A conquista do eleitor
28 de setembro de 2010A menos de uma semana do fim da campanha eleitoral, os candidatos à presidência entram na fase "ou tudo ou nada". O ataque pessoal entre os concorrentes, as falas e gestos medidos para cada momento e para cada tipo de espectador dão um calor diferente à disputa. Mas como é que se conquista um voto?
Resultados de pesquisas de opinião dificultam uma interpretação clara de como o programa de governo, os slogans de efeito e a aparência pessoal influenciam a escolha do brasileiro. Enquanto uma pesquisa do Instituto Datafolha mostrou que 45% dos eleitores consideravam José Serra o mais preparado para governar o Brasil, Dilma Rousseff continua liderando as intenções de voto, com 49%, segundo pesquisa do mesmo instituto feita em 24 de setembro último.
Às vésperas da eleição brasileira, os ataques pessoais são uma estratégia que apimenta a disputa pelo voto. Na Alemanha, as críticas são menos pessoais e mais focadas na habilidade de governar do político: "O que as pessoas buscam de fato é desqualificar os adversários quanto à sua competência para governar ou para fazer negociações, ou tomar decisões. É o que tem acontecido recentemente, com denúncias sobre a falta de espírito de liderança da Merkel", avalia o pesquisador Sergio Costa, professor da Universidade Livre de Berlim.
A vida pessoal dos candidatos na Alemanha também entra em discussão, mas sob outros aspectos: se os candidatos foram membros da Stasi ou não, por exemplo. Já no Brasil, o fato de Dilma ter sido guerrilheira no passado não é decisivo para o eleitor. O que repercute mais no imaginário das pessoas são os jingles veiculados em horário nobre da televisão brasileira, com adjetivos pejorativos e tiradas sarcásticas.
Escolha do voto
“Apesar de o marketing eleitoral no Brasil ser tão desenvolvido no sentido de projetar as pessoas e colocá-las em evidência, o eleitor no fundo quer saber quem vai atender melhor os interesses pessoais e de grupo, e nesse sentido ele é igual ao eleitor alemão”, avalia Sergio Costa.
No entanto, a abordagem no Brasil é muito mais personalizada: os candidatos se esforçam para se mostrar ao eleitor como pessoas confiáveis, que defendem os interesses certos e vão implementar eficientemente os seus planos, além de desempenhar um papel de liderança importante.
Na Alemanha, a população tende a rejeitar lideranças populistas, como lembra Sergio Costa. Depois da história traumática do país em torno da figura de Hitler, a ênfase recaiu sobre o teor do programa político. "Antes de ser uma disputa em torno do 'quem', é uma disputa sobre o que fazer. E cada partido tem uma plataforma para definir o que é prioritário e como isso pode ser feito. Se um partido conseguir mostrar para o eleitorado que aquilo que ele está propondo é o mais importante a ser feito, ele ganhou metade da eleição", afirma Costa.
Na realidade brasileira, os temas tendem a ficar em segundo plano. "Durante a campanha eleitoral, a competência individual entra em jogo para realizar não se sabe exatamente o quê. Quer dizer, isso se discute depois", compara o pesquisador. O plano de governo proposto pesa menos no caso brasileiro: o que se analisa não é exatamente o que o político diz, mas como ele se apresenta e se credencia como alguém capaz de levar suas ideias adiante.
O peso da aparência
Nos dois países, a aparência influencia o prestígio, o poder e a confiança que os candidatos transmitem, mas as razões são diferentes.
Como no Brasil a maneira como a política é feita passa fundamentalmente pela televisão, o cabelo, a roupa e o sorriso têm um forte impacto na escolha. Os três candidatos a presidente zelam por uma boa aparência pública. Dilma, por exemplo, repaginou o visual antes de lançar sua candidatura.
Na Alemanha, os candidatos buscam, em sua apresentação pessoal, se identificar com o eleitorado ao qual está se dirigindo. “Se um politico do Partido Verde aparecesse com um carro de 300 cavalos, movido a gasolina, por exemplo, isso seria teria uma repercussão muito ruim entre seus simpatizantes", considera Sergio Costa.
A obrigação
E ainda: o voto entre os alemães não é obrigatório. Esse fator também exerce um grande papel na escolha do representante político, tanto na Alemanha como no Brasil. O eleitor brasileiro se sente no dever de tomar uma decisão, de não votar em branco ou nulo.
Na Alemanha, qualquer movimento em falso pode desanimar o eleitor a dar sua opinião nas urnas, como ressalta o cientista politico Karl-Rudolf Korte. Um fator importante antes das eleições é o partido explicitar quais eventuais coligações de governo ele estaria disposto a fazer ou não: "Quando não está claro para o eleitor o que virá depois de ele ter dado o seu voto, a motivação de participar da eleição cai. Principalmente os pequenos e médios partidos são aconselhados a sinalizar, ao menos, as alianças políticas que ele cogita."
O brasileiro, na maioria esmagadora dos casos, não vota em partidos politicos. A legenda pouco influencia a corrida eleitoral. Há casos excepcionais, no entanto: quando se trata de uma eleição em que o presidente mais popular da história pede o voto para a candidata de seu partido. Ao que tudo indica, nessa situação a indicação é infalível.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Simone Lopes