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No Brasil, Morsi tenta livrar Egito da estagnação econômica

Rafael Plaisant8 de maio de 2013

Com país minado por crises políticas e uma economia frágil, presidente egípcio faz última parada em giro por membros do Brics, grupo do qual quer fazer parte. Entre os objetivos, reduzir dependência de ajudas dos EUA.

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Foto: Reuters

Mohamed Morsi foi recebido nesta quarta-feira (08/05) pela presidente Dilma Rousseff em Brasília – numa viagem emblemática por ser a primeira de um chefe de Estado egípcio ao Brasil e por marcar a busca por novos mercados de um país que se livrou de uma ditadura, mas que, como democracia, ainda tropeça em turbulências políticas e numa economia fragilizada.

A passagem pelo Brasil é a última escala de uma série de viagens que o levou a todos os outros membros do Brics – Rússia, Índia, China e África do Sul –, um grupo do qual ele já deixou claro querer fazer parte. A aliança pode ser uma saída para reduzir a dependência econômica egípcia dos Estados Unidos e ajudar o país a superar os problemas instaurados após a Primavera Árabe.

"Nesses novos tempos no Egito, há empresários e investidores que querem trabalhar com mais transparência do que na época de Mubarak", diz Michel Alaby, diretor-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. "Exemplo disso é que, nos últimos dois anos, as trocas comerciais aumentaram significativamente, sobretudo na área de produtos alimentares."

Os egípcios são um dos maiores importadores de alimentos do mundo. Nenhum outro país, por exemplo, importa mais trigo do que o Egito, que também é o segundo maior comprador de milho. E até, hoje, grande parte das compras é proveniente dos EUA, aliado de longa data, mas com quem as relações passaram por momentos de atrito desde a queda do ditador Hosni Mubarak.

Países como o Brasil podem ajudar a reduzir esse peso – levando em consideração também que os EUA há tempos não escondem que pretendem reduzir o foco de sua política externa do Oriente Médio.

Nos últimos dois anos, o fluxo comercial bilateral entre Brasil e Egito cresceu 38%, e empresas brasileiras têm interesse em investimentos em obras de infraestrutura de energia e transportes no Egito - além das oportunidades oferecidas pelos mais de 80 milhões de habitantes do maior mercado consumidor do mundo árabe.

"Morsi e eu concordamos que uma cooperação Sul-Sul, entre nossos países, é estratégica para que se estabeleça a multipolaridade no mundo”, disse Dilma nesta quarta-feira. "Decidimos fomentar a cooperação em todos os níveis."

Besuch des ägyptischen Präsidenten Mursi in Brasilien
Morsi é recebido com honras de chefe de Estado em BrasíliaFoto: Reuters

Brics, objetivo distante

Se as trocas comerciais com o Brasil estão em ascensão, uma adesão do Egito ao Brics, segundo economistas, ainda está distante. O grupo reúne as maiores potências emergentes, e o Egito parece um passo atrás. A instabilidade gerada pela Primavera Árabe afetou os setores de turismo, construção e indústria, causando severos danos à economia egípcia, que fechou o último trimestre de 2012 com crescimento de apenas 2% – nos dez anos anteriores, a média foi de 5%.

A seis meses das eleições, Mursi enfrenta um bombardeio de críticas da oposição, que atribuí a estagnação econômica do país a uma suposta incapacidade dele como governante. O país enfrenta um déficit orçamentário crescente; viu, em apenas um ano, o desemprego saltar de 9% para 13%; e ainda continua dependente de ajuda americana. Entre as principais queixas da população está a queda no padrão de vida.

"Nós queremos mais cooperação com o Brasil", disse Morsi, após o encontro de cerca de duas horas com Dilma. "O Brasil pode dar grande suporte para o desenvolvimento e justiça social no Egito."

Durante a campanha eleitoral, o discurso de Morsi e seu partido, a Irmandade Muçulmana, era inicialmente de rejeição à qualquer ajuda econômica externa. Mas, desde sua eleição, em junho, o agora presidente do Egito foi forçado a adotar uma postura mais pragmática diante dos reais desafios de governar.

Os problemas egípcios, dizem analistas, são hoje simplesmente grandes demais para serem resolvidos sem assistência internacional e sem olhar para novos mercados. Um empréstimo bilionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) deve sair até o fim do ano. E as economias emergentes, preteridas na era Mubarak, estão começando a ser olhadas de forma diferente.