Tropas sírias tomam bairro rebelde em Homs
1 de março de 2012Rebeldes sírios afirmam que fizeram um "recuo tático" do bairro de Baba Amr, em Homs, severamente castigado por baterias de artilharia do Exército sírio. O fato é que as forças do governo assumiram o controle nesta quinta-feira (1°/03) sobre o antigo reduto da oposição.
"O Exército sírio controla totalmente Baba Amr. Os últimos bolsões de resistência caíram", disse um oficial de segurança em Damasco à agência de notícias AFP, após 26 dias de cerco e combates.
Após semanas de intensos combates com tropas do governo, os rebeldes se retiraram do distrito de Baba Amr, em Homs. Ativistas em contato com as tropas oposicionistas afirmaram nesta quinta-feira que poucos rebeldes permaneceram em Baba Amr, para assegurar a “retirada tática” de seus companheiros da região.
As forças do governo cercaram Baba Amr por 26 dias, mantendo o lugar sob fogo de artilharia pesada, conforme relatos da oposição. A situação da população civil sitiada vinha piorando. As pessoas sofrem com falta de água, alimentos, combustível e eletricidade, segundo ativistas. Eles apelaram para que as agências de ajuda humanitária ajudem os cerca de 4 mil moradores que estão presos em suas casas.
Ao menos 17 mortos, segundo oposição
Um oposicionista informou que os soldados do governo entraram em Baba Amr após a retirada da maioria dos opositores e perseguiram os combatentes rebeldes restantes. Pelo menos 17 rebeldes teriam sido mortos. Relatos de Homs são difíceis de verificar, devido às severas restrições à imprensa impostas pelo governo sírio.
O cerco de Baba Amr esteve entre os mais sangrentos desde o início da insurreição.
Rebeldes dominaram a área por vários meses, mas no início de fevereiro forças do regime cercaram o bairro e o mantiveram sob artilharia pesada, destruindo edifícios e matando centenas de pessoas. Muitos dos feridos ficaram sem acesso a médicos, obrigando os moradores a criarem clínicas improvisadas para multidões de vítimas ensanguentadas.
Oposição cria conselho militar
A oposição síria anunciou a criação de um conselho militar. "Agiremos como um ministério da Defesa", disse o chefe do Conselho Nacional Sírio, Burhan Ghaliun, numa entrevista coletiva em Paris. Todas as forças oposicionistas na Síria concordaram com a fundação do conselho, incumbido também da organização de armas para os rebeldes enviadas do exterior. “O movimento pela democracia se comportou pacificamente por meses, mas se viu obrigado a fundar um conselho militar devido às ações brutais do governo”, disse Ghaliun.
O Conselho Nacional, uma coalizão de oposição, tem sido criticado por alguns sírios, porque não apoia abertamente a luta contra Assad. Os rebeldes se organizaram de forma frouxa sob a égide do Exército Sírio Livre, constituído por desertores e civis armados.
Resolução condena violência do governo
Também nesta quinta-feira, o Conselho de Direitos Humanos da ONU, sediado em Genebra, aprovou uma resolução condenando o regime de Bashar al-Assad. O documento condena "energicamente as violações contínuas, generalizadas e sistemáticas dos direitos humanos e das liberdades fundamentais pelas autoridades sírias" e apela para o fim imediato dessas violações e de toda a violência, além de apelar para que Damasco autorize um "acesso sem entraves" às agências humanitárias.
A resolução foi adotada com 37 votos a favor, de um total de 47 Estados-membros do Conselho. Somente três países votaram contra: Rússia, China e Cuba. Três membros se abstiveram e quatro não votaram. A resolução foi proposta no início da semana pelo Catar e pela Turquia. O texto foi depois assinado por 60 países, alguns dos quais não membros do Conselho.
A resolução apela ao regime de Bashar al-Assad para que "autorize o acesso livre e sem entraves da ONU e das agência humanitárias para uma avaliação completa das necessidades em Homs e em outras regiões" e para "a entrega de artigos de primeira necessidade" aos civis, "especialmente em Homs, Deraa, Zabadani e outras regiões cercadas pelas forças de segurança".
Sem peso legal
O texto faz alusão à "necessidade de uma resposta urgente às necessidades humanitárias" da população". A condenação não tem peso legal, mas diplomatas a consideram um sinal moral forte, que pode encorajar uma resolução similar no Conselho de Segurança da ONU, grêmio com mais poderes. A ONU estima que mais de 7,5 mil pessoas foram mortas desde o início dos protestos contra Assad, em março de 2011.
"O sinal vindo de Genebra é claro. Quem desrespeita os direitos humanos e civis deve ser julgado perante a comunidade internacional", disse o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle. A embaixadora dos EUA para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, Eileen Chamberlain Donahoe, vê Síria e seus aliados Rússia, China e Cuba, como "isolados".
O novo enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, pretende viajar o mais rapidamente possível a Damasco, para pedir claramente o fim da violência. “Tem que ser encontrada uma solução pacífica para o conflito”, disse Annan após uma reunião com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Annan mantém conversações no Cairo durante o fim de semana e espera poder viajar para Damasco "em breve", após escalas em outras capitais da região.
Reino Unido fecha embaixada
Num sinal claro da piora na situação no país, o ministro britânico do Exterior, William Hague, anunciou que o Reino Unido fechou a sua embaixada na Síria e retirou todo o pessoal, devido à deterioração das condições de segurança locais. "Julgamos que a deterioração das condições de segurança em Damasco põe a embaixada e o pessoal em risco", disse William Hague.
O Reino Unido tinha já reduzido o pessoal na missão diplomática em Damasco, onde trabalhavam até quarta-feira menos de 10 pessoas.
Os Estados Unidos fecharam a embaixada na capital da Síria a 6 de fevereiro e os serviços consulares aos cidadãos norte-americanos são agora prestados pela embaixada da Polônia.
MD/lusa/rtr/ap/afp
Revisão: Carlos Albuquerque