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Nobel de Literatura

5 de outubro de 2011

"Os critérios mudam para que a decisão seja sempre imprevisível", afirma o escritor sueco Kjell Espmark, que durante 17 anos presidiu o Comitê do Prêmio Nobel de Literatura.

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Membros da Academia SuecaFoto: Ulla Montan

Poucas pessoas sabem que o escritor e professor Kjell Espmark – um homem reservado e modesto – é a grande eminência parda da Suécia quando o assunto é literatura. Durante os seus anos como professor na Universidade de Estocolmo, Espmark deu vida nova aos estudos literários no país.

Mas a maior contribuição dele para a literatura mundial tem lugar atrás de portas fechadas. Ao longo de 17 anos, Espmark presidiu o Comitê do Prêmio Nobel de Literatura, ao qual ainda pertence.

A cada ano, o grupo composto por cinco membros da Academia Sueca tem a tarefa de selecionar cinco potenciais candidatos a partir de uma lista com cerca de 400 nomes. Por fim, os membros da Academia escolhem o premiado a partir dessa lista final, por meio uma votação.

Amplos horizontes

Kjell Espmark und der Nobelpreis für Literatur
Kjell Espmark é um dos maiores especialistas em literatura na SuéciaFoto: Ulla Montan

As indicações são feitas por escritores já premiados, associações de escritores e diversas outras instituições literárias. Para Espmark, esse processo tem pontos positivos e negativos.

"Uma vantagem é que especialistas do mundo todo podem fazer sugestões. A desvantagem é que, em muitos países, apenas os mais velhos são indicados. Para encontrar os escritores novos, nós desenvolvemos um sistema de espionagem", conta.

A "espionagem" a que Espmark se refere são as traduções regulares que a Academia Sueca encomenda de obras do mundo todo, com o intuito de manter seus integrantes atualizados sobre as novidades literárias no planeta.

Espmark diz ver com bons olhos que a tradução seja tão valorizada na Suécia, o país que concede o Prêmio Nobel. "Na França ou na Inglaterra os horizontes simplesmente não são tão amplos. Num país pequeno como o Suécia, você sempre tem que deixar as portas abertas. Metade da literatura publicada no país são traduções."

O critério ao longo dos anos 

Em 1896, quando Alfred Nobel criou os cinco Prêmios Nobel em seu testamento e concedeu à Academia Sueca o direito de escolher o vencedor na categoria literatura, a instituição não era aberta como é hoje. Ao contrário, o grupo era composto por nobres nacionalistas que, em sua maioria, tinham pouca educação literária.

This is an undated photo of the founder of the Nobel Foundation Alfred Nobel. The Swedish industrialist is also the inventor of dynamite. (AP Photo)
O químico Alfred NobelFoto: AP

A intenção de Nobel era que o prêmio homenageasse um escritor que tivesse produzido "o trabalho mais excepcional numa direção ideal". Na época a academia interpretou o critério "ideal" em relação aos valores religiosos, nacionais e de família expressos pelos autores.

Segundo Espmark, isso mudou na década de 1930. "A academia passou a escolher escritores como Sinclair Louis e Pearl Buck porque eles escreviam bestsellers. Depois da Segunda Guerra Mundial, porém, passou a favorecer inovadores como Hermann Hesse, André Gide, T.S. Eliot e William Faulkner. Nos anos 1970, o objetivo era destacar mestres desconhecidos."

Sempre imprevisível

Nos anos 80 o enfoque foi para o caráter internacional do prêmio, destacando as grandes línguas mundiais. A partir da década de 90, houve um favorecimento a relatos contemporâneos, como nas obras de Imre Kertész, V.S. Naipaul, Günter Grass e Herta Müller.

As constantes mudanças lançam a questão de como o Comitê estaria interpretando o critério ideal atualmente. Uma resposta concreta só pode ser obtida depois de muitos anos, já que a academia mantém todos os seus registros em segredo por 50 anos.

Espmark não revela se há novos critérios para a escolha. "Importante é: os critérios mudam para que a decisão seja sempre imprevisível", afirmou.

O Prêmio Nobel de Literatura de 2011 será anunciado nesta quinta-feira,  6 de outubro, em Estocolmo.

Texto: Daphne Springhorn (ms)
Revisão: Alexandre Schossler