"La toma (a tomada) de Caracas" soa como uma batalha decisiva. Talvez não tenha sido muito boa ideia a oposição escolher um nome tão agressivo para sua manifestação de massa agendada para 1º de setembro. Seja como for, a facção no poder aceitou o desafio.
Nicolás Maduro parece determinado a tornar este dia um verdadeiro dia da decisão – e por meio de força. O homem, cujo título de presidente não é mais apropriado, anunciou agora suas intenções abertamente, sem qualquer tentativa de maquiagem pseudo-democrática.
Desde sua esmagadora vitória eleitoral de dezembro, a oposição tem sido obstruída e criminalizada. Mas são sem precedentes os acontecimentos anteriores à manifestação destinada a acelerar o referendo revogatório contra Maduro.
Milhares de funcionários públicos que haviam votado contra ele na primeira fase do referendo foram demitidos de seus cargos. Liberdade de opinião? Não na Venezuela do bando encabeçado por Maduro. O direito constitucional consagrado a um referendo é negado, o sigilo de voto violado e a própria votação, arrastada e adiada. Estado de Direito? Não nesta Venezuela. O governo anunciou que impedirá a chegada dos manifestantes a Caracas. Liberdade de reunião em público? Não com Maduro.
Já não é preciso nenhuma passeata para mostrar que esse homem desonrou seu orgulhoso título e o seu cargo. Ele e seu grupo pisoteiam a Constituição. Uma Constituição que visava uma participação mais democrática e mais direitos para os venezuelanos; uma Constituição pela qual o carismático antecessor de Maduro, Hugo Chávez, batalhou com sua revolução bolivariana. Os detentores do poder de hoje perderam também o direito de ser chamados de chavistas.
Os últimos dias antes do protesto foram usados pelo regime para instilar medo e minar a coragem do povo de ir às ruas. Vários oposicionistas foram presos e acusados de planos de golpe. Haverá mortos e feridos na manifestação, anunciou Maduro – naturalmente vítimas dos "golpistas armados" da oposição "fascista", que se disfarçariam de membros da Guarda Nacional e matariam seus próprios aliados, para em seguida culpar o governo.
Nem mesmo num filme ruim se esperaria uma tática tão pérfida e, ao mesmo tempo, tão transparente para encobrir o emprego de violência contra os manifestantes. O regime, aliás, faz de tudo para impedir a cobertura jornalística dos eventos: os primeiros repórteres internacionais já foram mandados de volta na fronteira venezuelana.
Mas o fato de a ditadura mostrar sua careta tão abertamente também é um sinal de fraqueza. Maduro deixou cair a máscara, e o mundo está vendo um homem que tem o pânico escrito no rosto; um homem que lançou seu país no abismo econômico e agora tem medo do próprio povo. Esse homem está encurralado, e por isso se debate.
Não há nada mais poderoso do que uma manifestação pacífica. Se os venezuelanos não se deixarem intimidar e mantiverem a sobriedade, se conseguirem superar as divisões entre as várias facções políticas, inclusive dentro da oposição, ficará demonstrado quão solitário está esse homem, no topo da ditadura.