1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Opinião: Acontecimentos na Tunísia são alerta a governos árabes

17 de janeiro de 2011

Não é só na Tunísia que a falta de perspectiva da juventude abriga um enorme potencial de revolta, opina o editor da redação árabe da Deutsche Welle, Rainer Sollich.

https://p.dw.com/p/zyk8

O que aconteceu na Tunísia é um evento histórico e um forte sinal para todo o mundo árabe. Os fatos mostram que a população pode ser bem-sucedida ao se levantar contra governantes autoritários e corruptos, e que o regime change é possível com as próprias forças – sem intervenções militares, internas ou externas, e até mesmo sem a liderança de políticos de oposição ou de representantes da sociedade civil.

Em blogs e fóruns da internet árabe, tornou-se visível uma onda de simpatia com a juventude tunisiana, o que deveria servir de aviso aos governantes da região. Injustiças sociais, corrupção e desemprego entre os jovens são praticamente onipresentes na região e a repressão política está na ordem do dia em muitos países.

Some-se a isso a ira e a frustração com as más perspectivas de vida e um profundo sentimento de privação da honra pessoal – uma mistura altamente explosiva numa região já instável e cheia de conflitos.

A Tunísia não é um caso isolado, em muitos países árabes há revolta, ao menos subliminar. E em praticamente todos os países é justamente a juventude – que representa, na prática, a ampla maioria da população – que possui o maior potencial de protesto. A Algéria e a Jordânia também vivenciaram protestos violentos nos últimos dias, também no Egito eles acontecem com frequência. Em outros países, pode acontecer o mesmo.

Uma dinâmica de difícil controle como essa é desejável apenas até certo ponto. A revolta da juventude tunisiana levou à queda de um governante autoritário – o que é indiscutivelmente um resultado positivo. Mas houve mortos durante os protestos e a situação do país é de total incerteza. Na melhor das hipóteses, a Tunísia pode se transformar num modelo de Estado democrático para toda a região. Na pior delas, pode haver mais caos e derramamento de sangue.

Sobre todos os atores sociais na Tunísia repousa agora uma grande responsabilidade, cujo simbolismo ultrapassa as fronteiras do próprio país. As forças restantes do velho regime, mas também a oposição, a cidade civil e "as ruas" – todos têm o dever de iniciar uma troca de poder transparente e ordenada.

Deve ficar claro que o velho regime realmente entregou o poder e deixou o caminho livre para a liberdade, o pluralismo e mais justiça social. Mas também a violência nas ruas precisa agora chegar rapidamente ao fim.

A Europa, como vizinha do Magreb e do mundo árabe, também deveria tirar lições dos acontecimentos na Tunísia. A mais importante delas diz: não se deve fechar os olhos quando governantes que cooperam politica e economicamente com a União Europeia desrespeitam direitos humanos elementares ou – como no recente caso do Egito – descaradamente manipulam eleições.

O exemplo da Tunísia deixa claro que regimes autoritários prometem uma estabilidade apenas ilusória.

Autor: Rainer Sollich (as)
Revisão: Rodrigo Rimon