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O drama dos refugiados às portas da Europa

(sp/js/sv)21 de agosto de 2006

Seja na costa italiana ou nas Ilhas Canárias, centenas de pessoas chegam diariamente ao território europeu. Enquanto autoridades discutem se são 'refugiados' ou 'imigrantes', cada um conta apenas com a própria sorte.

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Difícil chegada à Europa: sonho de muitosFoto: DW

Uma das principais preocupações das autoridades da Ilha Tenerife, que pertence à Espanha, é separar o mundo organizado dos turistas ricos do norte da Europa, que chegam às Ilhas Canárias em busca de uma porção de sol, do universo triste dos refugiados, em sua maioria africanos, que chegam ali em busca de uma vida melhor.

No pequeno e turístico povoado Los Cristianos, por exemplo, a paisagem é composta basicamente por hotéias de uma a cinco estrelas. A antiga aldeia de pescadores recebe a cada ano nada menos que 3,5 milhões de turistas.

Nas últimas semanas, porém, a localidade virou manchete por outros motivos: a chegada em massa de pequenas embarcações vindas da costa africana, salvas pela Marinha local ou arrastadas pela correnteza.

Viagem de risco

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Funcionários da Cruz Vermelha salvam refugiados em TenerifeFoto: DW

Para chegar a Tenerife, as pequenas embarcações levam aproximadamente dez dias, numa viagem que coloca em risco a vida dos passageiros. Quando desembarcam, os cidadãos de origem africana passaram quase sempre por um percurso infernal, com pouco espaço nos pequenos barcos, tempestades em alto-mar e até mesmo sede e fome durante a viagem.

Muitos deles se negam a dizer de onde vêm, com medo de serem deportados de imediato. Para um refugiado que acaba de colocar os pés em território da União Européia, vale tudo, menos a denúncia da própria origem. O que poderia significar uma volta imediata para casa. Por isso, contam funcionários da Cruz Vermelha que prestam assistência aos refugiados, a maioria se mantém em silêncio.

Esconderijos e nomenclatura

O procedimento estabelecido pelas autoridades espanholas é claro: afastar as hordas de refugiados da ilha da fantasia dos turistas abastados. Por isso, após preencher formulários que os qualifica de "imigrantes ilegais", eles são quase sempre levados para alojamentos isolados, quase sempre escondidos em áreas de acesso apenas militar.

Luis Carrion, diretor da polícia de Los Cristianos, afirma que a nova leva de africanos que acaba de chegar a Tenerife é de "imigrantes e não refugiados", uma vez que são jovens e bem-educados. "Eles merecem nosso respeito. Não fazem confusão, são amáveis, ambiciosos e disciplinados", diz o policial. Os 90 jovens têm pela frente, contudo, um destino relativamente previsível.

Sem documentos nem trabalho

Immigrantendrama Teneriffa
Descoberta do país de procedência: grande temor dos refugiadosFoto: DW

De acordo com as leis espanholas, eles têm que ser liberados 40 dias depois da chegada, caso seus países de origem continuem desconhecidos. Se vierem de algum país com o qual não haja um acordo de deportação com a Espanha, eles também acabam ficando. Sem documentos nem permissão de trabalho.

A maioria deixa a ilha e é levada para o território espanhol no continente, onde acabam desaparecendo na massa de imigrantes de grandes cidades como Madri ou Barcelona.

Tragédia em Lampedusa

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Levas de refugiados em Lampedusa: mortos no fim de semanaFoto: dpa - Fotoreport

Uma solução que pelo menos os permite escapar da morte, como a ocorrida na tragédia do último fim de semana (19 e 20/08), na costa da ilha de Lampedusa, na Itália, quando uma embarcação naufragou, deixando um saldo de 60 mortos, entre eles crianças. Os refugiados, neste caso, vinham em sua maioria do Marrocos, Egito, Líbano e Iraque.

O ministro italiano do Interior, Giuliano Amato, anunciou medidas mais austeras contra a "criminalidade organizada, que todos os dias lança pessoas ao Mar Mediterrâneo".

Amato, há poucos meses no poder, acredita que uma das causas dos acidentes constantes na costa italiana é a morosidade da Justiça do país no combate ao problema. E a cooperação da máfia italiana com grupos responsáveis pelo tráfico humano na região.

Norte e sul

No ano passado, por exemplo, foi detectada no sul da Itália uma rede de criminosos responsáveis pelo transporte ilegal de imigrantes, coordenada pela máfia calabresa N'Drangheta.

O cerne do problema, acusa o ministro Amato, é a "desigualdade da riqueza entre norte e sul. "A Europa precisa fazer mais para judar economicamente os países africanos, dos quais vêm estes refugiados", resume o ministro.