Opinião: A grande fuga
A primavera começou no Hemisfério Norte. E, mais uma vez, os refugiados vêm para a Europa. As causas são muitas: pobreza, falta de escolaridade, falta de oportunidade de emprego, ditaduras, despotismo, tortura, perseguição, opressão, guerra civil, conflitos, e muitas vezes, um Estado que se desintegrou e é dominado por gangues de saqueadores.
É a miséria absoluta, a desesperança que faz com que as pessoas saiam de seu país rumo ao estrangeiro, para tentar uma nova vida, na esperança de ter um pouco mais de sorte. As pessoas vêm da Eritreia, Somália, Líbia, Síria, Iraque, Afeganistão, e de muitos outros países – sem falar dos movimentos migratórios dentro das regiões em crise.
Estimam-se que cerca de 50 milhões de refugiados estejam a caminho. Numa odisseia extremamente perigosa, muitas vezes fatal. Pois eles não fazem os trajetos de fuga sozinhos. Eles são iludidos por gangues criminosas, percorrendo muitas vezes caminhos árduos – como, por exemplo, partindo da Síria, através da Turquia, ou da Argélia, através do deserto para a Líbia e, depois, de barco, rumo ao continente da esperança, a Europa. Isso se não forem abandonados pela tripulação do navio e morrerem afogados. Esse moderno comércio de escravos já se tornou há muito tempo um negócio bilionário – cruel e cínico.
Então, os refugiados chegam, são amontoados em abrigos, às vezes recebem tratamento médico, e frequentemente são deportados após um curto período de tempo. Ou submergem na ilegalidade, tentam sobreviver com empregos ilegais, muitas vezes degradantes, lutando para alimentar suas famílias.
Alguns recebem ajuda e apoio das próprias famílias; outros, de trabalhadores voluntários que prestam assistência a imigrantes. E outros dependem da benevolência de Estados que lhes concedem asilo. E muitos, muitos mesmo, têm que retornar à pobreza e à falta de esperança das quais fugiram.
A DW preparou um especial para abordar o problema dos refugiados – desde a partida até a fuga em si e a chegada. A série se destina a retratar países a partir dos quais as pessoas fogem. Também pretende mostrar a viagem longa, perigosa e muitas vezes fatal. E descreve também o que aguarda os refugiados ou requerentes de asilo que chegam à Alemanha e à Europa.
O especial da DW mostra a realidade, as esperanças e as decepções, as pequenas vitórias e grandes derrotas, retrata seres humanos e o desamparo político. Receber os refugiados, ajudá-los em casos de naufrágio, é um dever humano óbvio. Mas também é correto que nem todos os que querem possam vir. O direito de asilo é um direito sagrado, mas que no momento tem sido abusado.
No entanto, só uma coisa importa para centenas de milhares de pessoas nas praias do norte da África: o próximo barco para a Europa. Para elas, o que importa é chegar, sobreviver à travessia.