Já era de se esperar: durante o longo verão, os alemães se entregaram a uma segurança enganosa, achando que a pandemia não se tornaria tão violenta como nos outros países. As restrições impostas na primavera europeia foram administráveis para a maioria das pessoas, com exceção dos incontáveis profissionais da área de cultura, pequenos trabalhadores autônomos e donos de bares, que foram duramente atingidos. Agora, um grande número deles realmente tem que temer por sua subsistência.
Mas o público em geral acatou as medidas. Nos hospitais e centros de saúde, os funcionários conseguiram, com um esforço ímpar, criar a sensação de que o pior já passou. Um erro. O número de infecções atualmente está aumentando rapidamente e agora os governos federal e estaduais puxaram o freio de mão. Por um mês, teremos de ficar em casa aguardando a situação melhorar, como já fizemos na primavera.
É inútil procurar um culpado: esta é a diferença em relação à primeira fase das restrições, em março e abril: ninguém sabe ao certo por que é assim - mas as infecções estão aumentando desenfreadamente. Seriam culpadas as famigeradas festas particulares? Ou os jovens que comemoraram às centenas nos parques? Foi certo proibir estadias em hotéis para viajantes de áreas com infecções elevadas, como alguns estados impuseram precipitadamente, mas que foi rapidamente revogado pelos tribunais?
Há estudos segundo os quais viagens não contribuem quase nada para o aumento de infecções. Mas alguns governadores tentaram proibi-las mesmo assim. Isso já mostrou o pânico absoluto em relação ao desconhecido atingindo os alemães. O número absoluto de infecções na Alemanha ainda é menor do que em muitos outros países, mesmo os europeus. Mas a confiança de que os políticos tratariam a situação com calma e prudência, como fizeram na primavera, por ora desapareceu. Os hotéis têm que aceitar que em novembro o turismo privado está proibido. Mas quem ainda quer viajar se em lugar nenhum os restaurantes estarão abertos?
Pois agora também bares e restaurantes terão de voltar a fechar. O mesmo vale para salas de concerto e óperas, grandes eventos estão sendo cancelados, e os contatos privados deverão ser reduzidos ao mínimo. Ao menos foi reconhecido um erro em relação às restrições da primavera: escolas e creches poderão permanecer abertas na medida do possível. E o fato de o governo já reconhecer quão forte o que está por vir afetará a economia é demonstrado pelo plano de compensar as empresas que precisam fechar agora com até 75% do faturamento perdido. Isso pode custar até 10 bilhões de euros, mas é um dinheiro bem investido.
Novembro será frio e sombrio. Talvez ainda mais do que na primavera, agora é necessária a melhor virtude democrática: o espírito comunitário. Fique atento aos fracos, não se deixe enganar pelos negacionistas do coronavírus, que agora irão levar seus selvagens pensamentos de conspiração a novas alturas. Também os alemães não estão sendo atormentados por Angela Merkel nem por Bill Gates ou outros líderes de um governo mundial maligno, mas por um vírus cuja periculosidade é comprovada a cada dia.
Temos de confiar que um novembro tranquilo consiga trazer uma mudança para melhor. Mas ninguém pode prometer isso com certeza. A situação é essa, não temos outra escolha.
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Jens Thurau é jornalista da DW. O texto acima reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.