O Brasil na imprensa alemã (27/09)
27 de setembro de 2017Frankfurter Allgemeine Zeitung – Caçada a Rogério 157, 27/09/2017
Rogério 157 tem um gosto incomum: ele ama o branco. Quase tudo na sua propriedade, de cujo terraço se tem uma vista exuberante sobre o mar de casas da favela da Rocinha, é branco. O piso tem azulejos brancos, as paredes são pintadas de branco, também os lustres e estantes são brancos.
Rogério 157, cujo nome real é Rogério Avelino da Silva e que nasceu na véspera de Natal de 1981 na cidade de Governador Valadares, em Minas Gerais, é o chefão das drogas mais procurado do Rio de Janeiro. A polícia elevou a recompensa por pistas que levem à sua captura de cerca de 9 mil euros para mais de 13 mil euros.
Isso é muito dinheiro para as pessoas da Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro. Cerca de 70 mil moradores vivem nessa comunidade pobre na zona sul do Rio. As pequenas casas de tijolo à vista, frequentemente descuidadas, parecem ter sido jogadas ao acaso e empilhadas umas sobre as outras. Elas avançam para o alto do morro, próximas do bairro de classe média São Conrado, na costa. Lá, porém, a Rocinha faz fronteira com o Parque Nacional da Tijuca, sobre o qual impera a estátua do Cristo Redentor, no alto do Corcovado.
E para lá, na Mata Atlântica cerrada, Rogério 157 aparentemente fugiu, acompanhado de alguns de seus seguranças, quando, no fim de semana, as Forças Armadas entraram na Rocinha. Cerca de mil soldados fortemente armados, apoiados por carros blindados e helicópteros, avançaram por estradas apertadas, vielas tortuosas e escadarias estreitas. Por horas ouviu-se o barulho de fuzis e pistolas sobre o bairro. Era como uma guerra. Em alguns pontos, fumaça escura subiu para o céu acima da Rocinha.
Mas o mandado de prisão contra o chefão da droga Rogério 157, expedido há anos, não pôde ser cumprido.
Süddeutsche Zeitung – Fotos de fantasma, 23/09/2017
Antes de o fotógrafo brasileiro Ignacio Aronovich dar a sua versão da história pelo telefone, ele garante que de fato existe. Afinal, isso já não é mais algo evidente na sua profissão. O caso do colega Eduardo Martins balançou algumas coisas. Martins, um fotógrafo de guerra celebrado no mundo inteiro, surfista, don juan, com mais de 120 mil seguidores no Instagram, nunca existiu de verdade. Isso foi revelado há três semanas e provocou uma onda de choque no mundo dos fotojornalistas, e até hoje ela não passou. "A vida inteira dele foi um festival de fake news", diz Aronovich.
E que vida! Eduardo Martins, 32, supostamente era natural de São Paulo. Alguns que o encontraram nos últimos anos – sempre nas redes sociais, nunca nas ruas – diziam que ele vinha da cidade portuária de Santos. Mas essa é só uma das contradições menores nesta grande biografia inventada. Segundo ela, Martins superou uma leucemia antes de embarcar numa viagem de autoconhecimento no Oriente Médio. Aparentemente ele encontrou um sentido na vida dando aulas de surfe para jovens palestinos na Faixa de Gaza. Outro foi fazer fotos de regiões em guerra na Síria e no Iraque para conscientizar o mundo. Agência como Zuma Press ou Getty as difundiram. Veículos de imprensa renomados, como BBC Brasil, Wall Street Journal e Vice, as publicaram. Fotos de um fotógrafo que não existia.
Aronovich não era um seguidor de Martins. Ele teve a atenção despertada para o suposto colega por um amigo fotógrafo e jornalista, chamado Fernando Costa Netto, que elogiava o trabalho de Martins em tons elevados. Mas, no fim de agosto, Aronovich leu num artigo de Costa Netto que havia grandes dúvidas sobre a existência do homem: "Edu Martins está morto", dizia o título.
Ele olhou alguns trabalhos de Martins na internet. Uma foto lhe chamou a atenção: um homem com uma câmera e a mão esquerda sobre o disparador. "Estranho", pensou Aronovich, "que câmera ainda tem disparador do lado esquerdo?" Ele inverteu a foto com o Photoshop e a lançou de novo no Google. Bola dentro! O original era do fotógrafo americano Daniel C. Britt. "Isso me custou 40 minutos", diz Aronovich.
Frankfurter Allgemeine Zeitung – No domingo à noite, quando toca a música de bandinha, 22/09/2017
Ao longo de três semanas, Blumenau é a meca dos amantes da cerveja de todo o Brasil. Muitos moradores locais se sentem ligados à pátria de seus antepassados alemães, e não apenas com a música de bandinhas e o chucrute.
Flores de tecido coroam o cabelo, inocentes meias até o joelho realçam panturrilhas femininas, apesar de o corpete ser mais um corsage sexy do que parte de um traje típico. "Quando elas mostram o dirndln sensual, nós, rapazes, esfregamos os olhos", trovejam as caixas de som. E centenas de dirndlns rodopiam pelo salão. "E a noite está começando pra valer agora, cada moça pega o seu rapaz", continua a canção. Estes homens vestem lederhosen justas e tersas, uma caneca de cerveja de plástico numa das mãos, a outra enfiada no bolso da calça. Agora todos juntos: dez passos para a esquerda, palmas! Dez passos para a direita, palmas! "Não é difícil!", grita o cantor do palco. Okotoberfest em Blumenau: música alemã de bandinhas e gingado brasileiro se unem, joelho de porco e chucrute combinam com batata frita, e a cerveja é servida em copos gelados.
"Não é bem como a nossa Oktoberfest de Munique", comenta um bávaro autêntico que está entre os visitantes. Mas o que este muniquense pode encarar como mera cópia da sua festa nativa é sagrado para os blumenauenses. É o ponto alto do calendário festivo do ano, quando a cidade recebe até meio milhão de visitantes, quase o dobro do que tem de habitantes.
A cerveja deve ser comprada em longos balcões. As marcas se chamam Eisenbahn, Bierland ou Schornstein, todas produzidas segundo a lei alemã de pureza. Não só as grandes cervejarias, mas também as pequenas empresas familiares de Blumenau enviam seus mestres-cervejeiros para a Alemanha para estudar. A ligação com o país dos ancestrais nunca foi rompida. Muitos habitantes do sul do Brasil têm raízes alemãs, nomes alemães, ainda falam alemão. Apesar de quase nenhum ter visitado a Alemanha, muito menos a Oktoberfest de Munique, em Blumenau as pessoas têm orgulho de serem descendentes de alemães. Os antepassados, dizem, ajudaram a região a se transformar numa potência econômica e de qualidade de vida sem igual no Brasil. Os estados do sul se sentem como se fossem a Baviera do Brasil.
AS/ots