O mundo esfrega os olhos. E acima de tudo os antigos aliados aplaudem o novo presidente dos Estados Unidos. Em seus primeiros 100 dias no cargo, o político de 78 anos demonstrou uma energia com a qual muitos jovens só podem sonhar. Está aí alguém que assumiu o governo com uma agenda clara, que avança corajosamente e não espera, simplesmente faz.
O presidente dos Estados Unidos possui instrumentos que não estão à disposição da chanceler federal alemã, por exemplo. Nas chamadas ordens executivas, decretos presidenciais, ele pode decidir muitas coisas de forma totalmente independente no Congresso. Como, por exemplo, voltar a aderir ao Acordo Climático de Paris. O que também fez logo no primeiro dia no cargo.
Decisões sem sustentabilidade
Biden já assinou pelo menos 40 desses decretos. E isso, claro, dá uma boa aparência à checklist de tarefas. O problema com esse estilo de governo, entretanto, é que qualquer sucessor pode anular esses decretos com uma canetada. Por não serem leis ordinárias, para as quais até um presidente precisa de maiorias políticas para implementá-las – ou para aboli-las.
E aqui chegamos ao problema central desta presidência: Joe Biden tem apenas uma maioria mínima em ambas as casas do Congresso. Para projetos legislativos mais fundamentais, ele precisa do apoio do campo oposto, ao qual não pode fazer grandes concessões sob ameaça de irritar a ala mais à esquerda de seu próprio partido.
Tudo isso tem que ser levado em consideração ao se aplaudirem os planos propalados por Biden. Sim, seu plano de infraestrutura daria aos Estados Unidos um imenso impulso em modernização e inovação, que poderia deixar a Europa comendo poeira. Mas ele conseguirá organizar as maiorias necessárias para isso? Especialmente com seu conceito de financiamento, que depende de aumentos significativos de impostos para os super-ricos?
Entre vontade política global e capacidade política doméstica
E sim, seu claro compromisso com o combate à catástrofe climática pode não apenas ter efeitos muito reais nos Estados Unidos, mas também ser um importante impulso global. Mas quais serão as consequências reais disso? Aqui, também, uma distinção precisa deve ser feita entre a vontade política global e as opções reais de política interna.
Em pouco menos de um ano e meio, as eleições de meio de mandato ocorrerão nos Estados Unidos. Em 8 de novembro de 2022, será decidido se Biden perderá sua maioria no Senado. Biden se sai melhor nas pesquisas hoje do que seu antecessor após seus primeiros 100 dias no cargo. Mas nada mudou na profunda divisão do país.
Portanto, a comunidade internacional não deve se iludir: Joe Biden, na verdade, já se encontra novamente em campanha eleitoral. É nela que ele tem que marcar pontos para ter a mínima chance de obter uma nova vitória para seus democratas na próxima eleição.
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Ines Pohl foi editora-chefe da DW e atualmente é correspondente em Washington. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.