Opinião: Eleições sob o signo da insegurança na Alemanha
14 de janeiro de 2017Comecemos por aqueles que aguardam o dia das eleições legislativas com alegre expectativa: os liberal-democratas. No momento, eles são os únicos realmente relaxados: literalmente não têm nada a perder, pois estão no fundo do poço.
Há quatro anos o Partido Liberal Democrático (FDP) espera do lado de fora do Parlamento alemão (Bundestag). Ainda assim, um de seus membros chama atenção pública: o líder Christian Lindner. Tendo apenas completado 38 anos, ele está reinventando o FDP.
Longe vão os tempos em que o partido fazia estardalhaço, estridente e barulhento: em vez disso, hoje os liberais se mostram humildes, moderados, tranquilos e objetivos. Assim, talvez eles consigam o mínimo de 5% dos votos, para entrar novamente no Bundestag. Sobretudo por terem criticado desde o início o afluxo descontrolado de refugiados ao país.
Totalmente diversa é a posição inicial da chefe de governo Angela Merkel e sua União Democrata Cristã (CDU). O bônus de simpatia da premiê está esgotado, seu slogan relativo para a crise migratória "Vamos conseguir" está desacreditado.
Sozinha, a chanceler federal não sobreviverá politicamente à data eleitoral em setembro. Ela precisa da CDU, a legenda que durante dez anos foi mera figuração para ela. No lugar do breve período da "cultura das boas-vindas" – que os românticos transfiguraram em estranha beleza da política – há muito despontou a era da segurança interna.
Muitas certezas da época pré-refugiados se esvaneceram: a confiança na função protetora do Estado, a crença na União Europeia deram lugar a medo e terrorismo. Os políticos "lei e ordem" estão novamente em alta. E isso num momento em que o populismo floresce loucamente.
A populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) engorda a cada semana nas pesquisas de opinião, sem precisar fazer praticamente nada. A questão decisiva será: quanto a CDU de Merkel perderá para esse novo partido dos cidadãos irados e suas fórmulas simplistas?
Ainda assim, a chanceler federal, estabelecida há mais de 11 anos, tem boas chances de vencer as eleições gerais – politicamente "depenada" e tendo passado por um susto, porém confirmada. Isso, por ela ser vista como um símbolo de estabilidade – algo a que os alemães dão grande valor, para além das convicções partidárias.
Seria cogitável um quarto mandato para Merkel em coalizão com o Partido Social-Democrata (SPD), mais uma vez numa assim chamada grande coalizão. Não é uma alternativa muito apreciada, porém, do ponto de vista numérico, a mais provável. A menos que o SPD se marginalize ainda mais. A rigor, ele pode querer se ver como partido popular, mas atualmente não o é por definição, só contando com a preferência de uns 20% do eleitorado, tendência descendente.
Pior ainda: seu candidato principal – que ainda não foi indicado, mas que com grande certeza será seu líder e vice-chanceler federal Sigmar Gabriel – está longe de ser um favorito. Até mesmo social-democratas engajados se mostram ressabiados com esse correligionário imprevisível e desastrado. Reconhecido como profissional da política, Gabriel peca pela falta de pontos de simpatia.
Por que alguém deveria votar no SPD, se mesmo entre os membros da legenda apenas 75% apoiam seu próprio presidente? Do ponto de vista temático, as perspectivas tampouco parecem boas para o partido, já que a segurança interna, que será o foco absoluto do pleito de setembro, nunca contou entre as principais áreas de competência dos social-democratas.
Também o Partido Verde e o Esquerda têm outras competências que não dizem respeito à segurança. Em tempos de terrorismo, populismo e de crise da UE, muitas mensagens políticas simplesmente caem para segundo plano. Discutir se a salsicha vegana pode ser chamada de salsicha, é folclore político alienado, num momento em que o Estado sofre de perda de controle.
As eleições gerais alemãs de 2017 se desenrolarão diante de um pano de fundo totalmente inédito. E que será mais duro do que nunca – mais ainda se o terror voltar a atacar em plena Alemanha.