O delicado equilíbrio da grande coalizão
11 de outubro de 2005Angela Merkel venceu uma batalha pessoal com Gerhard Schröder: ela conseguiu a indicação para a Chancelaria Federal, tirando o político social-democrata do poder. A vitória, entretanto, custou caro.
O acordo entre a aliança da União Democrata Cristão (CDU) com a União Social Cristã (CSU), de Merkel, e o Partido Social-Democrata (SPD, de Gerhard Schröder) demorou três semanas para ser costurado, deixando a Alemanha em uma espécie de limbo político.
Quando as negociações foram concluídas, na última segunda-feira (10/10), ficou claro que o SPD cobrou um preço alto para ceder o cargo de chefe de governo para Angela Merkel. Os social-democratas ficaram com oito ministérios, incluindo pastas importantes como Saúde, Cooperação Econômica, Transportes e Meio Ambiente, além da vice-chancelaria.
A aliança que apóia a futura chanceler federal ficou com apenas seis ministérios: Economia, Defesa, Interior, Agricultura, Educação e Família.
Merkel: poder limitado?
Nesta terça-feira (11/10), os grupos políticos que foram a aliança de governo se fecharam em reuniões para discutir o desenho da grande coalizão – um processo que pode se estender pelo menos até meados de novembro.
Angela Merkel certamente terá problemas para convencer como chefe de governo. Ela já enfrenta resistência tanto no SPD quanto na sua aliança de apoio (CDU/CSU).
Nos círculos políticos, há a impressão de que a divisão do poder entre grupos de ideologias diferentes não vai levar a Alemanha a lugar algum. Os dois partidos – tão confortáveis em posições rivais – deverão ter dificuldades para trabalhar juntos.
A capacidade de comando de Merkel está sendo questionada por ambos os lados. O líder do SPD no Parlamento, Franz Müntefering, disse que, em uma grande coalizão, o chanceler federal não tem muito poder para impor suas idéias. Se Merkel tentar seguir este caminho, ele disse que a aliança pode ser dissolvida.
O aliado bávaro de Merkel, Edmund Stoiber (CSU), também afirmou que Merkel provavelmente terá pouco espaço para imprimir um estilo próprio ao governo.
O secretário-geral do CDU, Volker Kauder, entretanto, frisou que os partidos devem estabelecer metas comuns durante as negociações da coalizão. Em relação a esses objetivos, Merkel poderia "exercer uma função de liderança".
A busca pelo consenso
Andreas Wuest, cientista político da Universidade de Mannheim, acha que os partidos podem resolver suas diferenças aos poucos. "O processo não é rápido nem fácil", disse Wuest à agência de notícias AFP. "Mas Angela Merkel ainda pode ser uma chanceler de sucesso. Nada indica que ela não possa ficar no cargo pelo menos por alguns anos."
O cientista político frisou que os partidos concordam que é preciso trabalhar conjuntamente para reduzir a taxa de desemprego, atualmente de 11%, considerado o principal problema do país.
"Os partidos podem até não concordar nas reformas do mercado de trabalho, que afetam as pessoas que estão empregadas, mas eles vão tentar fazer alguma coisa em relação à falta de empregos", ressaltou Wuest.
Pontos de convergência
O fato de Gerhard Schröder ter iniciado as polêmicas reformas do mercado de trabalho alemão também pode ajudar no sucesso da nova aliança, de acordo com o professor de Mannheim: "Ele estava caminhando na mesma direção dos democrata-cristãos."
Além disso, diz o cientista político, SPD e CDU/CSU concordam que é preciso dar mais poder legislativo aos 16 Estados da federação alemã.
O economista-chefe do Deutsche Bank, Norbert Walter, concorda que a reforma do sistema federal é um importante ponto de convergência entre os dois grupos políticos: "Eu penso que o consenso sobre a reforma do sistema federal, a mudança no sistema de pensões e a política de trabalho podem levar outras reformas adiante."