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Organizações internacionais alertam para catástrofe humanitária na Síria

3 de março de 2012

ONU, Human Rights Watch e Cruz Vermelha protestam contra bloqueio do regime Assad à ajuda humanitária internacional. Em Homs, bastião rebelde, população vive entre escombros e enfrenta falta de água, luz e alimentos.

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Imagem de satélite mostra destruição em Baba AmrFoto: REUTERS

Diante da brutalidade das tropas governistas sírias, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, exortou o regime do país a liberar imediatamente a entrada da vice-secretária-geral para Assuntos Humanitários da ONU, Valerie Amos. Repórteres que conseguiram fugir de Homs relatam massacres indiscriminados na cidade.

“A situação humanitária no país, devastado por intensos combates há quase um ano, não permite mais adiamentos”, sublinhou Ban diante da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. "As imagens que temos da Síria são horríveis. Isto é absolutamente inaceitável", completou, questionando: "Como podemos tolerar esta situação, enquanto seres humanos?".

A britânica Valerie Amos, uma das mais altas representantes da ONU, esteve durante dias na região, esperando a permissão para entrar na Síria. Apesar da solicitação oficial de Ban, o regime recusou a deixá-la visitar o país, alegando que nenhum representante do governo tinha espaço em sua agenda, e obrigando Amos a voltar a Nova York.

Kämpfe in Syrien Februar 2012
Prédio em Baba Amr: população vive entre escombrosFoto: AP

Pelo menos 700 mortos em Homs

Milhares de pessoas esperam por envio de água, medicamentos e alimentos na cidade de Homs, bastião da revolta contra o presidente sírio Bashar al Assad. O distrito de Baba Amr, que era controlado por forças rebeldes, foi retomado na última quinta-feira (01/03) pelas tropas do governo, após várias semanas de cerco. Desde então, há diversos relatos de execuções sumárias, prisões arbitrárias e tortura na região.

O presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Jakob Kellenberger, classificou como "inaceitável" a ajuda não poder chegar aos necessitados. Desde a sexta-feira, um comboio de assistência do CICV composto por sete caminhões tenta entrar em Baba Amr, sendo impedido pelas forças do governo. Enquanto isso, as tropas de Assad voltaram a bombardear outros bairros de Homs.

Os 27 dias consecutivos de bombardeamentos em Homs fizeram pelo menos 700 mortos e milhares de feridos, segundo afirmou neste sábado a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW). A entidade apelou ao Conselho de Segurança da ONU para que adote uma resolução exigindo do regime "o fim do bombardeamento indiscriminado de cidades" e autorização para "a entrega de ajuda humanitária e para a passagem segura de civis e de feridos".

Destruição via satélite

Baseada em testemunhos de jornalistas e de residentes que fugiram da cidade, a HRW afirma que os bombardeamentos sobre o bairro de Baba Amr começam todos os dias por volta de 06h30 e se prolongam até o pôr do sol. Entre as munições usadas, segundo a organização, figuram projéteis de fabricação russa de 240 mm, projetados para "demolir fortificações".

Há vários dias a Cruz Vermelha realiza negociações com o regime para entrar em Homs, mas até ao momento não obteve autorização. Segundo a HRW, as condições são cada vez mais difíceis para os civis e especialmente os feridos. A região não tem eletricidade nem água há duas semanas. Um médico informou a organização que muitos feridos morreram devido à falta de cuidados médicos adequados.

Kämpfe in Homs Syrien
Bombardeio em Homs: governo usa munição pesadaFoto: AP

Segundo um voluntário também citado pela HRW, é cada vez mais difícil levar feridos para os hospitais, porque "a cada vez que tentam retirá-los, dois ou três [voluntários] são feridos ou mortos". A ONG informou, ainda, que imagens de satélite permitem ver pelo menos 640 edifícios atingidos, mas que a realidade no local pode ser pior. As mesmas imagens mostram cerca de 950 crateras em áreas abertas.

Diplomatas recebem corpos de jornalistas ocidentais

Os corpos de Marie Colvin e Remi Ochlik, jornalistas ocidentais mortos dia 22 de fevereiro durante um bombardeio das forças governamentais em Baba Amr, foram entregues neste sábado a diplomatas. Funcionários do Crescente Vermelho sírio acompanharam os caixões a partir do Hospital Assad, em Damasco, de onde foram levados em uma ambulância.

O embaixador francês Eric Chevallier recebeu os restos mortais do fotógrafo francês Ochlik. O corpo da jornalista norte-americana Marie Colvin foi entregue a funcionários da embaixada polonesa, que representa os interesses dos EUA na Síria, após Washington ter fechado sua embaixada no país.

Na província de Hama, também um reduto da oposição, tropas do governo teriam invadido vários povoados, de acordo com os ativistas, prendendo mais de 50 pessoas. Perto da fronteira turca, também estão ocorrendo intensos combates entre rebeldes e as forças do governo. Segundo informações do ativista da oposição Mohammed Abdullah, soldados vasculharam várias áreas na província de Idlib, procurando supostos desertores, tendo executado 44 deles. Desde o início do levante contra Assad, há um ano, mais de 7,5 mil pessoas foram mortas, segundo estimativas da ONU.

Überführung Leichnam Remi Ochlik Journalist
Entrega de caixão do jornalista francês Remi OchlikFoto: AP

MD/dpa/lusa/afp/rtr
Revisão: Augusto Valente