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Trump lança ataques à política de Merkel para refugiados

18 de junho de 2018

Duramente criticado por sua política migratória de tolerância zero, presidente americano diz que governo alemão está perdendo o apoio da sociedade e alega, erroneamente, que crimes crescem no país por culpa de migrantes.

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Merkel e Trump, durante a cúpula dos países do G7 no Canadá
Merkel e Trump, durante a cúpula dos países do G7 no Canadá, em 8 de junhoFoto: Reuters/Y. Herman

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disparou duras críticas nesta segunda-feira (18/06) contra o governo da chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirmando que a liderança do país europeu está perdendo o apoio da população em relação à questão migratória.

"O povo da Alemanha está se voltando contra seus governantes, enquanto a migração está abalando a já frágil coalizão em Berlim", declarou o republicano em mensagens publicadas no Twitter.

O comentário vem num momento em que Merkel luta para salvar sua aliança governista em meio às demandas do ministro do Interior, Horst Seehofer, a favor do endurecimento dos controles nas fronteiras e das leis sobre imigração.

Criticado por sua política migratória de tolerância zero, Trump alegou que governos de toda a Europa cometeram um "grande erro" ao permitir a entrada de milhões de refugiados, "que mudaram tão fortemente e violentamente sua cultura".

"Nós não queremos que aconteça conosco o que está acontecendo com a imigração na Europa", acrescentou o presidente americano, dirigindo-se a seu eleitorado.

Em declaração comprovadamente falsa, Trump afirmou ainda que o "crime está crescendo na Alemanha" por culpa do fluxo de migrantes. Dados oficiais mostram, na verdade, que o país registrou os menores índices de criminalidade em mais de 25 anos.

Em 2017, o número de crimes na Alemanha caiu quase 10% em relação ao ano anterior, segundo revelou recentemente o Ministério do Interior do país. Além disso, os casos cujos suspeitos são de nacionalidade não alemã foram reduzidos em 22,8%.

Estudos separados sugerem ainda que migrantes iraquianos e sírios na Alemanha são menos propensos a cometer crimes, pois não querem estragar suas chances de obter refúgio.

Em janeiro de 2017, pouco antes de assumir a Casa Branca, Trump havia declarado que a política de portas abertas a refugiados de Merkel foi "um erro catastrófico", e que a Alemanha pagaria por isso. Desde que chegou ao cargo, no entanto, ele vinha evitando criticar publicamente o governo alemão em relação ao tema.

Desde 2014, mais de 1,6 milhão de pessoas buscaram asilo na Alemanha, segundo dados oficiais. A maioria delas chegou no auge da crise dos refugiados, em 2015, fugindo dos conflitos na Síria, Iraque e Afeganistão. No fim de 2017, havia mais de 361 mil pedidos de refúgio pendentes no sistema judiciário alemão.

Críticas à intervenção de Trump

Rolf Mützenich, especialista em relações exteriores do Partido Social-Democrata (SPD), que integra a coalizão liderada por Merkel, criticou o presidente americano por interferir na política interna alemã.

"Como fez anteriormente o embaixador americano, Trump está tentando influenciar o debate político interno em favor de conservadores de direita e elementos populistas na Alemanha", afirmou Mützenich em entrevista à DW.

Ele se referia ao novo embaixador dos EUA em Berlim, Richard Grenell, que no início de junho foi acusado de quebrar o protocolo diplomático ao demonstrar publicamente apoio a políticas de direita na Europa.

O especialista acrescentou que Berlim "não mudará seus princípios constitucionais de cooperação europeia, aprendidos com a história, para se alinhar com a política 'America first' de Washington".

Imigração "made in America"

As declarações de Trump ocorrem num momento complicado tanto para o presidente americano quanto para a chefe de governo alemã em relação ao tema imigração.

Nos Estados Unidos, a separação de centenas de crianças de seus pais na fronteira do país com o México, como resultado de uma política migratória de tolerância zero do governo Trump, vem gerando indignação.

Democratas e republicanos criticaram a medida, que levou a protestos pelo país no fim de semana e foi comentada negativamente até mesmo pela primeira-dama, Melania Trump.

Cerca de 2 mil crianças foram separadas de suas famílias desde abril, quando o procurador-geral Jeff Sessions anunciou a política de tolerância zero do governo federal. A medida prevê que todos que tentarem cruzar ilegalmente a fronteira, inclusive requerentes de refúgio, sejam indiciados.

A política resulta na separação das crianças, que não são alvo de uma acusação criminal, dos adultos, sem que haja procedimentos claros para a reunificação entre os familiares. Os menores de idade são, em geral, mantidos em instalações do governo ou colocados sob adoção temporária.

Em declarações na Casa Branca nesta segunda-feira, Trump reforçou que não deixará seu país se tornar um campo de refugiados. "Os Estados Unidos não serão um acampamento de migrantes, nem uma instalação de abrigo de refugiados", declarou o republicano.

"Vejam o que está acontecendo na Europa e em outros lugares. Não podemos permitir que isso aconteça nos Estados Unidos. Não sob o meu comando", reiterou.

Um tema alemão

Já em Berlim, o impasse ocorre entre os dois líderes do conservadorismo na Alemanha, Merkel e Seehofer, cujos partidos são aliados de longa data. O caso representa uma das piores crises enfrentadas pela chanceler federal, podendo até lhe custar o cargo.

De um lado está a CDU, de Merkel, do outro, a aliada bávara CSU, liderada por Seehofer. O atual ministro do Interior é um crítico da postura liberal da chefe de governo em relação a refugiados e defensor do endurecimento do controle das fronteiras.

O político exige, como parte de um novo "plano mestre para a imigração", que as forças de segurança nas fronteiras alemãs tenham o poder de recusar a entrada de refugiados sem documentos de identidade ou que já estejam registrados em outros países da União Europeia. Merkel rejeita a ideia, temendo que Bruxelas enxergue a medida como um ato unilateral de Berlim.

Em meio à disputa, que ameaça rachar a aliança de décadas entre os dois partidos, a chanceler federal convenceu Seehofer a esperar até a realização de uma cúpula entre os países da UE no fim do mês, quando ela pretende fazer avançar reformas migratórias em todo o bloco europeu.

EK/afp/dpa/efe/rtr/dw

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