Oscar 2020: muito branco, muito masculino?
7 de fevereiro de 2020É uma tradição consagrada pelo tempo: pouco antes da entrega do Oscar, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood convida os indicados para um almoço. Logo após o encontro deste ano, a entidade publicou uma foto em grupo dos convidados no Twitter: a grande maioria deles é branca e masculina. Houve protesto imediato.
Não apenas os usuários do Twitter ficaram irritados com as indicações para o 92º Oscar, mas também a mídia americana, como o jornal New York Times. Em sua página na internet, o título de um artigo dizia: "Muito masculino, muito branco: vamos falar sobre as indicações ao Oscar."
A atriz e cineasta Issa Rae, que anunciou os indicados em 13 de janeiro na televisão americana, disse, de forma bem deliberada, que parabenizava a todos esses homens, depois de ler os nomes dos indicados na categoria de melhor diretor.
Pois, contrariamente às expectativas, nem Greta Gerwig nem outras diretoras apareceram na lista. Só homens: Todd Phillips (Coringa), Martin Scorsese (O irlandês), Sam Mendes (1917), Quentin Tarantino (Era uma vez… em Hollywood) e Bong Joon-ho (Parasita).
Com o sul-coreano Bong Joon-ho, há pelo menos um representante de uma outra etnia – estes, como as mulheres, raramente foram considerados neste ano nas 24 categorias do Oscar. Como consequência, os movimentos de protesto #OscarsSoMale (Oscar muito masculino) e #OscarsSoWhite (Oscar muito branco) se tornam ainda mais estridentes em 2020.
Os números falam por si: se as categorias de atores forem deixadas de fora (neste caso, os gêneros são separados de qualquer maneira), do total de 193 indicados quase 30% são mulheres e 70%, homens.
Um olhar mais atento revela que a proporção de mulheres em quatro categorias é até mesmo inferior a 20%; e em outras quatro, ela chega a zero. Em melhor diretor, melhor mixagem de som, melhor fotografia e melhores efeitos especiais, apenas homens concorrem.
Em apenas três categorias os homens ficam atrás nas indicações: em melhor curta-metragem de animação, melhor documentário em curta-metragem e melhor figurino, há mais mulheres que podem ter esperança por um troféu – mesmo nessas fileiras, no entanto, a proporção de gênero é mais equilibrada do que claramente a favor das mulheres.
Certas categorias em particular permanecem teimosamente dominadas pelos homens. Em toda a história do Oscar, desde a primeira cerimônia de premiação em 1929, o júri indicou apenas cinco mulheres para melhor diretora. A última foi Greta Gerwig, em 2018, com o filme Lady Bird: A hora de voar. Kathryn Bigelow realmente conseguiu levar a estatueta em 2010, com Guerra ao terror.
A categoria de melhor fotografia também esteve firmemente nas mãos de homens. Rachel Morrison foi a primeira e única mulher a ser indicada, há dois anos, com o filme Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi. Em 1997, Rachel Portman se tornou a primeira mulher a ganhar o Oscar de melhor trilha sonora original de comédia ou musical, com Emma. Anne Dudley repetiu a façanha um ano depois, com Ou tudo ou nada.
A violoncelista e compositora islandesa Hildur Guðnadóttir, que escreveu a trilha sonora do grande favorito ao Oscar Coringa, pode ser a terceira mulher a vencer a modalidade neste ano. Ela já conseguiu convencer o júri do Globo de Ouro com seus tristes sons de violoncelo – um recorde histórico para as mulheres.
Quando se trata de nomeações e premiações para os não brancos, a Academia tem sido mais progressista: no ano passado, eles foram mais premiados do que nunca. Já os dois anos anteriores tiveram diversidade maior que 2020.
Em 2017, as estatuetas de melhor ator e melhor atriz coadjuvantes foram para pessoas negras: Mahershala Ali, por Moonlight: Sob a luz do luar, e Viola Davis, por Um limite entre nós. Em 2018, duas negras concorreram a melhor atriz coadjuvante: Octavia Spencer, por A forma da água, e Mary J. Blige, por Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi.
A proporção de mulheres indicadas neste ano, mesmo que os 30% ainda sejam baixos, é a mais alta da história do Oscar. Algo está se movendo em Hollywood – embora lentamente.
Há quatro anos, por exemplo, o júri do Oscar, que agora tem cerca de 8.500 membros, mudou sua formação: para proporcionar mais diversidade, incorporou mais mulheres e pessoas de outras etnias e cresceu 35%. Além disso, no ano passado, metade dos novos membros era de mulheres.
No entanto, o júri que decide sobre os cobiçados troféus continua sendo 68% masculino e 84% branco. Como resultado, os temas masculinos dominam a maioria dos filmes indicados, e apenas homens brancos aparecem nas categorias de atores neste ano.
Portanto, é possível supor que a Academia do Oscar terá que lidar com as acusações de #OscarsSoMale e #OscarsSoWhite novamente neste domingo (09/02), quando soar a frase "and the Oscar goes to...".
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