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O Brexit brasileiro

24 de outubro de 2018

O Brasil não é o primeiro país onde "fake news" desafiam a democracia. Mas pode ser o primeiro onde as instituições democráticas têm a chance de enfrentá-las de forma contundente, escreve a colunista Astrid Prange.

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Brasilien Wahl 2018 | Bolsonaro Erklärung auf Facebook live
Foto: Getty Images/AFP/M. Pimentel

Caros Brasileiros,

O que é pior para o Brasil: a vitória de Haddad no segundo turno, com um possível quebra-quebra entre seus eleitores e os de Bolsonaro, que possivelmente não aceitariam essa derrota? Ou o cancelamento das eleições depois da vitória de Bolsonaro, porque a candidatura dele seria impugnada pelo TSE?

Confesso que os dois cenários para mim parecem muito preocupantes, como essas eleições em geral. O primeiro cenário não é muito provável, pois, segundo as pesquisas de opinião mais recentes, uma vitória de Haddad seria um milagre. O segundo cenário, porém, parece, pelo menos, possível.

Se as apurações do TSE confirmam que a campanha de Bolsonaro feriu a legislação eleitoral por abuso de poder econômico, abuso do uso de meios de comunicação e omissão de doações de campanha, a candidatura dele poderia, em teoria, ser impugnada.

O Brasil não é o primeiro país onde "fake news" desafiam a democracia. No plebiscito sobre o Brexit na Inglaterra e na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, a disseminação de notícias falsas foi decisiva também.

Mas o Brasil pode ser o primeiro país onde as instituições democráticas têm a chance de dar um xeque-mate nas campanhas digitais de notícias falsas. O Brasil poderia se tornar uma referência internacional na inibição de manipulação politica em plataformas como Facebook, Twitter e Whatsapp.

Não faltam evidências de que houve propagação organizada de "fake news". Além da reportagem da Folha de S. Paulo, que conseguiu apurar que empresários financiaram a compra de distribuição de mensagens contra o PT, o grupo de pesquisa em Tecnologias da Comunicação e Política (TCP) da Universidade do Estado de Rio de Janeiro (Uerj) também comprovou ataques pessoais e a divulgação orquestrada de notícias falsas.

Nada mais justo então do que cancelar uma eleição cujos resultados são frutos de "fake news" e convocar um novo pleito. A grande pergunta é: será que o TSE tem como tomar uma decisão tão grave? Ou será que o medo da raiva dos eleitores de Bolsonaro faz os ministros pensarem duas vezes e até desistirem de uma impugnação da candidatura dele?

Se for assim, o terceiro cenário, a morte lenta da democracia brasileira, já teria começado mesmo antes da tomada de posse de um possível presidente Bolsonaro. Pois uma autocensura com esta já indica uma falta de liberdade e independência política.

Esse "exit” brasileiro da democracia teria consequências nefastas igual ao Brexit na Inglaterra. Teria. Pois os britânicos já não estão mais tão seguros que querem sair do bloco europeu. Perceberam que foram enganados com informações falsas a respeito das consequências de sua saída.

No Brasil, depois das eleições, provavelmente muita gente vai se sentir enganada também. Na melhor das hipóteses, o país passaria por mais quatro anos de paralisia política. Na pior, enfrentaria a volta da ditadura.

Ainda acredito no funcionamento do Estado de Direito e da democracia no Brasil. Torço para que o país continue com liberdade de expressão e instituições democráticas fortes para combater qualquer ataque à democracia, direitos humanos e, claro, à legislação eleitoral brasileira.

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Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.

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