Pacto na extrema direita é frágil
14 de outubro de 2004Os partidos de extrema direita União Popular Alemã (DVU) e Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD) anunciaram a intenção de se unir nas próximas eleições parlamentares. Após um encontro realizado em Munique, os presidentes de ambos os partidos, Gerhard Frey (DVU) e Udo Voigt (NPD), reiteraram que "seus partidos não vão concorrer um contra ou ao lado do outro às eleições parlamentares, européias e estaduais, mas pretendem compor uma aliança". Uma proposta neste sentido deverá ser apresentada em breve aos diretórios de ambos os partidos.
O fato de os partidos populistas de extrema direita estarem conquistando votos é visto com preocupação por outros países europeus. O NPD conseguiu entrar para a assembléia legislativa na Saxônia e a DVU, em Brandemburgo. Uma "perigosa radicalização", comenta o diário espanhol El País. E o jornal italiano Il Messagero lamenta que a extrema direita seja encarada com naturalidade na Alemanha.
Mais de 10% de direita
Os políticos alemães também estão apreensivos. O secretário do Interior da Baviera, Günther Beckstein, advertiu de uma "frente popular de direita". O instituto de pesquisa Forsa calcula que o potencial de doutrinas de direita atinja 10% a 15% da população. "Isso não significa que essas pessoas votem automaticamente em partidos de extrema direita", ressalta o diretor do instituto Forsa, Manfred Güllner.
Os analistas de partidos políticos advertem para a tendência de radicalização, mas não acreditam que o NPD ou a DVU consigam conquistar os votos necessários para serem representados no parlamento federal alemão.
Sem liderança, sem programa
"Estas tentativas de cooperação já existem há anos", afirma Oskar Niedermayer, professor de Ciências Políticas na Universidade Livre de Berlim. "Antes das últimas eleições européias, o NPD fez uma nova tentativa. Mas os republicanos e a DVU não reagiram." Por enquanto, também só existiria "uma vaga declaração de intenções, mas nada definitivo".
Caso NPD e DVU realmente venham a compor uma aliança, "isso representaria uma novidade quantitativa", afirma Niedermayer. Mesmo assim, ele não acredita no êxito eleitoral de uma aliança de extrema direita. Para Oscar Gabriel, pesquisador de agrupamentos partidários da Universidade de Stuttgart, ainda faltam importantes pressupostos: "Não existe programa de partido. Não existem lideranças convincentes. Não existe nenhuma organização de alcance mais amplo".
Amizade por um fio
Na opinião de Niedermayer, os dois partidos também disporiam de recursos insuficientes para lançar uma campanha eleitoral de alcance nacional. "Além disso, eles têm pouco apoio da mídia, ao contrário do que ocorre em outros países europeus", comenta ele.
O que separa a DVU do NPD, partido considerado bem mais radical, não seriam apenas "diferenças de teor ideológico". Até agora todas as tentativas de aliança fracassaram, porque "os protagonistas não se aturam", diz Niedermayer. E os "republicanos", também de extrema direita, jamais seriam cogitados como parceiros, "pois eles procuram se diferenciar no espectro mais extremista", explica o cientista político de Berlim.
O problema está nos municípios
Para Gabriel, o extremismo de direita representa um problema sobretudo no Leste alemão. Ele considera preocupante o fato de "esta região ser palco de agitações antidemocráticas tão dissimuladas". O NPD intensifica cada vez mais os contatos com grupos militantes de extrema direita. Embora isso seja insuficiente para uma vitória eleitoral nacional, "eles estão conquistando cada vez mais espaço na mídia".
O extremismo de direita é um problema que grassa no âmbito local, mas fora dos partidos de alcance nacional. Esta é a avaliação da Fundação Amadeu Antonio, que subsidia projetos contra o extremismo de direita. A instituição considera frágil o pacto entre NPD e DVU. "Isso surgiu no ímpeto do êxito eleitoral", opina Anetta Kahane, presidente da fundação. "Mas não se pode esquecer o enorme potencial de conflito interno. Além disso, é capaz que os tribunais eleitorais nem aprovem a composição partidária. Caso eles consigam, isso seria uma ameaça."
Dois pequenos juntos deixam de ser menores
Nenhum dos analistas exclui, no entanto, a possibilidade de os partidos de extrema direita conseguirem ingressar no Bundestag. Para 2006, contudo, seria improvável que a dupla tenha êxito eleitoral. "Somando-se 0,5% e 0,7%, chega-se a apenas 1,2%, o que seria insuficiente para os dois partidos."