Quase nunca a sociedade dá voz ao sentimento do professor. Então, por muitas vezes, silenciamos ou desabafamos com familiares e com aqueles que compartilham as mesmas dores que nós. Com esse texto, gostaria de ecoar a voz de muitos docentes. Pode até parecer pretensão minha, mas não é. É só uma forma de dizer: "Você não está sozinho! Você é capaz!".
Com essas palavras, minha intenção é de ser voz em uma sociedade que insiste em não nos ouvir e em não reconhecer a nossa importância social. É por isso que reforço: Nós, professores, sentimos! Só fomos pauta, nos últimos meses, quando uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento revelou que apenas 5% de estudantes do Ensino Médio dizem querer ser professores.
Quando a pesquisa foi divulgada, um vídeo do apresentador Manoel Soares circulou nas redes sociais. Ao repercutir os dados, Soares evidenciou algumas razões que poderiam explicar a falta de interesse do jovem pela docência, como o salário e a violência sofrida no ambiente escolar. Nos comentários do vídeo, várias pessoas relataram situações que as fizeram desistir da área e procurar uma nova profissão. Veja: não é que elas não gostassem da docência, o que também pode acontecer, afinal, faz parte não se reconhecer em uma determinada profissão. A situação era: aquelas pessoas não estavam suportando situações de desrespeito no ambiente escolar.
É, leitor, uma coisa posso lhes garantir: ser professor não é fácil. Quando afirmo isso, não estou dizendo que outras profissões sejam. Longe de mim. Tenho plena convicção de que toda profissão tem inúmeros desafios. E, no contexto da educação, sei ainda que há regiões e instituições cujos desafios são ainda maiores, seja na rede pública ou privada. O fato é que o professor é desrespeitado de várias formas. E não é apenas questão salarial. Em matéria divulgada pelo portal de notícias G1, em 2014, o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo destacou que 44% dos professores afirmaram ter sofrido alguma violência. Em 2019, esse índice passou para 54%. No relatório, as violências mais frequentes contra professores eram agressão verbal (48%), assédio moral (20%), bullying (16%) e discriminação (15%).
Talvez, você nem saiba o quanto nós, professores, sentimos. A verdade é que chega um momento em que nos blindamos de sentir muita coisa – é uma forma de autodefesa. Quando possível, tentamos relevar tudo o que nos parece tóxico para mantermos nossa saúde mental. Na realidade, não há muito espaço para o sentir docente. Para ser sincera, as pessoas, no geral, estão tão ensimesmadas que a dor do outro não as atinge, independentemente da área profissional. E, assim, as dores do dia a dia são silenciadas.
Falta de reconhecimento
Nas redes sociais, em muitos momentos, o discurso envolvendo a educação é romantizado – quando, na verdade, diariamente, professores, de todo o Brasil, vivenciam experiências que os desqualificam e coisificam. Quase ninguém fala da desmotivação, dos momentos em que a vontade de chorar faz presença, do desrespeito e da necessidade de engolir o choro. Pouco se fala dos momentos em que nos fazem questionar e desacreditar do porquê da nossa escolha profissional. Foi preciso uma pesquisa ouvir jovens do Ensino Médio para que essa realidade transcorresse nas redes sociais. É, ao que parece, esse próprio público reconhece as dificuldades do ambiente de sala de aula.
Sabemos que a educação ainda não é prioridade entre a maioria das autoridades políticas. Além da falta de apoio político, o pior é que a própria sociedade não valoriza o professor. Na verdade, vivemos uma realidade em que as pessoas culpabilizam o professor por tudo, ao tempo em que isentam família e alunos de responsabilidades. O aluno não aprende? Culpa do professor. O aluno não teve um bom desempenho em avaliação? Culpa do professor. Quase nunca é feita a reflexão: o aluno realmente é atento às aulas? Estuda em casa? Ele equilibra tempo de estudo e o entretenimento proporcionado por dispositivos móveis ou outro tipo de lazer? O professor pode planejar uma aula incrível, pode fazer uso de metodologias ativas, seguir as orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas, quando o aluno não demonstra interesse ou não quer ser auxiliado, é difícil obter bons resultados.
Infelizmente, a sociedade só reconhece, minimamente, a realidade que o professor passa quando algo extremo de violência ocorre contra ele, como já vimos em inúmeras notícias. Nesses casos, o professor precisou ser ferido fisicamente para que essas situações viessem à tona e a sociedade e as autoridades públicas se solidarizassem com a situação, ao menos momentaneamente. Que lamentável!
O potencial de ser professor
Apesar de, no início, ter enfatizado as dores, existem muitas alegrias proporcionadas pela docência. É maravilhosa a sensação de ver o seu aluno crescer e saber que, de alguma forma, você fez parte disso. Tem abraço que acolhe e palavras que preenchem vazios. Ouvir um "Professora, de todo o meu coração, muito obrigada! Você fez diferença em minha vida! Estava te esperando para te dar um abraço" ressignifica tudo aquilo que já foi dúvida.
Felizmente, alguns alunos são luz em dias difíceis; são graça em meio a tantas preocupações externas. Nos dias em que não estamos bem, a sala de aula pode ser também nosso ponto de distração e abrigo. Em anos de docência, incontáveis sorrisos. Sorrimos com suas histórias. Nos divertimos com as cenas dramáticas, construídas por estudantes engraçadíssimos, para nos convencer de algo. Sorrimos com os sorrisos deles. Sorrimos com eles. É tão bom!
Então, colega professor, se você sabe o quanto você fez e faz para o aluno, não se culpe. Continua estudando e fazendo o seu trabalho com excelência. Acredite, nós podemos ajudar muita gente. Eu continuo acreditando na força e no potencial de ser professor. E, se um dia, eu desacreditar de tudo isso, precisaria repensar minhas escolhas. Assim, sigo acreditando e esperançosa de que a Educação seja mais valorizada e reconhecida socialmente.
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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1
Este texto, escrito por Karine Luana Amorim Braga, professora de português em Maceió (AL), reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.