Onde está o dinheiro de Assad, ditador deposto da Síria?
17 de dezembro de 2024Ninguém sabe realmente quanto dinheiro o ditador sírio Bashar al-Assad e sua família têm. A estimativa mais próxima e provavelmente mais realista foi dada pelo Departamento de Estado dos EUA em um relatório de 2022 ao Congresso. O documento sugere que a riqueza pessoal de Assad e sua esposa, Asma, provavelmente seria de entre 1 bilhão e 2 bilhões de dólares (R$ 6,2 bilhões e R$ 12 bilhões).
A família Assad possui imóveis em Dubai, Moscou e Londres, e tem dezenas de contas bancárias secretas.
A imprensa britânica relatou que quando estourou a guerra civil síria, as autoridades do Reino Unido congelaram uma conta de Assad com 40 milhões de libras (R$ 311 bilhões) em uma agência do banco internacional HSBC em Londres.
A estimativa da fortuna pessoal de 1 bilhão de dólares é provavelmente apenas uma pequena parte das riquezas da família Assad. Alguns analistas especulam que o clã também teria 200 toneladas de ouro e ativos no valor de cerca de 22 bilhões de dólares, e uma rede oculta de ativos no valor de até 122 bilhões de dólares.
Tudo isso, apesar de, segundo especialistas, Assad ter cultivado uma imagem de "homem do povo" e de moradores locais afirmarem ao jornal americano The Washington Post que a família utilizava automóveis comuns e frequentava escolas comuns.
Informações sobre dinheiro e ativos apreendidos por autoridades e processos judiciais envolvendo membros da família, como os Makhloufs, primos de Assad, indicam quanto dinheiro o ditador e seus comparsas drenaram da economia síria.
Acredita-se, por exemplo, que Rami Makhlouf, um primo de Assad, tenha sido o homem mais rico da Síria depois do próprio ditador até ele se desentender com o regime. Sua fortuna foi estimada entre 5 bilhões e 10 bilhões de dólares.
Outro primo de Assad, Hafez Makhlouf, teve uma conta bancária contendo cerca de 3,2 milhões de dólares congelada pelas autoridades suíças em 2016, por suspeitas de lavagem de dinheiro.
Em 2017, autoridades espanholas e francesas apreenderam cerca de 600 milhões de euros (R$ 3,8 bilhões) em propriedades pertencentes ao tio de Assad, Rifaat Assad, incluindo hotéis, restaurantes e outros imóveis.
Como os Assad acumularam tanto dinheiro?
"Os Assad estão direta ou indiretamente envolvidos em quase todas as operações econômicas de grande escala na Síria", afirma o relatório do Departamento de Estado dos EUA de 2022.
Segundo o documento, a família também está envolvida com o tráfico de drogas, contrabando de armas e extorsão, e administra os lucros dessas atividades por meio de "estruturas corporativas aparentemente legítimas e entidades sem fins lucrativos".
"Devido à influência indiscutível [de Assad] sobre o setor público como chefe de Estado, ele tem poder irrestrito para orientar e direcionar negócios estatais para empresas que ele controla por meio de suas frentes de negócios", explicaram o economista político sírio Karam Shaar e o cientista político Steven Heydemann em um artigo de 2024 para o Brookings Institute.
Um exemplo dado por eles descreve a maneira como uma empresa administrada por dois comparsas de Assad recebeu um contrato do governo para manter e renovar as duas maiores usinas de energia da Síria que estavam "supostamente sendo consideradas para uma isenção de sanções ocidentais para que pudessem ser reformadas".
Shaar e Heydemann afirmam que, nos últimos anos, Assad vinha consolidando seu controle sobre fontes de renda enquanto aparentemente tentava canalizar a riqueza de aliados e familiares para si mesmo.
Segundo os dois especialistas, isso incluiu uma disputa em 2020 com o primo bilionário Rami Makhlouf. Ele foi afastado, supostamente colocado em prisão domiciliar, enquanto Assad assumia seu império.
Mais recentemente, o regime de Assad ficou conhecido por estar por trás do aumento da produção e do comércio de captagon, uma metanfetamina viciante.
O que aconteceu com o dinheiro dos Assad?
Está claro que Assad deixou a Síria às pressas, sem – de acordo com a agência de notícias Reuters – nem mesmo avisar alguns de seus assessores mais próximos ou familiares. Sua esposa, que está sendo tratada de câncer, já estava na Rússia com os três filhos do casal.
Relatos e vídeos filmados por sírios que entraram nas casas e escritórios de Assad indicam que a família deixou muita coisa para trás, incluindo móveis sofisticados, produtos de grife e uma garagem cheia de carros de luxo – incluindo uma Ferrari, uma Lamborghini e um Rolls-Royce. Eles, porém, não estarão de mãos vazias na Rússia.
"Haverá uma caçada internacional aos ativos do regime ", afirmou Andrew Tabler, ex-funcionário da Casa Branca que trabalhou anteriormente para identificar os ativos da família Assad, ao Wall Street Journal. "Eles tiveram muito tempo antes da revolução para lavar seu dinheiro. Eles sempre tiveram um plano B e agora estão bem equipados para o exílio."
Nesta semana, o jornal britânico Financial Times relatou que entre 2018 e 2019 o Banco Central Sírio enviou um avião com 250 milhões de dólares em dinheiro para o aeroporto de Vnukovo, a sudoeste de Moscou.
"As transferências fora do comum a partir de Damasco ressaltam como a Rússia, um aliado crucial de Assad que lhe emprestou apoio militar para prolongar seu regime, se tornou um dos destinos mais importantes para o dinheiro da Síria, à medida que as sanções ocidentais o empurravam para fora do sistema financeiro", afirmou o jornal.
O Financial Times também relatou anteriormente que os Assad possuiriam pelo menos 18 apartamentos de luxo em Moscou. Entre 2018 e 2019, outros membros da família também compraram ativos na Rússia.
Sírios apelam por restituição de fortuna
Mesmo que os Assad tivessem apenas uma fração da riqueza atribuída a eles por várias organizações, os números ainda seriam um contraste terrível com a situação econômica em que os sírios comuns se encontram.
Desde o início da guerra civil, o Produto Interno Bruto (PIB) do país despencou para cerca de 9 bilhões de dólares e parece fadado a definhar ainda mais em 2024, de acordo com os últimos cálculos do Banco Mundial. "Desde 2022, a pobreza afeta 69% da população, o que equivale a cerca de 14,5 milhões de sírios", avaliam os pesquisadores da instituição internacional.
Como resultado, organizações sírias de direitos humanos fizeram apelos para que a fortuna de Assad fosse encontrada e devolvida – por exemplo, as 40 milhões de libras esterlinas que estariam naquela conta congelada do HSBC em Londres. Com a correção monetária, esse valou aumentou para 55 milhões de libras.