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Netanyahu retira pedido de imunidade e é indiciado

28 de janeiro de 2020

Procurador-geral acusa formalmente primeiro-ministro de Israel de fraude, recebimento de propina e abuso de confiança, horas depois de ele retirar seu pedido de imunidade ao Parlamento. Político nega as acusações.

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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu
Netanyahu diz ser vítima de uma caça às bruxas por motivos políticosFoto: picture-alliance/AP Photo/European Pressphoto Agency/A. Sultn

O primeiro-ministro em exercício de Israel, Benjamin Netanyahu, foi formalmente acusado nesta terça-feira (28/01) de fraude, recebimento de propina e abuso de confiança, horas depois de retirar seu pedido de imunidade parlamentar.

A acusação ocorre no momento em que Netanyahu está em Washington para uma reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para revelar um novo plano de paz americano para o Oriente Médio – mais especificamente para o conflito entre Israel e Palestina.

O procurador-geral de Israel, Avichai Mandelblit, apresentou a acusação ao tribunal distrital de Jerusalém, onde Netanyahu será julgado por corrupção ligada ao recebimento de presentes e cobertura favorável na mídia em troca de benefícios regulatórios e financeiros.

Mandelblit anunciou a sua decisão de acusar Netanyahu em novembro e apresentou o despacho de acusação publicamente, mas se absteve de tomar a medida formal no tribunal "para permitir um debate sobre o pedido de imunidade do primeiro-ministro ao Parlamento", afirmou seu gabinete.

Horas antes, Netanyahu emitiu uma declaração a partir de Washington anunciando que não iria pedir imunidade parlamentar para enfrentar as acusações. "Há alguns minutos, eu informei ao presidente do Knesset [o Parlamento israelense] que vou retirar o pedido de imunidade", afirmou no Facebook. "Não vou deixar que meus adversários políticos usem essa questão para perturbar o movimento histórico que estou liderando."

O Parlamento de Israel estava programado para votar nesta terça-feira a convocação de um comitê parlamentar para decidir sobre o pedido de imunidade. Os oponentes de Netanyahu já haviam reunido uma maioria no Parlamento para negar a solicitação do premiê.

"Neste momento fatídico para o povo de Israel, enquanto estou nos EUA em uma missão histórica para formar as fronteiras finais de Israel e garantir a segurança para as gerações futuras, um outro espetáculo de circo sobre a imunidade vai ser aberto no Knesset", frisou Netanyahu.

O primeiro-ministro nega as acusações e diz ser vítima de uma caça às bruxas por motivos políticos. Agora, o tribunal deverá fixar uma data para o início do julgamento.

O líder do Partido Trabalhista, Amir Peretz, saudou o anúncio de Netanyahu. "Ainda bem que o primeiro-ministro fez o que deveria ter sido feito e desistiu de seu pedido de imunidade", afirmou Peretz à agência de notícias AFP. "Portanto, espero que o premiê dê o próximo passo e decida renunciar completamente, ir à corte como um cidadão comum e tentar provar a sua inocência."

O julgamento de Netanyahu pode ser aberto antes das eleições para o Parlamento – marcadas para 2 de março, a terceira em menos de um ano no país, que vive um bloqueio político sem precedentes – quando o premiê tentará se reeleger em uma votação muito acirrada, colocando seu partido de direita Likud contra a legenda centrista Azul e Branco liderada por Benny Gantz.

Nas duas eleições anteriores, os partidos de Gantz e Netanyahu conquistaram números parecidos de assentos, mas bem abaixo da quantidade necessária para obter maioria. Cada um dos líderes teve oportunidade de negociar para formar uma coalizão majoritária, mas fracassaram. Não há garantias de que um terceiro pleito produza um resultado significativamente diferente dos anteriores.

Gantz afirmou que os eleitores não devem eleger um candidato demasiadamente ocupado travando batalhas legais para governar o país. "Netanyahu vai a julgamento", escreveu o líder do Azul e Branco no Twitter. "Os cidadãos israelenses têm uma escolha clara: um primeiro-ministro que irá trabalhar para eles ou um premiê ocupado consigo próprio."

As acusações

O premiê poderá enfrentar até dez anos de prisão se for condenado por suborno e um prazo máximo de três anos por fraude e abuso de confiança. As investigações se estenderam por três anos e nos últimos meses vinham criando dificuldades políticas para Netanyahu, afastando potenciais aliados na formação de um governo estável.

De acordo com a denúncia, Netanyahu aceitou centenas de milhares de dólares em champanhe e charutos de amigos bilionários, e beneficiou empresários em troca de cobertura favorável ao seu governo em um jornal e um site de notícias.

As acusações mais sérias estão conectadas ao chamado "Caso 4000", em que Netanyahu é acusado de aprovar leis que deram ao amigo Shaul Elovitch, magnata das telecomunicações, benefícios no valor de 250 milhões de dólares à sua empresa Bezeq. Em contrapartida, o site Walla – uma subsidiária da Bezeq – publicou artigos favoráveis sobre Netanyahu e sua família.

A relação, segundo a acusação, era "baseada em um entendimento mútuo de que cada um deles tinha interesses significativos que o outro lado tinha capacidade de avançar". A Justiça também acusou Netanyahu de esconder o relacionamento fornecendo "informação parcial e enganosa" sobre suas conexões com Elovitch. Dois auxiliares de Netanyahu viraram testemunhas do Estado e depuseram contra o premiê no caso.

A acusação também afirmou que os presentes, como garrafas de champanhe, dos bilionários Arnon Milchan e James Packer "transformaram-se numa espécie de linha de abastecimento". Os presentes foram estimados em cerca de 200 mil dólares. 

A acusação diz que Netanyahu ajudou o israelense Milchan, um magnata de Hollywood, a prorrogar seu visto nos EUA. Já em relação a Packer, não está claro o que ele recebeu em troca por oferecer presentes ao premiê.

FC/afp/rtr/efe

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