No segundo álbum, Dillon explora o desconhecido dentro de si
27 de março de 2014Depois de 16 segundos de audição de The Unknown, novo disco de Dominique Dillon de Byington, percebe-se não apenas que um timbre único está de volta. Dillon – nome artístico da cantora nascida no Brasil e criada na Alemanha – parece ter encontrado sua voz. Ela soa mais confiante ao expandir não só vocal e letras, mas também sua peculiar sonoridade, criada no bem recebido álbum de estreia.
"Eu não diria que The Unknown é uma versão mais madura de That Silence Kills, mas uma continuação, uma evolução natural. Os dois discos não têm que ser comparados", diz a cantora em entrevista à DW Brasil.
Contemporânea de artistas como Björk e Lykke Li, Dillon tem um timbre único, que une delicadeza, certa urgência e profunda sinceridade. Suas letras são embaladas por um piano característico e ambientações eletrônicas.
A cantora começou a chamar atenção no final da década passada, quando colocou alguns vídeos na internet, em que cantava suas canções no piano. Em 2011 lançou o primeiro disco, That Silence Kills, pelo selo berlinense de música eletrônica BPitch Control, e encontrou o reconhecimento da crítica internacional.
O álbum de estreia de Dillon é pop, sofisticado e cheio de doces canções. Ele combina piano com batidas eletrônicas e referências ao trip hop e ambient. Essas chansons modernas são ilustradas por letras cheias de imaginação, muitas vezes entre o onírico e o surreal. Sem perder suas características, a cantora soa mais pessoal e corajosa no segundo disco, tanto nas letras quanto nas canções.
"That Silence Kills é uma colagem de músicas e poemas que eu escrevi durante anos. O novo disco foi conscientemente escrito para ser lido e ouvido como uma obra só. Minha escrita foi mais conceitual. Acordava todos os dias no mesmo horário e tentava escrever. Estava mais consciente da escolha das palavras e do que eu estava fazendo", explica Dillon.
Buscando o desconhecido
The Unknown foi criado entre maio e novembro de 2013. A artista passou esse período compondo e gravando com os produtores Tamer Fahri Özgönenc – membro da banda MIT, compositor e desiger de som de Berlim – e Thies Mynther – experiente músico que já trabalhou com nomes como Tocotronic, Chicks on Speed e Miss Kittin, além de tocar nas bandas Superpunk e Phantom/Ghost.
Ambos também trabalharam em That Silence Kills e foram responsáveis por criar a sonoridade característica da música de Dillon. Segundo ela, o trio se reencontrou e naturalmente "começou a sua jornada para o desconhecido".
"The Unknown foi o primeiro poema que eu escrevi para o álbum e a decisão de colocar esse nome no disco veio intuitivamente. O título e a arte da capa do disco são uma delicada introdução ao conteúdo. O álbum é um registro das minhas viagens ao desconhecido. Em vez de procurar pelo desconhecido, eu resolvi explorá-lo", afirma a cantora.
Ao explorar o desconhecido, Dillon evoca facetas da vida que não têm nome, descrição ou barreiras. Suas letras não buscam mais criar um mundo surreal entre o sonho e realidade, mas vão fundo em temas como amor, perda, medo ou desejo. Um processo que é acompanhado por uma evolução musical, que deixa o trabalho da cantora mais consistente, natural e direto, sem perder a graça ou o frescor.
As letras continuam abstratas, mas também mais abertas e, ao mesmo tempo, muito pessoais. Mesmo nas faixas em que a tristeza e a melancolia são elementos fortes e marcantes, The Unknown é um álbum em que a jornada, mesmo que tortuosa, é uma experiência necessária, revigorante e empolgante. Um sentimento que se reflete claramente na sonoridade.
"Minha principal motivação foi olhar para dentro de mim, explorar e escrever sobre sentimentos e sensações que estavam nascendo em mim. Diferente dos meus trabalhos anteriores, não estava conseguindo encontrar inspiração no mundo exterior. Não tinha nenhum material antes de começar a gravação do álbum", conta Dillon.
A cantora não sentiu nenhuma pressão externa depois do bem sucedido álbum de estreia. "Só a que eu mesma me imponho." Apesar de olhar para dentro para buscar inspiração e criar a mágica de suas canções, ela não vê The Unknown como sendo mais pessoal que o primeiro disco. "Eles são apenas diferentes. É como se um fosse uma introdução ao outro", completa.
Ser ouvida ao redor do mundo
Nesta quarta-feira (26/03), Dillon começou uma extensa turnê pela Europa, que além da Alemanha deve passar pela Suíça, França, Áustria, Inglaterra, República Tcheca e Polônia. The Unknown chega às lojas de todo o mundo em 1º de abril.
"Depois que eu começar a tocar essas canções ao vivo, estou certa que algo mudará de alguma maneira. Talvez não o conceito por trás delas, mas acredito que tocar torna as canções vivas. Uma música gravada não pode mudar, mas tocar ao vivo dá espaço para erros, mudanças. Às vezes, as faixas evoluem, crescem e se transformam em algo novo. Outras vezes, nada acontece, mas é uma jornada interessante de se observar", explica Dillon. Planos para tocar no Brasil? "Eu adoraria e espero que aconteça num futuro próximo."
Apesar de não visitar o país há alguns anos, Dillon se diz informada sobre o que acontece em terras brasileiras. "Acompanhei os protestos no Brasil. Eu e minha mãe fomos a um protesto em Colônia no ano passado, para demonstrar nosso apoio e sensibilizar as pessoas daqui em relação ao que estava acontecendo. Eu posso não viver no país e não poder me juntar às multidões nas ruas, mas temos que nos unir e sermos ouvido, não interessa onde estamos no mundo", afirma a cantora.