O estilo saudita de socorro a refugiados
2 de setembro de 2015Recentemente, durante o Ramadã, a Arábia Saudita distribuiu refeições no valor de 3 milhões de dólares a refugiados sírios na cidade libanesa de Sidon, permitindo-lhes comemorar o fim do jejum. A generosidade remete aos tempos do fundador do Estado saudita, Abdul Aziz Bin Abdul Rahman Al Saud, que viveu de 1880 a 1953. Ele criou também as primeiras organizações humanitárias do país.
Além de ações simbólicas como essa, registradas com especial interesse pela opinião pública, o apoio da Arábia Saudita a refugiados se traduz em cifras. Em janeiro de 2013, o reino participou da Conferência dos Doadores dos Países do Golfo, no Kuwait, na qual foram arrecadados doações no valor de cerca de 910 milhões de dólares.
A maior parte da doação – 325 milhões de dólares – foi feita pelo Kuwait. Os sauditas vieram em segundo lugar, com a disposição de 213 milhões. Em 2014, a colaboração saudita aumentou significativamente, chegando a 755 milhões de dólares – destinados não são somente a refugiados sírios, mas também a causas humanitárias em outros países. De acordo com o programa Global Humanitarian Assistance (Assistência Humanitária Global), de agências internacionais de desenvolvimento, a Arábia Saudita é o sexto maior país doador do mundo.
Asilo em segundo plano
A Arábia Saudita, entretanto, não recebeu nenhum refugiado sírio até agora. Em vez disso, o país prefere que as pessoas encarem o longo e perigoso caminho rumo à Europa. A organização humanitária Anistia Internacional já havia criticado tal atitude do governo saudita no ano passado.
"Esta completa falta de oferta de acolhimento por parte dos países do Golfo é especialmente vergonhosa", afirmou a organização. Com vínculos linguísticos e culturais, os países da região deveriam liderar a oferta de proteção dos sírios que fogem de perseguições e crimes de guerra."
Na maioria dos países do Golfo, uma grande parcela da população é composta por não sauditas. Dos 29 milhões de habitantes da Arábia Saudita, seis milhões são estrangeiros que vivem legalmente no país. No Kuwait, a parcela de estrangeiros chega a 60%; no Catar, são mais de 90%; e nos Emirados Árabes Unidos, cerca de 80%.
O acolhimento de refugiados aumentaria ainda mais esses números, e o receio diante disso é aparentemente maior do que a vontade de oferecer refúgio a sírios e iraquianos. Pela lógica, ficaria mais difícil para as autoridades expulsarem asilados do país – diferente dos trabalhadores imigrantes, que podem ser mandados para casa sem maiores problemas.
O governo saudita inclusive já faz isso. O caso mais recente aconteceu em 2014. Na ocasião, o país expulsou em torno de 370 mil pessoas, segundo agências de notícias do país. O objetivo era criar empregos para cidadãos sauditas. Expulsar refugiados, por outro lado, traria problemas éticos bem mais complicados para o reino. Por isso, a estratégia é nem deixá-los entrar.
Do outro lado da Primavera Árabe
Além do mais, os sírios expatriados fogem de um contexto de revolução social considerado, desde o início, bastante suspeito pelo reino saudita. Os conservadores chefes de Estado de Riad não apoiaram a chamada "Primavera Árabe" de 2011.
Na época, ativistas também fizeram exigências semelhantes na Arábia Saudita – por mais justiça social, liberdade política e cultural e um Estado de direito. O governo respondeu aumentando a concessão de benefícios sociais para apaziguar os ânimos dos cidadãos "rebeldes".
Do ponto de vista o governo, com os refugiados sírios provavelmente iriam para o país pessoas que compartilham destes valores e poderiam perturbar a ordem pública. Além disso, suas possíveis posições religiosas mais liberais provavelmente iriam colidir com o wahhabismo – a religião ultraconservadora do Estado. Esta é provavelmente a principal razão que faz a Arábia Saudita não absorver refugiados.
Na Alemanha, esta política é criticada. O jornal "Handelsblatt" acusa a Arábia Saudita de fugir das suas responsabilidades. "Este seria o momento para a Arábia Saudita e os países super ricos do Golfo – por uma obrigação moral, como vizinhos imediatos das zonas de guerra – ajudarem muito mais os refugiados atormentados na região", escreveu o jornal alemão.