Concerto pela Palestina
26 de março de 2008Uma orquestra formada por israelenses e árabes executará o primeiro ato de uma ópera de Wagner num palco construído pelo governo de Hitler. A verba obtida com a apresentação se destinará à construção de uma sala de espetáculos em Ramallah, na Palestina.
A inusitada combinação foi anunciada pelo maestro Daniel Barenboim, conhecido pelo seu engajamento em favor da paz entre israelenses e árabes e pelo seu gosto pela polêmica. Em 2001, ele causou controvérsia ao executar um trecho de Tristão e Isolda, de Richard Wagner, em Jerusalém, quebrando assim os tabus contra a obra do compositor declaradamente anti-semita.
Teatro da época nazista
O concerto do próximo dia 23 de agosto em Berlim ocorrerá na Waldbühne, um palco ao ar livre construído pelos nazistas para os Jogos Olímpicos de 1936, e será executado pela orquestra West-East Divan, que conta com jovens músicos árabes e israelenses.
A orquestra foi fundada em 1999 por Barenboim e pelo intelectual norte-americano Edward Said, já falecido. Além do primeiro ato de A Valquíria, o programa inclui o Concerto para três pianos de Mozart.
Sem objetivos políticos
Para Barenboim, uma nova sala de espetáculos seria muito importante para melhorar a vida das pessoas que vivem em Ramallah. "Negociações políticas são importantes, mas a vida diária é muito mais", afirmou.
Ele acentua que sua orquestra não possui objetivos políticos. "Apenas dizemos que não acreditamos numa solução militar para o conflito na Palestina. As pessoas devem aprender a conviver", opinou o maestro.
No início do ano, Barenboim recebeu a cidadania honorária palestina. Ele aceitou a distinção afirmando que ela "simboliza a eterna ligação entre os povos israelense e palestino". O maestro nasceu na Argentina em 1942, é filho de judeus russos e possui a cidadania israelense.