1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Oriente Médio

19 de janeiro de 2009

Tanto Israel quanto o Hamas proclamam a retirada das tropas israelenses de Gaza como uma vitória própria. O que é digno de tanta comemoração, pergunta Peter Philipp, articulista da Deutsche Welle.

https://p.dw.com/p/Gc82

Depois que a guerra na Faixa de Gaza finalmente foi atingido um cessar-fogo, as vítimas ficaram em segundo plano e os "vencedores" se lançam ao primeiro plano. E cada um agora quer ser vencedor.

Peter Philipp
Philipp Peter

Não falta a porção habitual de cinismo típico do Oriente Médio: o ainda primeiro-ministro Ehud Olmert, bem como seu parceiro de coligação, o ministro da Defesa Ehud Barak, trocam amabilidades antes que seus partidos retomem a campanha eleitoral interrompida. E pelos alto-falantes da mesquita de Gaza, Ismail Haniyeh, líder do Hamas, anuncia do esconderijo que seu movimento alcançou uma vitória.

Os políticos israelenses reiteram que o alvo da "operação" foi atingido. O que era então esse alvo? A destruição do Hamas? Ela fracassou da mesma forma que, em 2006, a eliminação do Hisbolá no Líbano. Ou esse alvo era o impedimento duradouro do lançamento de foguetes partindo de Gaza? Nas primeiras horas do cessar-fogo, já foram lançados tais foguetes de novo. O tráfico de armas para Gaza tampouco pôde ser impedido de forma confiável. Não fosse o caso, os líderes europeus teriam viajado ao Oriente Médio para exigir exatamente isso?

O Hamas, por outro lado, tenta se colocar como a única resistência real e eficaz contra a ocupação israelense. Pelos menos aos palestinos deveria estar claro que, desde a subida do Hamas ao poder, Israel vem causando sérios problemas à Faixa de Gaza. Esta não é, de fato, mais "território ocupado" desde que Israel se retirou em 2005.

O Hamas coloca agora até mesmo condições para a manutenção do próprio cessar-fogo, anunciado com atraso: Israel teria que se retirar dentro de uma semana, se não... Se não o quê? Com o que o Hamas quer e pode ameaçar hoje? Com a idéia de que vai retomar a luta? O mundo já viu o que isso significa. Ou ameaça com a possibilidade de rejeitar as negociações de paz com Israel? Se o Hamas, até agora, teve algum princípio, era esse.

Nem o governo israelense nem o Hamas deveriam fazer uso do cessar-fogo com propósitos políticos. Eles deveriam se ater incondicionalmente a esta trégua e entender de uma vez por todas que não foi a generosidade humanitária que levou ao cessar-fogo, mas muito mais a mera falta de saídas: os dois lados só vieram provar o que já é, há muito, sabido, ou seja, que um conflito militar não traz solução alguma, mas sim um acirramento das posições e com isso um novo conflito.

Em função dessa loucura, mais de mil pessoas tiveram que morrer, milhares ficaram feridas e meio milhão continua sofrendo. Só para, agora, ser possível pensar sobre o futuro incerto de uma trégua? Neste momento, é preciso encontrar os meios e os caminhos para levar adiante negociações de paz substanciais, a fim de impossibilitar para todo o sempre guerras como essa em torno de Gaza. Isso, porém, é mais difícil do que mobilizar aviões e tanques de guerra ou anunciar palavras de ordem vazias. Os palestinos precisam, apesar de todo seu sofrimento, estender a mão para a paz. E Israel precisa acatar tal oferta de maneira honesta e com seriedade.

E quem quiser impedir que isso aconteça deveria ser isolado e ignorado politicamente. E não eleito. Nem entre os israelenses nem entre os palestinos. Uma sensação estranha diz, no entanto, que isso não vai acontecer. (sv)

Peter Philipp é articulista da Deutsche Welle especializado em Oriente Médio. Durante 23 anos ele foi correspondente em Jerusalém.