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Os recados de Lula em sua primeira reunião ministerial

6 de janeiro de 2023

Em encontro com seus 37 ministros no Planalto, presidente defende importância de uma boa relação com o Congresso e prega respeito à Constituição. Quem fizer algo errado será convidado a deixar o governo, diz Lula.

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O presidente do Brasil, Luiz Inacio Lula da Silva, está no fundo da imagem, atrás de uma grande mesa, cercado por todos os 37 ministros, juntos para a primeira reunião ministerial do novo governo brasileiro.
Lula disse que qualquer ministro que cometer ato grave, além de demitido, terá que se colocar diante das investigações e da JustiçaFoto: Evaristo Sa/AFP/Getty Images

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou nesta sexta-feira (06/01) a primeira reunião com seus ministros de Estado. O encontro, que começou de manhã e se estendeu pela tarde, buscou alinhar as ações do governo e discutir as primeiras medidas a serem adotadas no início da gestão.

Na reunião ministerial, ele disse que a administração petista tem uma tarefa árdua, mas também nobre pela frente, com o objetivo de "entregar este país melhor".

Além disso, Lula enfatizou que qualquer ministro que cometer ato ilícito será demitido. Também defendeu uma boa relação com o Congresso e pregou respeito às leis, à Constituição e ao meio ambiente.

Em seguida, em tom de lealdade, o presidente disse que apoiará cada um dos ministros "nos momentos bons e nos momentos ruins", sem deixar "nenhum de vocês no meio da estrada".

"Vocês foram chamados [para os cargos ministeriais] porque têm competência. Vocês foram chamados porque foram indicados pelas organizações políticas que vocês pertencem, e eu respeito muito isso", disse.

Ao mesmo tempo, o presidente foi incisivo ao indicar que quem cometer qualquer ato ilegal será imediatamente convidado a se retirar do governo.

"Quem fizer [algo] errado sabe que tem só um jeito: a pessoa será, simplesmente, da forma mais educada possível, convidada a deixar o governo. E, se cometeu algo grave, a pessoa terá que se colocar diante das investigações e da própria Justiça", afirmou.

A declaração foi proferida logo no início da reunião e destaca-se porque, já neste começo de mandato, há um desgaste político provocado pela ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), deputada federal mais votada do Rio de Janeiro em 2022.

Até o momento, Daniela tem sido defendida pelo governo, em meio a informações de que ela teria ligação política com pelo menos três suspeitos de comandar milícias no Rio.

Ela foi nomeada ministra para contemplar o União Brasil na Esplanada e também para aumentar a presença feminina entre as pastas, bem como por seu empenho na campanha de Lula no segundo turno.

Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo publicada em outubro, a campanha de Daniela Carneiro teria sido caracterizada por apoio ilegal de oficiais da Polícia Militar, além de hostilidades contra adversários políticos. A cidade de Belford Roxo, no Rio, é governada pelo marido da ministra, Waguinho, também do União Brasil.

Leis e meio ambiente em pauta

Em outro momento da reunião, Lula destacou a sua posse no dia 1º de janeiro como um momento que prova ser possível fazer "esse país voltar a sorrir", dizendo também que "é preciso acabar com as brigas familiares", em referência à polarização política que vive o Brasil.

Ao abordar a relação entre o PT e o agronegócio, um tema bastante delicado, Lula citou o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. O presidente disse que "empresários de verdade" desse setor sabem que podem produzir sem destruir a Amazônia ou qualquer outro bioma. E que esses empresários são respeitados pelo governo.

"Aqueles que quiserem teimar e continuar desrespeitando a lei, invadindo o que não pode ser invadido, usando agrotóxico que não pode ser usado, [...] a força da lei imperará sobre eles, e nós vamos exigir que a lei seja cumprida. Porque neste país tudo vale, a única coisa que não vale é o cidadão bandido achar que pode desrespeitar a boa vontade da sociedade brasileira, a nossa Constituição e a nossa legislação", afirmou Lula.

O presidente também destacou que a "reconstrução" do Brasil passa principalmente pela educação e pela saúde. Por isso, citou obras inacabadas nessas áreas, além de ter prometido uma "revolução cultural" no país.

O vice-presidente, Geraldo Alckmin, também discursou. E usou a palavra sobretudo para criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro, dizendo que em quase cinco décadas de política, nunca havia visto um servidor público fazer tanto uso da máquina pública para tentar se reeleger.

Relação com o Congresso

Além dos 37 ministros, participaram da reunião os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT), no Senado, Jacques Wagner (PT), e no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede).

Lula reforçou que um bom relacionamento com o Legislativo é fundamental para o Executivo. E que, devido a isso, não faz sentido ter ministérios compostos por técnicos respeitados, mas que não conseguem votos no Congresso.

"É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda. Nós não mandamos no Congresso. Nós dependemos do Congresso e, por isso, cada ministro tem que ter a paciência e a grandeza de atender bem cada deputado, cada deputada, cada senador, cada senadora [que o procurar]", afirmou.

Em seguida, citou os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Lula disse, por exemplo, que questões ideológicas devem ser deixadas de lado quando o assunto for de interesse do povo brasileiro.

"[...] Não é o Lira que precisa de mim, é o governo que precisa da boa vontade da presidência da Câmara. Não é o Pacheco que precisa de mim, é o governo que precisa de um bom relacionamento com o Senado. E assim nós vamos governar nesses quatro anos", reforçou.

gb (ots)