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O peso dos trens no Acordo Verde europeu

Sergio Matalucci cn
12 de fevereiro de 2020

Voltado a reduzir emissões que causam as mudanças climáticas, pacto prevê medidas para Europa ser o primeiro continente a atingir a neutralidade climática. Nesse cenário, futuro do setor ferroviário é promissor.

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Passageiros entram em ICE na estação central de Hamburgo
Emissões no setor ferroviário são de apenas 1,6% no bolo dos transportesFoto: Imago Images/F. Sorge

Os trens noturnos estão vivendo um retorno glorioso em vários países europeus. Após uma pausa de 16 anos, em meados de janeiro a conexão noturna entre Viena e Bruxelas voltou a partir da capital austríaca.

A companhia ferroviária nacional da Áustria, ÖBB, que opera a rota, planeja também lançar uma conexão noturna Viena-Bruxelas até o fim de 2020. A estatal não é a única que vê uma oportunidade na mudança de hábito dos europeus e na crescente preocupação com o meio ambiente.

Em 2017, as emissões no setor de transportes da Europa superaram em 28% os níveis registrados em 1990. Atualmente em discussão na Comissão Europeia, o Acordo Verde pretende reverter essa tendência.

"Por meio do Acordo Verde, nos comprometemos a fazer que o setor de transportes da Europa contribua com os esforços para combater as mudanças climáticas. Todos os meios precisam colaborar, mas o ferroviário é um divisor de águas, enquanto maneira verdadeiramente sustentável de transportar passageiros e cargas", disse a Comissária Europeia de Transportes, Adina-Ioana Valean, à DW.

O rodoviário é o principal emissor de CO2 do setor de transportes na União Europeia (UE), responsável por 73% das emissões, seguido pela aviação, 13%, e marítimo, 11%. Dado ao elevado grau de eletrificação, o ferroviário fica em quarto lugar, com apenas 1,6%.

Valean lembrou haver diferenças significativas entre os Estados-membros em relação à malha ferroviária, mas os recursos para programas nessa área devem ser destinados a regiões menos desenvolvidas, por meio de instrumentos como o Fundo de Coesão.

A comissária descartou, por enquanto, metas no transporte. "O que precisamos é entender quais são os gargalos na malha e quanto investimento é necessário. Portanto, não é o momento certo para metas. Antes disso, precisamos de uma avaliação forte". Ela acrescentou que o Quarto Pacote Europeu Ferroviário está sendo implementado, promovendo a liberalização do mercado e o aumento a competição no serviço de passageiros.

"A concorrência aumentará especialmente depois de junho de 2020, quando os países remanescentes da UE se unirão aos oito primeiros que já adotaram a diretiva de junho de 2019", afirmou o diretor-executivo da Agência da União Europeia para Ferrovias (ERA), Josef Doppelbauer.

"A Trenitalia, da Itália, por exemplo, solicitou à ERA o certificado único de segurança e autorização de veículos para poder operar na França. A francesa SNFC e a Trenitalia entrarão no mercado espanhol em junho de 2020."

Além de implementar a regulamentação da UE sobre interoperabilidade e segurança, a ERA emite desde junho de 2019 os certificados únicos de segurança e autorização de veículos. "Isso significa que para trens que operam em vários países uma autorização emitida pela ERA é suficiente", explicou o diretor-executivo da agência.

Doppelbauer avaliou que há ainda muito espaço para melhorias. "Por exemplo, o primeiro trem noturno de Viena para Bruxelas precisa ficar parado por 30 minutos em Aachen para que a locomotiva seja trocada devido a questões de compatibilidade técnica. O maquinista também é substituído por um que fale flamengo."

Segundo Doppelbauer, rotas nacionais como Barcelona e Madri já mostram que é possível "substituir voos domésticos menos ecológicos com a redução do tempo e do preço da viagem".

A capacidade do transporte ferroviário de competir com a aviação dependerá agora de investimentos em trilhos, que compete a cada um dos países membros da UE. Nesse quesito, porém, ainda há grandes diferenças de abordagem. Enquanto países como a Itália continuam diminuindo os investimentos no setor, a Alemanha, por exemplo, está aumentando o repasse de recursos, mesmo com a recente redução dos preços. No mês passado, o governo alemão anunciou um plano de investimentos de 86 bilhões de euros ao longo próxima década.

"É uma contribuição adicional de 64 euros por pessoa ao ano, chegando a quase 140 euros, mas ainda está longe do investido na Áustria ou Suíça". De acordo com Doppelbauer, a satisfação do cliente está diretamente ligada ao volume de investimentos per capita no setor.

Ele observou que os passageiros da Suíça foram os mais satisfeitos em 2018, o país também é o que mais investe no setor, 365 euros por pessoa ao ano. "A Áustria ficou em segundo lugar no ranking com gastos de 218 euros per capita. Na Alemanha, esse valor atualmente é de 77 euros."

Apesar das perspectivas promissoras, o transporte de carga continua sendo um empreendimento mais difícil: "Temos um crescimento no volume de passageiros, mas não temos os mesmos números para o frete", apontou o diretor-executivo da Comunidade de Empresas Ferroviárias e de Infraestrutura Europeias, Libor Lochman.

"A participação do setor ferroviário no transporte de mercadorias na UE está caindo, passando de mais de 18% para menos de 17% nos últimos anos", disse James Nix, diretor de frete do Transporte e Meio Ambiente, um grupo de campanha de transporte limpo. Como as rodovias detêm a parte do leão do transporte de carga, "montantes muito substanciais estão sendo investidos no frete ferroviário".

"Pedimos que o Acordo Verde impulsione, tanto quanto possível, a transferência do frete da rodovia para os trilhos, mas para isso é preciso melhorar a malha ferroviária europeia transfronteiriça", explicou Valean. É necessário construir conexões e capacidades intermodais, além de aperfeiçoar de atividades fronteiriças.

As perspectivas continuam auspiciosas, e um apoio importante vem de ambientalistas e da indústria. "A regulamentação da UE também ajudará o setor a definir um processo de padronização técnica uniforme", disse o diretor-geral da União Internacional de Ferrovias, François Davenne. Ele avalia que o Acordo Verde terá consequências sobre as ferrovias em muitas regiões do mundo, não somente na Europa.

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