O Institute of International Finance (IIF), ou Instituto de Finanças Internacionais, é considerada a associação mais prestigiosa do universo financeiro global. Seu economista-chefe, Robin Brooks, não é de esquerda. Mas tuitou recentemente que o Brasil, "devido ao seu enorme balanço comercial" e à "estabilidade externa" que conquistou, está "a caminho de se tornar a Suíça da América Latina".
"Está surgindo um enorme balanço comercial sem paralelo em qualquer outro país da região. Isso deverá levar a estabilidade na economia externa e uma moeda forte", escreveu o ex-estrategista do banco Goldman Sachs. Além disso, Brooks acredita que o Brasil poderá se tornar "âncora da região" como um país que vai desempenhar um papel fundamental para a estabilidade econômica e financeira da América Latina.
São declarações de esfregar os olhos e pensar sobre o que pode ter levado Brooks a fazer essa afirmação eufórica.
Em geral, porém, a economia brasileira dos dias atuais parece estar sendo caracterizada por uma virada marcante rumo ao otimismo – uma mudança que quase ninguém parece ter previsto. No início de junho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os números de crescimento para o primeiro trimestre, quase o dobro do esperado pela maior parte dos bancos de investimento.
Em comparação com o mesmo período do ano passado, a economia brasileira cresceu 4%. Foi sobretudo o setor agrícola que contribuiu para o salto: cresceu 19% em doze meses. De repente, o Brasil estagnado passou a integrar as quatro economias de mercado com maior alta do PIB no primeiro trimestre, segundo pesquisa da agência classificadora de risco Austin Rating.
Bancos de investimento como o Goldman Sachs agora calculam que o Brasil deverá crescer 2,6% em 2023, em vez de 1,9%, como pensavam antes. Outras instituições também se apressaram em corrigir para cima suas projeções de crescimento para o país.
Pela primeira vez em anos, o banco de investimentos Verde Asset Management voltou a enxergar um potencial de aumento do valor agregado de ações e ativos brasileiros. Os analistas do Verde, normalmente céticos, contam com um fortalecimento do real e que a alta taxa de juros, hoje em 13,75%, caia em breve, já que a inflação também vem perdendo força (está em 3,94% em 12 meses).
Segundo os analistas, com o projeto de lei para o arcabouço fiscal que foi enviado ao Congresso, o governo de esquerda de Lula minimizou o risco de aumentar desproporcionalmente as despesas.
Ceticismo do empresariado
E os empresários? Continuam céticos. O viés otimista dos mercados financeiros continua contrastando com a desconfiança dos empresários em relação ao governo Lula.
Na verdade, de acordo com a perspectiva do empresariado, o ex-líder sindical faz quase tudo errado – já que, acima de tudo, o presidente parece ter a ambição de reverter todas as reformas econômicas de seu antecessor ultradireitista Jair Bolsonaro.
Ele ataca o Banco Central e, de preferência, gostaria de colocá-lo sob o controle de Brasília – assim como a Eletrobras ou o saneamento básico. Lula já conseguiu o feito com a Petrobras – os preços dos combustíveis devem ser "flexibilizados". O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) deverá voltar a definir "áreas de crescimento", como aconteceu nos governos Lula 1 e 2 – com as quais empresas deverão receber créditos subsidiados.
Foram implementadas subvenções para a compra de carros populares, como aconteceu sob os presidentes Fernando Collor e Itamar Franco no início dos anos 1990. Mas a medida não ajuda nem aos pobres do Brasil – justificativa usada por Lula – nem ao balanço climático do país. Lula, porém, espera criação de empregos e lucros da indústria automobilística.
No entanto, é justamente o Congresso conservador, sob a liderança do presidente da Câmara, Arthur Lira, que vem freando as ambições de Lula de voltar no tempo e aplicar modelos antigos na política econômica do governo. Lira deixou claro que Lula não terá êxito com o rumo econômico voltado para o passado.
Diante das muitas surpresas na economia na última semana, a suspeita que resta é que Lula deverá fazer as pazes com o agronegócio nos próximos meses – apesar do menosprezo mútuo. Por outro lado, provavelmente serão as exportações do agronegócio que devem salvar o balanço comercial de Lula em seu primeiro ano do terceiro mandato.
---
Há mais de 30 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América Latina do grupo editorial Handelsblatt e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Quando não está viajando pela região, fica baseado em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.