A conferência sobre o clima na escocesa Glasgow foi boa ou ruim? Tão caótico e confuso foi o encontro, tão variadas são as opiniões. Os cientistas dizem que a lacuna entre as demandas para que as mudanças climáticas sejam finalmente combatidas e os passos lentos dados pelos países nunca foi tão grande quanto agora. A pressão externa por mais ação também foi maior do que nunca. Os movimentos globais de proteção do clima, como o Fridays for Future, também estiveram fortemente presentes em Glasgow.
Eliminação do carvão citada pela primeira vez
No texto de encerramento da conferência, pela primeira vez em um encontro climático da ONU é explicitamente mencionada a necessidade de um rápido fim do uso dos combustíveis fósseis, mesmo que, sob a pressão dos países ricos e economias emergentes, a formulação concreta tenha sido cada vez mais enfraquecida.
Aos países pobres, foi prometida pelos países ricos uma duplicação, já dentro de alguns anos, dos fundos para ações de adaptação às mudanças climáticas. Os EUA e a China, os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, se reuniram em Glasgow após meses de permanente gelo diplomático para uma declaração conjunta prometendo redobrar seus esforços.
A meta de não permitir que o aquecimento global aumente mais de 1,5 grau Celsius até o final do século agora é a referência; ninguém fala mais da meta de 2 graus que há não muito tempo determinava os debates sobre política climática. Comparado com as resoluções de conferências anteriores sobre o clima, este é um progresso impressionante.
Duas realidades
Mas não em termos das realidades. A ciência elegeu a década até 2030 como a mais decisiva na luta contra o aquecimento global. A presidência britânica da conferência reagiu a isso promovendo todo um espalhafatoso leque de iniciativas de países individuais durante os dias em Glasgow: para limitar emissões do gás de efeito estufa metano, para proteção das florestas nos países pobres, para acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis, tudo até 2030.
Olhando mais de perto, no entanto, todas essas iniciativas são voluntárias e não vinculativas como sempre. Exatamente como as resoluções da conferência do clima.
Confiabilidade
Em todas as conferências sobre o clima, confiabilidade é o mais importante. As resoluções dificilmente são executáveis; seu objetivo é sempre desenvolver uma dinâmica positiva e algo como um mote comum de referência para todos os cerca de 190 Estados da ONU. E também criar pressão nos países ricos, cujos cidadãos estão cada vez mais preocupados com as mudanças climáticas.
Mas a confiança está desgastada: durante a pandemia de coronavírus, os países pobres do sul viram as somas vertiginosas que os países industrializados injetaram em suas economias. E ficam ainda mais indignados ao notar como o norte rico é avarento quando se trata de liberar o dinheiro que há muito foi prometido para a adaptação às mudanças climáticas, para construção de diques, por exemplo.
Adeus ao carvão
E mesmo que a despedida dos combustíveis fósseis seja agora uma exigência da conferência do clima, um olhar sobre a realidade de países como a China e a África do Sul, ou mesmo Polônia e Alemanha, mostra o quão poderoso o lobby do carvão ainda é. A China agora promete se tornar climaticamente neutra até 2060. A julgar pelos alertas dos especialistas, isso é ridículo.
Mas simplesmente não está à vista uma alternativa real aos encontros anuais, árduos e estressantes, sobre o clima. Este é o único lugar onde todos os países da ONU conversam entre si. O mote comum que todos procuram talvez pudesse ser: a luta contra os gases de efeito estufa deve se tornar, no maior número possível de países, uma prioridade semelhante às preocupações com o progresso econômico.
Crescimento e sustentabilidade não são mais duas coisas opostas, basta querer. E agir: por exemplo, ao dizer adeus aos combustíveis fósseis. E rapidamente. Pelo menos nisso a conferência em Glasgow conseguiu avançar.
Também na Alemanha existe agora uma pressão crescente para antecipar o fim da geração de energia com carvão, que é planejado pelo atual governo para ocorrer até 2038. Qualquer outra coisa agora seria uma violação das promessas de Glasgow. E os países pobres não jogarão o jogo das conferências anuais por muito mais tempo se não receberem sensivelmente mais dinheiro. Portanto, se é para dizer se depois de Glasgow o copo está meio cheio ou meio vazio no que se refere à proteção climática internacional, eu diria: meio cheio.
--
O jornalista Jens Thurau trabalha na sucursal da DW em Berlim. O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.