Opinião: É hora de tomar uma atitude em relação ao clima
Mais uma vez tem início o grande bazar global em torno das metas de proteção climática. O objetivo é chegar, finalmente, a um acordo climático vinculativo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e evitar que a temperatura média do planeta suba mais de 2°C até o fim do século. Dessa forma, cientistas esperam que as piores consequências das mudanças climáticas possam ser, em certa medida, evitadas.
A última tentativa de se aproximar desse intento fracassou catastroficamente na capital dinamarquesa, Copenhague, em 2009. Com exceção de algumas tentativas tímidas, desde então, reina o marasmo.
O ano de 2015 foi o mais quente desde o início dos registros meteorológicos e, ao mesmo tempo, o ápice do período de cinco anos [2011-2015] com as temperaturas mais elevadas já registradas na história. Cientistas registraram chuvas desastrosas na China e América do Sul, por exemplo; furacões ocasionaram prejuízos recordes, por exemplo, nas Filipinas. E as ilhas do Pacífico que correm risco de afundar dão, desesperadamente, sinais de alerta.
Só ignorantes absolutos, que enfiam a cabeça na areia para não ver absolutamente nenhum perigo, ainda negam que o futuro de todos nós está ameaçado pelos efeitos das mudanças climáticas. Infelizmente, o Partido Republicano nos EUA está entre eles. Mesmo assim, atualmente o presidente Barack Obama vê um acordo climático bem-sucedido como parte de seu legado político. Até mesmo a China, que ocupa agora o posto de maior poluidor do mundo, está disposta agora a pelo menos anunciar a redução de suas emissões de dióxido de carbono.
No total, mais de 170 países apresentaram declarações de compromisso até o início da conferência em Paris. Mas isso não é motivo para otimismo: mesmo que todas as promessas sejam cumpridas, isso significa ainda uma elevação do aquecimento global em quase 3°C. Um número demasiadamente elevado, dizem os cientistas.
Também o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, já afirmou que esses anúncios [de redução de emissões] não são suficientes. Assim, apesar de alguns bons prenúncios, a largada para a rodada de negociações já sofre um revés inicial. E o fato de a soma dos esforços não corresponder ao resultado desejado é só parte do problema. Um pacto vinculativo internacional pode ser bloqueado por um Congresso dominado por republicanos em Washington. Esse é um grande obstáculo.
Além disso, muitas outras posições estão em aberto: por exemplo, como o grande país emergente Índia vai se comportar ou se os países em desenvolvimento vão receber dinheiro suficiente dos países industrializados para compensar seus esforços. E muito mais.
O sucesso desta Conferência do Clima depende de inúmeros detalhes, da boa vontade de todos os envolvidos e também de que os anfitriões franceses consigam o milagre de se chegar a um acordo. De qualquer forma, eles realizaram o trabalho preliminar. No entanto, se no último minuto um país como a Polônia, após a recente mudança de governo, assumir uma potencial posição de bloqueio, isso é de morrer de raiva.
Em Paris, não há mais lugar para egoísmos nacionalistas, o que está em jogo é o futuro da humanidade e não as minas de carvão da Polônia. E esse é só um exemplo típico de uma longa lista de sensibilidades individuais e pedidos especiais que podem vir a impedir o sucesso das negociações.
Todas as metáforas com tique-taque de relógios, em que os ponteiros do Apocalipse marcam cinco minutos para meia-noite, já não funcionam mais. Esta Conferência do Clima deve, finalmente, proporcionar um salto quântico político em relação às mudanças climáticas. Pois, desde o primeiro tratado em Kyoto, já perdemos quase 20 anos. Com um desespero cada vez maior, espera-se agora chamar a atenção dos chefes de governo em Paris: nenhuma guerra, nenhum problema econômico, nenhuma crise migratória, nenhum outro tema é tão importante quanto este – caramba, façam alguma coisa!