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Opinião: A América se faz menor do que nunca

Christina Bergmann é jornalista da DW
Christina Bergmann
19 de junho de 2018

Política de tolerância zero de Trump para com imigrantes sem visto já resultou em mais de 2 mil crianças separadas dos pais. Onde foram parar os valores fundamentais dos EUA?, questiona Christina Bergmann.

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Separação de imigrantes e seus filhos na fronteira do México causou indignação internacional
Separação de imigrantes e seus filhos na fronteira do México causou indignação internacionalFoto: Getty Images/J. Moore

Nem sei por onde começar. Pelas mentiras com que o governo dos Estados Unidos tenta, também desta vez, empurrar a culpa para cima dos outros? A hipocrisia dos que juram sobre a Bíblia e na prática pisoteiam os mais fracos? Ou por um presidente que não tem consideração por nada nem ninguém, quando se trata de impor seus interesses? Que não hesita nem em tomar crianças como reféns?

Sim, é verdade que este governo não ordenou explicitamente que se separassem as crianças dos pais na fronteira: essa observação da secretária de Segurança Interna, Kirstjen Nielsen, é correta. A lei relativa ao tratamento dos imigrantes ilegais não foi mudada formalmente, nos últimos meses.

E apesar disso – ou justamente por essa razão –, Nielsen, o governo Trump não podem se furtar à responsabilidade. Pois só eles são responsáveis pelo que acontece agora na fronteira dos EUA com o México. É a "política de tolerância zero" deles, anunciada pelo secretário de Justiça Jeff Sessions em abril, que resulta em todos e todas serem detidos agora na fronteira.

Segundo essa lei, agora se parte do princípio que os imigrantes cometeram um crime, independente de estarem sós ou com crianças, se pretendem entrar com pedido de refúgio ou não, se têm realmente um passado criminoso ou não.

E isso significa que os pais são indiciados e presos, sem exceção, as crianças de El Salvador, Honduras ou Guatemala têm que ser separadas deles. Mais de 100 dos garotos e garotas separados dos pais em abril e maio tinham menos de quatro anos de idade. Que tipo de ser humano justifica um procedimento desses?

Sob o governo de Barack Obama, as famílias de migrantes só eram separadas em casos excepcionais, a maioria podia apresentar sua solicitação de asilo nos EUA e esperar pelo processo. Na época, a Justiça criminal só se concentrava em membros de gangue e criminosos violentos.

Então quando o presidente Donald Trump afirma que os democratas seriam os culpados pela situação, é uma mentira descarada. Ainda mais deslavada é a afirmação de que os democratas poderiam mudar algo na situação. Quem tem a maioria no Congresso são os republicanos, só eles têm poder de mudar leis agora!

Mas os deputados republicanos preferem se fazer de desentendidos, e no domingo postaram lindas fotos no Twitter, desejando a todos os seus eleitores e eleitoras um "feliz Dia dos Pais". Mais cínico do que isso, não dá.

A tática de Trump é óbvia: ele toma as crianças como reféns e as utiliza como reféns, pois quer forçar os democratas no Congresso a aprovarem uma reforma das leis de imigração segundo os desejos dele.

"Se quiserem diminuir o sofrimento das crianças", é a mensagem, "aprovem as nossas leis de imigração mais duras – e um muro entre os EUA e o México." O fato de estar, assim, abalando os fundamentos democráticos do país obviamente tanto faz para ele. Punição coletiva só existe em ditaduras, não em democracias.

Mas tudo se encaixa: afinal de contas Trump tacha de "fracos" democratas como o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, e em contrapartida admira abertamente ditadores como Kim Jong-un, da Coreia do Norte, cujos súditos fazem posição de sentido para escutá-lo.

Assustador, porém, não é apenas quão longe Donald Trump e seu governo estão dispostos a ir. Assustador é o Partido Republicano e tantos americanos e americanas os deixarem fazer o que querem; é fecharem os olhos a tantas mentiras e hipocrisia, aos ataques à imprensa e às instituições democráticas; é tolerarem a desumanidade.

"Make America great again", exortava Donald Trump em sua campanha eleitoral. Desse jeito, contudo, os Estados Unidos certamente vão ser tudo, menos "grandes".

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