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Opinião: Vai demorar para o Japão abandonar a energia nuclear

Alexander Freund (sv)11 de março de 2013

Uma constatação amarga para os japoneses é que a política nuclear, incentivada por décadas, não pode ser simplesmente posta de lado de uma hora para a outra, observa o chefe do Departamento Ásia da DW, Alexander Freund.

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Vá entender os japoneses! Será que eles não aprenderam nada com a devastadora catástrofe nuclear de Fukushima? É assim que muita gente na Alemanha pensa, com perplexidade, dois anos depois do ocorrido. Apesar de uma extensa área nas imediações de Fukushima ter ficado inabitável por décadas? Apesar de a empresa Tepco, que administra a usina nuclear, ter sido estatizada, ou seja, são os contribuintes que arcam com os prejuízos? Para os políticos e para o lobby nuclear, a questão da culpa está esclarecida: a falha foi humana, não da tecnologia. As pessoas desrespeitaram as regras e reagiram de maneira incorreta. A tecnologia funcionou.

O raciocínio dos defensores da energia atômica é simples: quando se aprende com os erros e as regras são respeitadas, a energia nuclear é dominável, argumentam. Este é também o pensamento das lideranças japonesas. Em vez de uma ousada mudança na política energética, o novo governo de antigas cabeças agarra-se à energia nuclear e até novos reatores estão sendo planejados. Vá entender os japoneses!

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Alexander FreundFoto: DW

Mas a questão não é tão simples assim. Os japoneses, amantes da tecnologia, aprenderam, sim, suas lições com Fukushima. Mas são constatações muito amargas. Eles tiveram que reconhecer que o Japão, economicamente debilitado, simplesmente não está em condições de abandonar a energia atômica se quiser competir com uma potência em crescimento como a China. E os chineses agarram-se firmemente à energia nuclear, da mesma forma que os outros vizinhos asiáticos e concorrentes.

Para o Japão, um país pobre em matérias-primas, as importações de energia em grande escala são, a longo prazo, aliadas a custos muito altos: carvão da Austrália, gás dos EUA, petróleo do Oriente Médio e do Sudeste Asiático. Além disso, a superpotência China poderia facilmente cortar essas rotas comerciais vitais, o que é uma preocupação legítima, como mostraram as divergências bilaterais dos últimos meses.

Ou seja, a opção pela energia nuclear não surge de uma crença cega nessa tecnologia – ela apenas indica a falta de alternativas.

Por isso os alemães deveriam se conter nas suas acusações e conselhos bem intencionados. Até mesmo para a Alemanha é consideravelmente difícil abandonar, como planejado, a energia nuclear, apesar de existir um consenso na sociedade a esse respeito. Há desafios tecnológicos e políticos, como a construção de novas linhas de transmissão. Há as consequências sociais e econômicas dos inevitáveis aumentos nos custos da energia. Mas, se comparadas aos problemas do Japão, essas são preocupações modestas, que uma sociedade baseada na solidariedade, como a alemã, certamente consegue superar.

Além disso, a Alemanha encontra-se numa posição relativamente confortável. Se uma alta no consumo ocasionar um gargalo no fornecimento de energia, sempre é possível comprar da vizinha França ou de algum outro país europeu. Já o Japão, uma ilha, não pode simplesmente pegar energia emprestada de algum vizinho.

E no que diz respeito às fontes alternativas de energia: isso ainda vai levar anos. A construção de parques eólicos no mar é difícil, tendo em vista a costa com recifes abruptos e tufões que atingem regularmente todo o país.

Por outro lado, a localização do Japão, no Círculo de Fogo do Pacífico, poderia ser melhor aproveitada através de novas instalações geotérmicas. O país também poderia reduzir sensivelmente o seu exorbitante consumo energético melhorando o isolamento térmico de suas construções e adotando um comportamento mais sustentável do ponto de vista ambiental. Mas tudo isso não será suficiente para garantir o abastecimento de energia para as megalópoles de uma nação altamente tecnológica. Pelo menos não por enquanto.

Uma das amargas constatações dos japoneses é que a política nuclear, incentivada durante décadas, não pode ser simplesmente deixada de lado de uma hora para a outra. A construção de um sistema de abastecimento energético alternativo para o Japão vai demorar no mínimo até 2040.

A condição para que isso aconteça é que a população pressione os governantes por uma mudança energética. Para isso é necessário ter paciência, mesmo que muitos japoneses já tenham perdido há muito a confiança nos políticos. Mas, se comparados com o tempo desnecessário para despoluir uma área radioativa, os 30 anos seguintes são um período razoável. O altamente tóxico plutônio tem uma meia-vida de mais de 24 mil anos. Um governo japonês não costuma durar mais do que um.