O alemão e a natureza
17 de maio de 2016O que é, para você, tipicamente alemão? Quem faz essa pergunta a alguém de outro país espera respostas como cerveja, salsicha, chucrute, calças de couro... Recentemente, uma amiga francesa me respondeu: "A separação do lixo". Ela é fascinada tanto pela palavra nativa, Mülltrennung, quanto pela coisa em si.
Sem sombra de dúvida, nós, alemães, somos campeões mundiais na separação do lixo e isso nos deixa muito felizes. Que espetáculo quando o marido alemão leva o lixo para fora. Tudo bem que as mulheres também façam isso de vez em quando. Mas separar o lixo é uma tarefa técnica, da qual o homem alemão não abre mão facilmente. Que prazer quando ele se vê diante das lixeiras amarelas, verdes, cinzas e azuis – e começa a classificar.
O que não é assim tão fácil. O humorista Robert Gernhardt contou certa vez a história de um casal defensor do meio ambiente que discutia sobre onde jogar um saquinho de chá. O chá é orgânico, então vai para a lixeira marrom. Mas a etiqueta na ponta do cordão é papel, assim, lixeira azul. O grampo vai para a lixeira amarela. E o que se faz com o cordão? Será que o pedaço de barbante é lixo orgânico, não reciclável ou até mesmo um resíduo tóxico? É preciso uma lixeira própria para isso? Questão difícil...
Com a floresta no coração
Mas nós, alemães, não fugimos de tarefas árduas. Quando abraçamos uma causa de coração, a levamos até o fim. E o meio ambiente está trancado no nosso coração a sete chaves. Porque, de certa forma, está nos nossos genes. O alemão sempre foi muito ligado à natureza. Provavelmente foi ele que inventou o amor pelo meio ambiente.
Os alemães se identificam especialmente com a floresta. Em nenhum outro país, os bosques são cantados em verso e prosa com tanta paixão como na Alemanha. Os românticos do século 19 fizeram isso como ninguém. Eles se referiam à natureza ora como irmã, como mãe, amiga ou amante – como uma pessoa, portanto. Esse sentimento segue vivo em todos nós.
Os rios, o ar, o solo: os alemães mantêm tudo limpo. Claro que já tivemos rios na Alemanha que eram mais cloacas do que cursos d’água. Mas isso foi inevitável, pois o milagre econômico após a Segunda Grande Guerra exigiu sacrifícios. Esse tempo, no entanto, passou. Hoje, o céu sobre a região do Ruhr é tão azul quanto Willy Brandt prometeu em 1961, os peixes estão de volta ao rio Reno, os prados, florestas e campos da Alemanha estão limpos. Pelo menos, em grande parte. Deixar algo para trás após um piquenique ao ar livre só acontece por deslize. E se tiver um monte de lixo jogado numa área de descanso da autoestrada, os culpados são provavelmente os holandeses.
A caminho da ditadura ecológica?
Como sempre, há quem nos critique, dizendo que estamos exagerando de novo. Isolamento térmico até não poder mais, energia sustentável, biocombustível, trilhas para sapos em vez de novas rodovias, proibição das velhas e boas lâmpadas incandescentes – estamos correndo de braços abertos para uma ditadura ecológica, afirmam os críticos.
Nós, porém, respondemos com toda a calma: "Só quando a última árvore for cortada; o último rio, envenenado e o último peixe, capturado, o ser humano vai perceber que não pode comer dinheiro". A frase não é do cacique Seattle, nem uma profecia dos índios canadenses Cree. É simplesmente uma excelente frase criada pelo movimento ambientalista norte-americano. Tão boa, que poderia ter origem alemã.