Músicos brasileiros mostram do rap ao brega em festival latino em Berlim
14 de junho de 2013No primeiro festival Berlin Latin Sound (BeLaSound), o Brasil tem presença forte com um repertório que vai do rap ao brega, passando por pop, rock e soul e desfila nomes consagrados, como Ed Motta, e menos conhecidos do grande público, como Odara Sol, que vive na capital alemã desde 2007.
Os músicos brasileiros deverão mostrar a diversidade do atual cenário musical do país num evento que se autodefine como "o maior festival cultural teuto-latino que jamais foi organizado na Alemanha", se concentra no "estilo de vida latino" e, além dos shows, tem oficinas de dança, capoeira e percussão.
"A mistura é a grande marca do Brasil. Sempre me interessei pela diversidade e pela nossa história musical. É natural que minha música seja uma mistura do passado e presente, mas apontando para o futuro", disse o músico paraense Felipe Cordeiro em entrevista à DW Brasil. Ele toma conta do palco do BeLaSound neste domingo (16/06).
Essa é a segunda vez que Cordeiro se apresenta em Berlim. No ano passado ele tocou no primeiro evento de tecnobrega da Alemanha, "no Worldtronics, que era mais voltado para a música eletrônica. No BeLaSound faço um show menos eletrônico", disse o paraense, antes do início do festival.
"O teatro me libertou para o palco, até então eu só queria ser compositor. Hoje interpreto minhas próprias músicas", afirmou Cordeiro. O show em Berlim é baseado no repertório de seu álbum Kitsch Pop Cult. "Estou com vontade de tocar novas músicas, talvez isso aconteça nesse show de Berlim", disse. O artista se considera a superação e a interação do pop, do cult e do brega. "Faço música pós-brega", explicou.
Clássicos e novidades
Nesta sexta-feira (14/06), o festival começa com a apresentação de Ed Motta, que mostra clássicos e músicas de seu novo disco, AOR. Outro destaque é a paulistana Odara Sol, que descobriu sua paixão pelo canto ainda menina, assistindo a uma apresentação da cantora norte-americana Whitney Houston na televisão. Em São Paulo, ela começou a cantar e compor, passando por diversos estilos como o rock, mas sempre voltando para o hip hop e a música urbana que embalava a periferia da cidade onde vivia.
Com suas influências que vão do soul à música brasileira, passando por experimentações contemporâneas e em busca de novas experiências, ela trocou São Paulo por Berlim em 2007. Desde então, ela já se apresentou ao lado de conhecidos nomes da música alemã, como o rapper Samy Deluxe e Miss Platnum. No festival, Sol se apresenta ao lado de Johnny Strange, da banda berlinense de reggae e hip hop Culcha Candela, e deve mostrar algumas músicas de seu trabalho solo.
Em Berlim, o DJ e produtor carioca Marcelinho da Lua apresenta um set que mistura música brasileira com batidas eletrônicas. Depois de passar anos trabalhando como técnico de estúdio, Marcelinho ganhou destaque com a banda Bossacucanova. Desde os anos 1990, ele atua como DJ e foi um dos pioneiros na mistura do Drum and Bass com MPB. Seus dois discos como produtor, Tranquilo (2004) e Social (2007), contam com participações de grandes nomes da música brasileira como Seu Jorge, Martinho da Vila, Ed Lincoln e BNegão.
Rapper Emicida mescla samba a novo repertório
O rapper Emicida volta a Berlim no sábado (15/06). O show no BeLaSound faz parte parte da turnê europeia, que passar ainda por Heidelberg e Frankfurt, na Alemanha, e Zurique, na Suíça.
Emicida chegou a Berlim animado depois de três apresentações em Portugal, incluindo a abertura do show do rapper norte-americano Mos Def. "Foi legal não ter a barreira da língua. Tocamos em Braga e quase não tinha brasileiros na platéia, mas as pessoas conheciam as músicas. Tivemos uma ótima recepção", disse o rapper, em conversa com a DW Brasil.
"Quando estamos no palco com uma apresentação tão impactante quanto a nossa, não medimos se o público está curtindo quando estão todos com as mãos para cima. Em Portugal, o pessoal ficava prestando atenção nas músicas e quando elas acabavam, o público explodia. Eles entendem a parada", disse Emicida.
Em Portugal, ele pôde conhecer pessoalmente alguns dos rappers locais e entrar em um contato mais direto com o hip hop feito na África. "Fui muito reconhecido na rua pelos africanos. Eles falaram que eu tenho que descer urgente lá para Angola. Foi uma grande surpresa. É legal fazer uma análise de como o mesmo idioma se desenvolve em diferentes culturas. Isso me ajuda muito a crescer musicalmente."
Emicida apresenta músicas do primeiro disco oficial, já gravado e ainda sem nome, que deve ser lançado até o final do ano. A primeira amostra do novo trabalho, o vídeo da música Crisântemo, traz um Emicida sóbrio, fazendo uma mistura de samba e rap. "A música é um flerte com o samba de São Paulo. Eu me divirto e amo viver lá, mas não tem como fugir que São Paulo é a cidade cinza e tem esse lado sombrio. Essa foi a música mais tensa que eu fiz, mas o disco traz uma grande variedade. A escolha foi para mostrar que o disco vai ser realmente algo diferente", explicou.
Além de novas músicas, Emicida se apresenta com uma banda completa: percussão, violão, cavaco, guitarra e baixo. "Conseguimos imprimir um swing que eu sentia falta. Geralmente show de rap tende para o rock ou o jazz, eu queria que o meu entortasse para o samba. Me sinto mais à vontade cantando nessa cadência. A textura se mantém e o swing corre. O show está mais espontâneo e livre. Isso facilita a comunicação com a platéia", afirmou o paulistano.
Os artistas brasileiros dividem o palco do festival com os franceses Nouvelle Vague, os percussionistas do Les Tambours du Bronx e Louis Bertignac, conhecido como o Keith Richards (guitarrista dos Rolling Stones) francês. Alex Cuba, duas vezes vencedor do Grammy, mostra sua mistura de jazz latino e pop ao lado de uma das principais bandas de salsa da atualidade, os colombianos do Monsieur Periné.
O festival BeLaSound acontece no YAAM (mistura de bar e clube de praia), em Berlim, de 14 a 16 de junho.