100 dólares ao ano por paciente em países como África do Sul, Índia, Brasil e Tailândia, o que num país desenvolvido como a Alemanha custaria entre 10 mil e 15 mil euros ao ano.
A DW-WORLD.DE conversou com o médico alemão Hans Jäger, um dos pioneiros na pesquisa sobre a doença, que apresentará os principais avanços e desafios durante a 17ª Conferência Internacional sobre a Aids, que vai de 3 a 8 de agosto na Cidade do México. Otimista, ele acredita que a ciência está muito próxima de encontrar uma cura para a doença.
DW-WORLD.DE: Passados 27 anos do descobrimento da aids, quais são as expectativas de uma possível cura?
Hans Jäger: No princípio, a doença era intratável e os pacientes morriam relativamente rápido. Em meados dos anos 90, chegamos a novos tratamentos por conta de um maior conhecimento da forma como o vírus se prolifera e da possibilidade de identificá-lo na corrente sangüínea.
O objetivo agora é encontrar uma cura para a doença, erradicar o vírus do corpo ou reprimi-lo de forma que não cause mais dano ao portador. Acredito que estamos perto de alcançar a cura, pois os avanços que obtivemos são muito maiores que os de quaisquer outras doenças graves. E porque agora temos medicamentos com os quais podemos oferecer aos pacientes terapias mais avançadas e eventualmente até curá-los.
Qual a razão principal que o leva a acreditar na cura da doença?
Se analisarmos os progressos obtidos nos últimos cinco ou seis anos e os extrapolarmos para o futuro, teremos chegado a esse ponto. Falta um pequeno passo. Tratamentos modernos fazem o vírus praticamente desaparecer do corpo humano em 80 ou até mesmo 90% dos casos. Mas, se o tratamento for suspenso, o vírus volta a aparecer.
No ano passado, foram autorizados novos medicamentos para o tratamento só de pacientes que já se encontram em estado avançado da doença. Se estes medicamentos forem usados desde o princípio, como terapia padrão, daqui a sete ou oito anos poderemos de fato alcançar a cura. Pelo menos assim prometem dados e estudos mais recentes.
Quais projetos o senhor apresentará na 17ª Conferência Internacional sobre a Aids, na Cidade do México?
Pediram-nos que apresentássemos dez projetos, vou mencionar os mais importantes. Um deles, que vem recebendo muita atenção internacional, é um medicamento homeopático desenvolvido originalmente no Brasil e que está sendo testado na África do Sul.
Mesmo com ceticismo da nossa parte, fizemos testes piloto com o medicamento na Alemanha e nossa conclusão foi que, ao ser tratado com medicamentos regulares, o sistema imunológico dos pacientes não apresentava uma melhora satisfatória. Mas melhorava muito com o uso regular do remédio homeopático num período de vários meses.
Outro estudo que será apresentado é o desenvolvimento de câncer em pacientes com HIV. Foi concluído que pacientes soropositivos têm propensão a desenvolver uma segunda doença, tal como o câncer de pulmão, não necessariamente derivada da aids ou relacionada a ela.
A crescente expectativa de vida dos pacientes também é outro ponto importante a ser mencionado na conferência. Logo, a maioria deles terá ultrapassado os 50 anos de idade, alguns chegam inclusive aos 70 ou 80 anos. Neste projeto, mostramos que é possível reprimir o vírus em pacientes mais velhos, embora o sistema imunológico deles não reaja tão bem.
Quais são novos desafios na pesquisa da aids?
Existe uma série de novos desafios e um dos mais importantes são as vacinas. Não teremos nos próximos dez anos uma substância que poderemos aplicar mundialmente para prevenir novas infecções, por mais que ela seja extremamente necessária. Infelizmente, muitos estudos nesse sentido foram cancelados recentemente.
Porém, há novas possibilidades da medicina biológica para evitar novas infecções. Temos casos de pacientes que reagiram bem à terapia e nos quais já não mais se detecta o vírus, ou seja, já não contagiam outras pessoas. Até mesmo das secreções genitais o vírus praticamente desaparece. Uma equipe de pesquisadores suíços fez um importante estudo a respeito, que será discutido intensamente no México.
Mas o maior desafio e também o ponto de maior interesse de meus pacientes é quando será, de fato, possível curar a doença – o que considero uma expectativa realista.