Nascido há 450 anos, Galileu Galilei transformou o conceito de mundo

O grande cientista Galileu Galilei poderia ter passado a vida tranquilamente na região italiana da Toscana entre oliveiras e pinheiros, cercado de bom vinho. Mas o caráter colérico e a curiosidade reservaram ao famoso astrônomo, matemático, físico e filósofo um lugar na História. Mesmo 450 anos depois do seu nascimento, em 15 de fevereiro de 1564, ele continua sendo um importante nome no mundo científico.

Do pai, músico, Galileu herdou a mesma paixão pela matemática. Quando conseguiu avançar no desenvolvimento do telescópio, criado na Holanda, ele fez observações curiosas: a lua possuia uma superfície que lembrava "mares", cheia de crateras, o sol tinha manchas. Saturno era disforme, Júpiter era rodeada por três "luas" e a Via Láctea não era uma névoa, mas sim um aglomerado de estrelas.

Ele viu ainda que Vênus tinha diferentes fases e, com isso, entendeu que poderia comprovar que o planeta girava em torno do sol –e não ao redor da Terra. Galileu insistiu no heliocentrismo, que define que o sol está no centro do universo. O planeta Terra seria apenas um em meio a vários que giram em torno da estrela maior.

O pensamento não era novo. Nicolau Copérnico, no início do século 16, defendeu o heliocentrismo, mas não conseguiu comprovar sua teoria de maneira empírica. Ainda não havia maturidade científica naquela época para percepções que relativisasse o papel do homem e de Deus, afinal, essa seria uma ideia muito contrária àquela descrita na Bíblia. Mais tarde, o psicanalista Sigmund Freud denomina descobertas como essa, que impõem uma autocompreensão humana, como "ferida da humanidade".

Gênio da matemática

Galileu morreu aos 78 anos. Desde cedo, estava ciente de sua origem simples. Ainda assim, ele se considerava um gênio, um verdadeiro gênio dos cálculos – mesmo tendo interrompido o curso de Matemática.

O italiano era filho de seu tempo, em um momento em que a Europa acabara de se libertar do pensamento da Idade Média e refletia sobre as conquistas e as tradições da Antiguidade. Os humanistas colocavam agora o homem, e não Deus, no centro de suas reflexões. Em vez de especular acerca do sobrenatural, eles observavam a natureza. Tudo era medido, calculado, experimentado. E assim Galileu viu despertar seu interesse pelas ciências naturais – e exerceu uma influência decisiva sobre ela.

Ele foi docente nas Universidades de Pisa e de Pádua, deu aulas particulares mais tarde na casa da influente família Médici – fato que impulsionou sua carreira. Florença nesta época se transformava em polo de um novo conceito de vida.

Aristóteles pra trás

Galileu era considerado uma pessoa difícil e autoritária. "Ele não evitava brigas e tampouco economizava elogios a si mesmo nas próprias encenações", diz Wilhelm Schmidt-Biggeman, professor de História da Filosofia, em Berlim. E o cientista se considerava grandioso. "Ele queria descartar a filosofia aristotélica e desenvolveu para isso uma filosofia natural mecânica", afirmou.

Enquanto Aristóteles enxergava o movimento como algo orgânico, que cresce por uma força interna, Galileu o interpretou como um fenômeno mecânico. Sua conclusão: movimentos terrestres e celestes são regidos pelas mesmas leis – e podem, com isso, ser estimados.

Contrariando a Igreja

A poderosa Igreja Católica mostrou-se pouco animada com a nova imagem de mundo apresentada por Galileu. Por duas vezes, o cientista foi convocado no Tribunal de Inquisição. Sob tortura, ele voltou atrás. Por fim, o cientista foi condenado apenas à prisão domiciliar – também neste caso, a proximidade com a família Médici ajudou. Ele cumpriu sua pena em uma bela mansão em Florença, onde morreu no dia 8 de janeiro de 1642. Ele só foi reabilitado pela Igreja em 1992.

Muitos dos conceitos desenvolvidos por Galileu são válidos até hoje. "O mais importante desenvolvido por ele é a matemática dos movimentos, construída com observações por meio de um telescópio – que também tem algo a ver com astronomia", afirma Schmidt-Biggemann. Com Galileu, o cosmos passou a ser objeto da ciência. Com relação a cálculos e técnicas, porém, o italiano não se tornou o rei da verdade. E muitas de suas ideias permanecem controversas até hoje.